O Decreto nº 12.725/2025 em
Perspectiva Histórica e Comparada
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Por
Antonio Fernando Pinheiro Pedro
"A inovação distingue um líder de um seguidor." (Steve Jobs)
Introdução
A publicação do Decreto nº 12.725/2025, que aprova a nova Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), representa um marco na política de defesa brasileira.
Mais do que uma atualização normativa, o decreto
sinaliza uma tentativa de reconstrução da lógica de apoio à defesa nacional,
articulando indústria, ciência e tecnologia em um projeto de soberania.
Mas é notório que se busca com o decreto não apenas
retomar a iniciativa proposta por Lula
em 2003 e o Plano de Defesa de 2008, mas reconectar o Brasil ao contexto de
apoio integral à defesa nacional, algo que foi estabelecido durante o
regime militar, quando a defesa era entendida como parte inseparável do
desenvolvimento.
Algo indica que o governo do PT, ao mesmo tempo em
que hostiliza, tenta resgatar para si um patrimônio forte do período dos
presidentes militares – algo que, independente de qualquer consideração de
ordem subjetiva, e todo o desastre geopolítico provocado pela postura esquerdista do governo, nesse campo técnico e estratégico da estrutura de defesa e soberania, poderá resultar numa postura positiva em favor do Brasil.
Outrossim, ainda que não mencionado no decreto explicitamente,
observa-se a preocupação com o exercício de uma soberania afirmativa,
conceito que prego há décadas e alia segurança nacional e ambiental com
efetividade no controle territorial.
A Base Industrial de Defesa (BID)
e a Neoindustrialização
O elemento central da autonomia estratégica é
a sua base industrial. A BID segue fortalecida por comportar, assim, inovação
aberta e tecnologias duais.
A previsibilidade orçamentária é o mecanismo
indicado para reduzir instabilidade histórica – pois o planejamento inserido na
Política é de Estado – não de governo.
Setores minerais estratégicos, como nióbio, terras raras e
vanádio, são ativos essenciais para transição energética e tecnologias de alto
valor agregado.
Dessa forma a política de defesa adota o conceito
de neoindustrialização, que nada
mais é que um neologismo para reindustrialização, integração avançada de
tecnologias digitais, automação, inteligência artificial e pesquisa, ou seja,
considerar a indústria nacional como vetor de inovação e sustentabilidade, com
efeitos de transbordamento para a Defesa.
Compatibilidade com o Orçamento
O Orçamento da Defesa em 2025, ano da edição do Decreto, de
fato é compatível com o pretendido no texto legal. Mas é importante anotar que dos R$ 133,6 bilhões alocados para as Forças
Armadas, apenas R$ 12,8 bilhões são discricionários, e podem açambarcar até R$
5 bilhões adicionais fora do teto fiscal.
O Desafio, portanto, é readequar os aportes, para reduzir o
atual comprometimento de mais de 80% com pessoal e previdência - limitando
investimentos em inovação.
No que tange à compatibilidade formal: recursos
extras garantem viabilidade, mas a execução depende de disciplina fiscal e
coordenação estratégica.
A ordem contida no Decreto, de integração da BID às
demais políticas públicas, visa justamente absorver aportes que podem ser
obtidos na articulação com ações políticas de outros ministérios, para muito
além da pasta da defesa.
Ameaças Externas e Internas
O decreto surge num contexto de conflitos de quarta
geração (de natureza híbrida). Reconhece a importância estratégica do país, no
que tange não apenas à segurança pública e dos cidadãos, como também à defesa
dos recursos ambientais, superficiais e subterrâneos, existentes no nosso
território.
O Caribe, por exemplo, afeto à margem
equatorial brasileira, hoje enfrenta profunda instabilidade política e social,
com risco de ampliar ainda mais fluxos migratórios em direção ao Brasil, bem
como de intensificar o tráfico de armas, na hipótese de queda do regime de
Maduro e retirada do narco regime de Petro, na Colômbia.
O Narcoterrorismo é o grande pivô do conflito na região. Os cartéis
de drogas e facções criminosas latino-americanas (incluso das brasileiras),
formam hoje um vetor transcendente de relativização da soberania nacional dos
países do continente. Essa perda de
soberania ocorre na medida em que organizações criminosas assumem o domínio
territorial e excluem o controle do estado nessas áreas ocupadas, bem como
contaminam toda a economia regional.
O fenômeno transcende a base criminológica típica
para se imiscuir no campo político e ideológico, envolvendo relações próximas
com redes terroristas muçulmanas da Ásia e Oriente Médio – atraindo, portanto, a
atenção das redes de inteligência ocidentais e orientais articuladas com o esforço
norte americano de realinhamento continental – Doutrina de Segurança Regional
aduzida com a Emergência Nacional decretada por Trump.
A Amazônia Azul, cujas reservas de petróleo e gás conferem à
plataforma dimensão estratégica, insere iniciativas públicas, como o Prosub e SISGAAZ,
fundamentais para garantir soberania marítima.
A questão indígena, hoje envolve, na Região
Amazônica, profundos conflitos de natureza geopolítica – incitados por
potências estrangeiras.
Organizações não governamentais e grupos ideológicos radicais de esquerda, somam-se
a traficantes de toda natureza – de drogas e tráfico humano, madeireiros e
mineradores clandestinos, bem como biopiratas – exigindo do governo uma base
ampliada de inteligência militar integrada com forças internas de segurança.
A unidade nacional, de fato, fica vulnerável ao
somatório de todos esses fatores.
Perspectiva Histórica
É importante, aqui, resgatar o
contexto histórico em que a política de defesa agora está sendo erguida, e isso
pode se dar com um breve retrospecto. Senão vejamos:
1- Regime Militar (1964–1985)
No período de 1964 a 1985, a Defesa e o Desenvolvimento
foram tratados como binômio inseparável.
Não por outro motivo, o período militar resultou no
auge da indústria bélica nacional, não apenas no campo aeronáutico, como também
no veicular, com caminhões de suspensão independente, blindados Cascavel e
Urutu – desenvolvimento de armas privativas e avançados projetos tecnológicos,
como o Lança foguetes Astros II, cuja exportação para dezenas de países inseriu
o Brasil dentre os principais produtores bélicos mundiais.
O apoio estatal, no período militar, era direto à
BID, com financiamento e integração às políticas industriais – abrangendo projetos
articulados com as montadoras sediadas no país.
O conceito de interesse nacional e segurança
nacional, também permitiu que a Política de Meio Ambiente e controle da
poluição fosse construída no período militar, como importante fator de
afirmação administrativa territorial.
2- A “Nova República” (1985–2002): o
sucateamento
A Crise econômica, hiperinflação e ajuste fiscal,
iniciados com a crise do petróleo, no final do regime militar, ganharam cores
alarmantes a partir de 1986, quando os dois primeiros governos civis,
desprovidos de um mínimo de planejamento, perderam-se em políticas fiscais e
monetárias contraditórias, que atingiram
em cheio o setor de defesa.
A fobia a militares, que caracterizou a sucessão de
governos na década de 1990, atrasou a implementação dos principais sistemas de defesa territorial,
planejados na década anterior, e
sucatearam completamente a BID, cujos
projetos foram quase todos descontinuados.
A falta de financiamento e a perda de competitividade internacional
destruiu a posição do Brasil no campo da indústria bélica. Empresas
estratégicas como a Engesa faliram. A Avibras enfrentou graves dificuldades e mesmo
as indústrias tradicionais de armas foram obrigadas a reformular seu perfil
mercadológico, para fugir da sistemática agressão dos governos emedebistas e
tucanos à natureza de suas atividades.
O caráter internacionalista, antinacional das
gestões de FHC – em que pese a benfazeja reforma do Estado empreendida por ele
a partir de 1995, impactou severamente o
Sistema de defesa.
Ministros civis mais apegados à ideologia que ao
relacionamento com o meio militar, e completamente alheios aos fundamentos da
Estratégia, pemitiram que o parque
industrial de defesa fosse sucateado, com obsolescência tecnológica e
perda de quadros qualificados.
3- Governos Lula (2003–2010)
Com o primeiro dos três governos de Lula, sobreveio
o retorno a uma política de caráter mais nacionalista, no campo da Defesa –
sendo então desenvolvido uma boa articulação com o setor das Forças Armadas e
com a indústria nacional. O plano de Aceleração do Crescimento retomou a centralidade
da defesa, que, no segundo mandato, resultou na edição da Estratégia
Nacional de Defesa (2008).
Projetos estratégicos como o de retrofit da frota
de caças, a busca de uma nova frota de interceptação, que se concluiu com a
escolha – após anos, pelo Gripen, o desenvolvimento do blindado Guarani e o
Prosub – programa de desenvolvimento dos submarinos, incluindo o Submarino
Nuclear, a formação da empresa de tecnologia de defesa nuclear – AMAZUL, em
2012 e o desenvolvimento dos projetos aeronáuticos de defesa e armamento, arejaram
o setor industrial, dando início a uma nova fase de reconstrução de um parque
tecnológico.
Dois Ministros de Defesa se destacam no período dos
dois governos Lula: José Viegas e Nelson Jobin, que deram grande ênfase na
transferência tecnológica e nacionalização da produção.
Contradições nos projetos de
vigilância e monitoramento
Passado o período Lula, o Governo Dilma desbordou
para o conflito ideológico, seguindo-se uma sucessão de ministros sem
identidade com a pasta, com exceção do último, Aldo Rebelo, que pouco ou nada
pôde fazer a não ser impedir que a governante, prestes a sofrer impeachment,
decretasse um “Estado de Emergência” no País.
Temer ocupou-se das reformas no campo econômico e
social, em especial nas parcerias estruturais, cumprindo a Bolsonaro, nos
quatro anos de seu mandato, implementar os projetos que ficaram paralisados no
período de crise política e de Lava-Jato.
No entanto, a sucessão de ministros atrelados à peculiaridade
do núcleo governante bolsonarista, muito atrapalhou a definição de uma
estratégia de defesa nacional no período.
Assim, antes de focar no período atual, importa
notar a sucessão de projetos de grande envergadura estratégica, que se sucederam
nos governos civis, sem que até o momento
fossem integralmente implementados.
É o caso do Calha Norte: presença estatal na
Amazônia, mas com baixa integração tecnológica; do SIVAN - que nunca
atingiu plena capacidade operacional - e do SIPAM, de integração inicial
de dados ambientais e militares, hoje em defasagem severa.
O SISFRON -Sistema Integrado de
Monitoramento de Fronteiras, programa estratégico do Exército Brasileiro – já admite
o contexto da 4GW – ou seja, os conflitos de quarta geração, de natureza
híbrida, pois visa a utilização de tecnologia para monitorar, controlar e
combater não apenas ameaças convencionais ao território fronteiriço, como
também os crimes em áreas de fronteira terrestre, articulado com forças
internas de segurança. No entanto, permanece incompleto e com atrasos
crônicos.
Na comparação internacional, o
sistema de fronteiras brasileiro é de fato preocupante.
Importante analisar, ainda que de forma suscinta, o
que os países de referência instituem na guarda de fronteiras, como parâmetro
que indica a enorme defasagem brasileira no que tange ao quesito.
|
País/Bloco |
Características principais |
Grau de modernização |
|
🇺🇸 EUA |
Fronteira digital com biometria, IA, análise de
redes sociais e rastreamento em tempo real |
Altíssimo |
|
🇪🇺 União Europeia |
Eurosur com drones, satélites e sensores
costeiros; Sistema de Entrada/Saída eletrônico |
Elevado |
|
🇷🇺 Rússia |
Fronteiras reforçadas com cercas, minas e
vigilância aérea; estratégia de fortificação física |
Médio-alto |
|
🇨🇳 China |
Rede de 600 milhões de câmeras com reconhecimento
facial e IA, integrada a super aplicativos |
Altíssimo |
|
🇧🇷 Brasil |
Projetos Calha Norte, SIVAN, SIPAM e SISFRON;
defasagem tecnológica, sistemas obsoletos |
Baixo |
Como se vê, um dos países com maior fronteira seca
do mundo, não pode se dar ao luxo de desprezar a tecnologia e se despreocupar
com a defesa de seu território.
A Defasagem tecnológica atual, é de tal
ordem, que em alguns módulos, sistemas de defesa ainda operam em Windows 7,
expondo vulnerabilidades cibernéticas.
No que tange à vulnerabilidade tecnológica, nada
mais complexo, hoje, que o fornecimento de Microprocessadores.
O Brasi importa praticamente todos os
semicondutores que utiliza, especialmente da China e Taiwan, além de
fornecedores europeus como a Nexperia (Holanda).
A vulnerabilidade é patente. Em crises recentes,
como a disputas geopolíticas entre China e Europa neste ano de 2025, o fornecimento global de chips foi profundamente
afetado com impacto direto na indústria automotiva e eletrônica brasileira.
O Programa Brasil Semicon (2024), criado
para desenvolver toda a cadeia produtiva nacional de semicondutores, ampliando
incentivos fiscais e financiamento até 2073, buscará reduzir a dependência externa e inserir o Brasil nas
cadeias globais de tecnologia – no entanto, precisa sair do papel. Por essa
razão, o governo estuda reativar o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica
Avançada, fechado em 2021, como parte da estratégia de retomada da produção
local.
Panorama atual da defesa digital:
|
Elemento |
Situação atual |
Perspectiva |
|
Manufatura digital bélica |
BID já adota manufatura aditiva, nanotecnologia e
sistemas avançados |
Expansão com apoio da END e PND |
|
Microprocessadores |
Dependência quase total de importações (China,
Taiwan, Europa) |
Programa Brasil Semicon busca autonomia parcial
até 2073 |
|
Capacidade nacional |
Produção incipiente, Ceitec desativado |
Reativação e novos investimentos em P&D |
|
Risco estratégico |
Vulnerabilidade a crises geopolíticas |
Diversificação de fornecedores e estímulo à
produção interna |
A BID brasileira, busca estar tecnologicamente
compatível com a evolução digital da manufatura bélica em várias frentes. Mas
a ausência de uma indústria nacional consolidada de semicondutores
mantém o país dependente de importações.
O Brasil Semicon e a possível retomada do Ceitec são passos para reduzir essa vulnerabilidade. Porém, no curto prazo, os microprocessadores continuarão vindo do exterior.
No campo das aeronaves remotamente pilotadas - ARPs, ou UAVs (unmanned aerial vehicles), conhecidas popularmente como drones (zangões em inglês), ou vants (veículos aéreos não tripulados), a situação é também crítica.
O conceito moderno e dimensional da guerra, inclui o uso intenso de dispositivos remotamente orientados, cujas plataformas evoluem para integrar tecnologias como inteligência artificial, sensores multiespectrais, sistemas de comunicação em tempo real e recursos de apoio eletrônico.
No campo bélico e de controle territorial, o avanço dos equipamentos remotos os torna ferramentas essenciais para missões de ataque, monitoramento, reconhecimento, inteligência e resposta tática. O conflito entre Ucrânia e Russia, as últimas batalhas travadas no Oriente Médio e os confrontos urbanos no Rio de Janeiro já demonstram a efetividade e a necessidade de termos no Brasil um conceito firme de produção e uso desses equipamentos
As iniciativas ainda são modestas. A frota atual brasileira é incipiente - composta por drones de diferentes origens, utilizados para missões de monitoramento, inteligência e orientação de tiro, como o Hermes 900, o Nauru 1000C, que está sendo preparado para uma versão de combate, e o drone tático desenvolvido pelos Fuzileiros Navais. O Exército Brasileiro planeja implementar drones equipados com mísseis até 2027.
Empresas brasileiras estão desenvolvendo e produzindo plataformas de drones em parceria com as Forças Armadas, e destaco a existência de empresas fabricantes e escritório de projetos como a AERO.ID, cujos produtos multifuncionais - como o uav MQ-18, caminham para serem cobiçados aqui e no exterior. No entanto, a iniciativa governamental ainda é muito tímida, seja no campo militar, seja no da segurança pública.
As tecnologias anti-drone, desenvolvidas para detectar e neutralizar arps hostis, também são demandadas.
O Decreto nº 12.725/2025
Com o retorno de Lula ao poder, em 2023, ao par de
toda a parábola populista de esquerda,
globalista e com clara tendência à abolição do Estado de Direito, não se pode
negar que sua interlocução pessoal com o setor de defesa foi restabelecido com
a indicação de um ministro extremamente habilidoso, José Múcio Monteiro, que está recompondo o
foco do aparato de defesa na transição tecnológica e de planejamento – com todas
as dificuldades e limitações orçamentárias impostas ao setor, por conta do
acirramento ideológico imposto pelo grupo governante disposto no entorno do presidente.
Podemos compreender essa conjuntura como inserida
num fenômeno que denomino “Síndrome de Janus” – algo que afetou profundamente a
gestão de Bolsonaro e, agora, parece afetar o governo Lula, guardadas todas as
proporções abissais: o líder se perde em factoides e crises geradas no campo político-partidário,
na gestão das crises e no relacionamento
com o parlamento nacional – enquanto determinados setores buscam gerir a
máquina com um mínimo de tecnicidade, como que criando outra face, outro rosto,
no mesmo crâneo governamental.
A crise de estado expôs um regime com a governança
em xeque. Porém, isso não impediu que os setores técnicos e militares se
debruçassem sobre o contexto da defesa nacional, analisassem o quadro e
editassem uma nova política de defesa.
O Decreto que aprova a nova Política Nacional de Defesa
(PND), a Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro Branco de Defesa
Nacional (LBDN), consolida a trajetória iniciada em 2003 e 2008, nos governos
anteriores de Lula, porém, surpreendentemente, amplia o escopo ao retomar a
lógica de apoio integral à defesa nacional presente no regime militar.
Confronto entre Decreto
12.725/2025 e postura histórica:
|
Aspecto |
Decreto
12.725/2025 |
Governos
anteriores (incl. Lula) |
|
Integração
institucional |
Obrigatoriedade
para todos os órgãos federais; GT interministerial |
Defesa
tratada como prioridade, mas menos institucionalizada |
|
Base
Industrial de Defesa (BID) |
Central
na autonomia estratégica; previsibilidade orçamentária; estímulo a
tecnologias duais |
Ênfase
em projetos estratégicos e transferência tecnológica |
|
Setores
críticos |
Nuclear,
cibernético e espacial com responsabilidades definidas |
Prosub
(nuclear), Gripen (aeronáutica), Sisfron (cibernético) |
|
Participação
social |
Consulta
pública ampla (2024) |
Menor
participação social, foco em governo e Forças Armadas |
|
Cenário
internacional |
Multipolaridade,
retração da globalização, disputa por recursos |
Protagonismo
internacional do Brasil, cooperação Sul-Sul (BRICS) |
O Decreto nº 12.725/2025 representa uma continuidade
ampliada da postura de Lula nos anos 2000: reforça a BID como eixo da
soberania, mas agora com maior institucionalização, previsibilidade e foco em
tecnologias críticas e duais. A diferença é que o novo decreto incorpora lições
da multipolaridade atual e da retração do globalismo, enquanto os governos
anteriores enfatizavam o protagonismo internacional e a cooperação Sul-Sul.
Um destaque importante no texto é a
institucionalização da previsibilidade orçamentária e o reforço da BID como
eixo da soberania – integrada às demais políticas de Estado.
O Reconhecimento do cenário internacional
multipolar e a consciência da disputa internacional por recursos naturais, como
fatores que exigem maior autonomia estratégica, conferem o devido espaço
institucional para que a governança da defesa militar se consolide no plano
territorial, como ente permanente do Estado – para muito além dos conflitos
intestinos da política nacional, porém atento à geopolítica.
Conclusão
O Decreto nº 12.725/2025 reafirma a defesa como instrumento
de soberania e desenvolvimento, integrando indústria, ciência e tecnologia
em um projeto nacional.
Sua efetividade, no entanto, dependerá da
capacidade do comando e sua estrutura enfrentarem ameaças externas (Caribe,
pressões geopolíticas) e internas (narcoterrorismo, crime organizado), além de
proteger a Amazônia Azul frente à disputa global por energia.
Mais do que uma atualização normativa, o decreto
busca reconstruir o contexto histórico de apoio à defesa nacional,
retomando não apenas as iniciativas de 2003 e 2008, mas também a lógica de
integração entre defesa e desenvolvimento que marcou o regime militar. Ao mesmo
tempo, corrige o desastre da “Nova República”, período em que o sistema
foi sucateado e a BID perdeu protagonismo.
Por fim, o decreto precisa enfrentar as contradições
herdadas dos projetos de vigilância e monitoramento (Calha Norte, SIVAN, SIPAM
e SISFRON), cuja defasagem tecnológica é notória e grave.
Essa realidade expõe a urgência de alinhar discurso
e prática, garantindo que a defesa nacional não seja apenas planejada, mas
efetivamente modernizada.
O Brasil, portanto, precisa transformar o Decreto em prática
efetiva, superando a defasagem tecnológica e aprendendo com os modelos
internacionais, sem abrir mão da soberania e da proteção de direitos
fundamentais.
Notas Bibliográficas e
Observações
- EUR-Lex.
Sistema Europeu de Vigilância das Fronteiras (Eurosur).
- Wikipédia.
Sistema Europeu de Vigilância das Fronteiras.
- SchengenVisum.info.
. Sistema de Entrada/Saída da UE.
- Jornal
Opção. Países do Leste Europeu planejam cortina de ferro contra a
Rússia.
- Carro
e Motos. UE estuda muro de drones para vigiar fronteira leste.
- Revista
Pesquisa Fapesp. Vigilância na fronteira: Sisfron.
- Gizmodo
Brasil. Tecnologia que rastreia migrantes em tempo real nos EUA.
- Fronteira
Econômica. Reconhecimento facial nas fronteiras dos EUA.
- SP
Diário. Mobile Fortify: reconhecimento facial nos EUA.
- CNN
Brasil. Monitoramento de pessoas na China.
- Control
iD. Sistema de vigilância em massa da China.
- G1
Fantástico. Cidades inteligentes e vigilância na China.
- PEDRO,
Antonio Fernando Pinheiro. Soberania Afirmativa
- PEDRO,
Antonio Fernando Pinheiro. Brasil Combate Tráfico de Cocaína com
Proselitismo
- PEDRO,
Antonio Fernando Pinheiro. Contexto Geopolítico do Brasil e a Questão
Ambiental.
- PEDRO,
Antonio Fernando Pinheiro. Nossa Política Ambiental é Filha do Regime
Militar
- PIMENTEL,
Paula. A Governança da Geoinformação no Âmbito do Governo Federal do
Brasil
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista, consultor estratégico e ambiental, com serviços prestados e estudos publicados junto a organismos multilaterais como a ONU (Unicri e Pnud), Banco Mundial, IFC, Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, governo brasileiro e grandes corporações. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados e diretor da AICA - Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental, é membro do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Presidente da UNIÁGUA - Instituto Universidade da Água e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.


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