Quando os valores se invertem e o rancor passa a discriminar o mérito, a democracia morre.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Deu na manchete do Jornal "O Estado de São Paulo":
"Vaga de cotista já é maioria em universidades federais".
Uma vitória social, sem dúvida, não viesse acompanhada de tristes notícias (não publicadas) da instituição da censura nas salas de aula, na criminalização da discordância, na perseguição a professores "conservadores" e alunos "de direita" e, com isso, da perda do significado do que seja "universidade", pluralismo e democracia. Assim é o lado "B" da política do ressentimento social.
Com efeito, o que poderia parecer (e de fato é) uma "vitória" da política das cotas sociais e raciais, atesta, infelizmente, na manipulação do discurso, a perda de massa crítica e de produtividade intelectual das universidades onde esses mecanismos se tornaram hegemônicos.
Essa perda de inteligência, que não ocorre em função do mérito do cotista mas na razão inversa da ampliação da mais tosca militância, desenvolve-se na relação direta do aumento da trágica burocracia acadêmica - capaz de incendiar museus e hospitais, danificar laboratórios, interromper carreiras, assassinar reputações e destruir sonhos...
Aí está, com certeza, uma ponta da intrincada raiz da mediocridade nacional:
Já em 2016, gente que ralava nos estudos e buscava obter acesso ao ensino pelos próprios méritos, já não tinha guarida nas universidades federais.
Os idiotas do bem - que, segundo Pondé, são os "politicamente corretos", autoiludidos detentores do monopólio da salvação da humanidade, transformaram a universidade brasileira num polo de alunos ressentidos e sem mérito.
Não há valor sem mérito, sem competência, e nunca haverá moral, se não houver mérito.
O equívoco é evidente. Uma coisa é garantir lugar a uma parcela de pessoas que, após ingressar por cotas, alcança o mérito. Outra coisa é excluir o mérito, e garantir apenas o ganho pela cota, baseada no ressentimento.
Sempre defendi cotas, como instrumento de superação de barreiras hegemônicas discriminatórias. Porém, quando a hegemonia se inverte e o rancor passa a discriminar o mérito, o mecanismo perde sua finalidade.
Sem mérito, a burocracia insana transformou a universidade em fábrica de rancores sociais. Uma usina de ressentidos atormentados pela ausência de valor - militantes complexados, que irão recalcar o rancor, e sublimarão seu recalque produzindo sectarismo e burocracia.
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uma manchete que entristece, quando deveria significar uma vitória... |
O efeito da "ditadura dos ressentidos" é notório:
a- alunos que se recusam a aprender com professores que não rezam sua cartilha (?);
b- redução da produção acadêmica a "análises" redundantes envoltas numa narrativa de identitária;
c- perda da moral - que se reflete por todo o entendimento da estrutura do Direito e das relações sociais.
d- policiamento dos costumes e opiniões, segregação intelectual e judicialização da vida privada.
Os efeitos dessa alteração de comportamento... refletem-se na implosão do Estado de Direito e na transformação das universidades em "madrassas" - forma muçulmana de doutrinar ao invés de ensinar.
Alguns usam o termo "wokismo" para definir esse fenômeno do ressentimento vitimista-agressivo militante.
O wokismo deriva de uma expressão afroamericana: "stay woke" - fique alerta às injustiças.
o problema é que o wokismo, contaminado pelo marxismo cultural, unido ao "politicamente correto", derivou para o pior tipo de "calvinismo".
Dita Calvino que todos devemos “zelar pela comunidade para que Deus seja devidamente honrado.” E, por óbvio, esse controle da moral só aparentemente se limita à vida religiosa...
Como resultado da conexão completa entre o temporal e o espiritual, na concepção totalitária calvinista, toda vida privada passa a ficar automaticamente sob vigilância do Estado; e é assim que os membros do "consistório" das pastorais e academias, os “aiatolás” de Toga, militantes da vida alheia, ficam incumbidos de fiscalizar a existência de cada um. Afinal, “não apenas palavras, mas também opiniões e ideias devem ser observadas.”
O grande pensador Stephan Zweig já alertava, em relação à polícia de costumes totalitária nos anos 1930: "Não dirá isto nada a quem tenha hoje um olhar livre e atento ao que começa a verificar-se politicamente entre nós?"
Zweig continua: “Essa Gestapo de boas maneiras verifica tudo. Certifica-se de que os vestidos das mulheres não são nem muito compridos nem muito curtos, conta os anéis nos dedos. Na sala de jantar fiscaliza se não se junta um pedaço de carne no único prato permitido ou se não escondem doces nalgum lugar… E a inspeção alarga-se a todos os quartos. Vê se a biblioteca contém algum livro que não tenha o selo da censura consistorial, vasculha as gavetas para ver se alguma imagem sagrada ou um rosário não foi aí.”
Infelizmente, a história se repete como farsa em novas roupagens trágicas... e a mediocridade desponta.
O futuro bate às portas... e nos dirá como a sociedade ficará menor, bem menor... sem mérito, pluralidade e valores, bem como, também destituída de democracia.
Bem vindos à hegemonia dos ressentidos.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API, é Editor - Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.
Caro Fernando
ResponderExcluirSeu texto demonstra um ressentimento imenso.
Ele passa a ideia de que esse ambiente universitário passou a ficar assim recentemente.
Iniciei meu primeiro curso universitário em 1973. E ele já era assim em termos de doutrinação, mesmo sem cotas.
Nos discursos era fácil perceber as influências de esquerda. Se usassem a expressão “classe operária” ou se usassem o termo “campesinato”, percebia-se ambos de esquerda mas de influências distintas.
Sua preocupação era a maior preocupação de Olavo de Carvalho. Apenas que ele dizia que isso era produto de várias décadas de ação. Os influentes na FEA USP em 1973 eram filhos da classe média-alta vindos dos melhores cursos do ensino médio, ou dos melhores cursinhos pré vestibulares.
Não há muito com o que se preocupar, o filtro não está no ambiente universitário. Estava e estará no mercado. Quem ultrapassa esta barreira tem mérito independente da sua origem.
Perfeito
ResponderExcluirPrezado Fernando
ResponderExcluirInfelizmente hoje vivemos em um paiz