A mudança de posição de Bill Gates sobre a questão do clima tem método e fundamento
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| Bill Gates - Foto: Reuters |
Por Olimpio Alvares – Nov2025
Resumo Executivo
O artigo
analisa em profundidade a mudança de posição de Bill Gates sobre a questão
climática, apresentada em sua Nota de 28 de outubro de 2025, divulgada pouco
antes da COP30. Essa Nota representa um ponto de inflexão histórico no debate
global sobre mudança do clima.
Pela primeira
vez, uma das figuras mais influentes na promoção da ideia de “urgência
climática” passa a questionar abertamente o alarmismo, a estratégia de
mitigação imediata e o “pensamento mágico” que embasaram políticas climáticas
globais ao longo da última década. Em sua Nota, Gates desmonta, de forma
fundamentada, a narrativa da urgência que, embora amplamente divulgada pela
ONU, mídia e ativistas, não é sustentada pelos relatórios técnicos do IPCC, que
jamais utilizaram termos como “emergência”, “catástrofe” ou “colapso
civilizatório” em suas conclusões oficiais.
O artigo descreve
como a narrativa da urgência nasceu da distorção do famoso “97% dos
cientistas”, oriundo do estudo de Cook et al. (2013), que apenas constatava
concordância de que o ser humano contribui para o aquecimento global - mas sem
avaliar gravidade, urgência ou riscos existenciais. Essa simplificação,
convertida em slogan político, serviu de justificativa para a criação de metas
globais rígidas, como o Net Zero, e implica a mobilização de trilhões de
dólares em políticas públicas e investimentos compulsórios, com forte impacto
econômico e social dada a escassez de recursos, inclusive nos países
desenvolvidos.
O texto
argumenta que a urgência comunicada ao público produziu medo, distorções
informacionais e decisões precipitadas, incluindo propostas de geoengenharia de
alto risco, como a gestão da radiação solar via pulverização de partículas na
estratosfera.
O artigo
aprofunda também os limites práticos do Net Zero, destacando desafios físicos,
técnicos e econômicos da transição para sistemas elétricos baseados
majoritariamente em eólica e solar, cuja intermitência exige grandes bancos de
baterias, fontes despacháveis e redes mais complexas e caras. Aponta que países
que mais avançaram nessa transição - como Alemanha e Reino Unido - enfrentaram
aumentos expressivos nos preços da energia, revelando que o discurso de que
“vento e sol são gratuitos” desconsidera problemas estruturais, custos
sistêmicos e limitações de escala. Para países pobres, esses modelos seriam
ainda mais inviáveis, pois comprometeriam a disponibilidade de energia barata,
essencial ao desenvolvimento humano.
A Nota de
Bill Gates defende um novo enfoque: reduzir o foco obsessivo em metas de
emissão imediatas e priorizar investimentos em inovação tecnológica disruptiva
de alto impacto, adaptação, energia barata e melhorias nas condições de vida,
especialmente em países vulneráveis.
Gates passa a
afirmar que o aquecimento global é um desafio relevante, mas não uma ameaça
iminente à sobrevivência humana, afastando-se do discurso apocalíptico que
ajudou a promover e aproximando-se de visões antes marginalizadas, como as de
Bjorn Lomborg.
O texto
destaca ainda que Gates introduz o conceito de “reparação climática”: países
desenvolvidos deveriam assumir sua maior responsabilidade na causa do
aquecimento, contribuindo com a viabilização do financiamento do
desenvolvimento humano nos países pobres, condição indispensável para que estes
contribuam de forma competente com o esforço climático global.
Por fim, o
artigo sugere que a mudança de posição de Gates poderá desencadear uma
reorientação profunda das políticas climáticas internacionais, obrigando
governos, instituições e cientistas a reavaliar prioridades, corrigir
distorções e retomar o debate sobre clima com mais rigor, justiça, transparência
e realismo. A “Virada 180 de Gates”, segundo o autor, inaugura um novo ciclo,
em que a humanidade poderá enfrentar o aquecimento global com menos dogmatismo,
mais inteligência técnica e maior foco no bem-estar das populações vulneráveis.
A
virada climática de Bill Gates
(Por
Olimpio Alvares – Nov2025)
Bill Gates
Bjorn Lomborg
“Wicked
Science - ciência dos problemas perversos: é uma expressão que se refere a
problemas complexos, de grande amplitude, multifacetados, plenos de incertezas
e valores conflitantes, difíceis de definir e impossíveis de resolver apenas
com conhecimento técnico e pragmatismo; são problemas que requerem, além de
amplo conhecimento, sabedoria e humildade daqueles que os enfrentam. A mudança
climática é o exemplo clássico desse tipo de problema, por isso alguns
estudiosos do clima descrevem a ciência do clima como wicked science.”
Diante de
eventos transformadores da realidade, certas verdades tornam-se ainda mais
evidentes para quem conhece pelo menos um pouco do contexto panorâmico da
“perversa questão” das mudanças climáticas - algumas dessas verdades emergiram
com mais clareza por estes dias a partir de uma intervenção de Bill Gates:
“Fatos recorrentes
e indicadores mensuráveis são teimosos e revelam um controverso ambiente
científico, cultural, econômico e político, especialmente no Ocidente.”
“O
crescimento da economia global, a emergência de uma miríade de inovações
tecnológicas dependentes de energia abundante e barata (como p.ex. a Inteligência
Artificial - IA), o cruel apartheid energético de povos carentes de saneamento,
moradia digna, transporte, saúde, educação, segurança, financiamento acessível e
estabilidade jurídica e política, demandarão nas próximas décadas quantidades
de energia impossíveis de serem supridas apenas pelas atuais tecnologias renováveis
intermitentes, caras e indutoras de instabilidade sistêmica na rede elétrica.”
“Por piores
que sejam sua índole e viés controlador, dominadores globais que se reúnem regularmente
no alto de montanhas geladas, também são homens e mulheres de negócio,
inclusive nos setores da geração e uso de energia - esses jamais queimam seus
próprios dólares.”
“Há um abismo
entre a realidade econômica de países com profundas carências, e aquela de
países desenvolvidos, que não está sendo adequadamente assimilado pelas
políticas de descarbonização impostas por uma elite que decide os rumos da
estratégia central global do combate às mudanças climáticas.”
A virada de
Bill Gates - o mais influente defensor da urgência climática
Com o apoio da
grande mídia - ferrenhos gate keepers do discurso oficial da Organização
das Nações Unidas (ONU) do aquecimento do planeta -, foi construída a narrativa da urgência climática, que já dura vários
anos, mas enfrenta agora pela primeira vez um poderoso golpe: a Nota de Bill
Gates para a COP30, publicada em 28 de outubro de 2025, que de modo discreto, fundamentado
e taxativo, esvazia o alarmismo climático e o “pensamento mágico” descolado da
realidade física.
Alegadamente
apoiada por 97,1% dos cientistas, a suposta urgência climática tem sido a
justificativa da construção de um monumental arcabouço trilionário global de
políticas públicas moralmente obrigatórias, visando a garantir a vida no
planeta, mediante a estabilização do aquecimento ao final deste século.
Ainda que
houvesse o reconhecimento do gradual aquecimento global e dos possíveis
problemas envolvidos, ousar colocar em dúvida a virtual urgência climática era
- até alguns dias atrás - negar a ciência; mas com a “Virada 180 de Gates”, talvez
não mais - o tabu parece estar por um fio.
Como
nasceu a narrativa da urgência climática (os fatos a seguir são de
conhecimento público)
Segundo a
narrativa sempre presente na grande mídia (adotada pela grande maioria dos
ambientalistas, intelectuais, políticos, autoridades governamentais, estudantes
e acadêmicos), 97% dos cientistas concordam que o aquecimento global é causado quase
totalmente pelo homem, e requer ação global urgente de mitigação das emissões
de carbono. 97% tem sido a cifra-símbolo da urgência climática, incontestada no
universo mainstream.
Entretanto, a
narrativa da urgência foi artificialmente criada, e obviamente propiciou a
disseminação do medo de possíveis catástrofes climáticas iminentes, além de
muitas outras consequências negativas do aquecimento exacerbado. A urgência também
colocou as mudanças climáticas na posição de prioridade máxima das Nações, legitimando
políticas públicas de emergência e mobilizações globais relacionadas ao clima -
a “ordem do dia” passava a ser: esqueçam tudo o que foi planejado e revisem
todas as políticas públicas sob a perspectiva de salvar a humanidade da ameaça imediata
de extinção. Surgiram nessa onda personagens caricatas como Al Gore, Greta
Thumberg, Alexandria Ocasio Cortez, António Guterrez e muitos outros que
professavam catástrofes climáticas e extinção de povos e espécies em poucos
anos.
Todavia, quem
conhece em profundidade o tema e as informações técnicas originais dos
relatórios do International Panel on Climate Change (IPCC) sabe que a urgência
climática não é uma conclusão científica. O IPCC não afirma que há urgência
climática; que há risco de colapso civilizatório; e que o balanço zero de
emissões e remoções é uma obrigação moral imediata, custe o que custar.
Mas de onde vieram
esses “97%”?
A cifra teve
origem em alguns estudos de revisão de literatura, sendo o mais citado o de Cook
et al. (2013), publicado na revista Environmental Research Letters. Esse
estudo analisou resumos de milhares de artigos científicos sobre mudança do clima
e concluiu que 97,1% dos que expressavam uma posição explícita sobre a
existência do aquecimento global, atribuíam o fenômeno às atividades humanas -
seja lá em que medida frente às causas naturais. Assim, o levantamento registrou
apenas a concordância quanto à contribuição humana ao aquecimento global, mas
não sobre sua gravidade, aceleração, urgência e consequências do fenômeno no
curto, médio, e no longo prazo.
A partir daí,
esse número foi ampla e indevidamente reproduzido por políticos, escolas,
academia, ONGs ambientalistas, agências da Organização das Nações Unidas (ONU)
e meios de comunicação colocados a serviço da massiva propaganda climática - porém,
sem esclarecer sobre as limitações e incertezas metodológicas intrínsecas dos
estudos, das medidas do fenômeno, do grau de participação humana, e da suposta urgência
(ou não) das medidas de mitigação das emissões de carbono.
De fato, esse
“número mágico”, na verdade, significa - exclusivamente - que cerca de 97% dos
estudos analisados indicaram que o ser humano contribui em certa medida para o
aquecimento gradual do planeta - ponto final.
No entanto, a
desordem conceitual e informacional (deliberada ou não) de associar o famoso “97%
dos cientistas concordam que... etc.” à urgência climática, teve graves consequências,
especialmente pela implicação da necessidade de reconfiguração da economia e de
revisão da priorização de investimentos públicos - só este aspecto ensejaria um
artigo específico apenas para tentar listar uma parte dos problemas.
Em suma, essa
narrativa lamentavelmente enganosa, parece ser um dos mais irresponsáveis equívocos
da comunicação pública da história, que pode ter produzido danos econômicos e
sociais de grande monta, a serem ainda avaliados pelos acadêmicos e economistas.
Os danos
implicados pela ideia da urgência climática, podem ainda ser muito mais amplos
e arriscados; um dos exemplos disso são as ideias de aventureiros de aplicação
de técnicas de pulverização de partículas nas camadas superiores da atmosfera
para reduzir a radiação solar que atinge a superfície (com consequências
imprevisíveis na agricultura, no regime de chuvas etc); trata-se de um conjunto
de técnicas conhecido como Modificação da Radiação Solar (SRM – Solar
Radiation Management), um ramo da geoengenharia.
Corrigir o
“rumo desse transatlântico” pode ser um dos motivos que levaram Bill Gates - e
a própria gestão atual do governo dos Estados Unidos - a engatarem a marcha à
ré nas ações de mitigação das emissões de carbono.
Mas o que
mais assusta a quem tem alguma noção do significado da ciência, é o silêncio e
o comportamento “singular” da quase totalidade da comunidade científica: as poucas
e honrosas exceções que divergiram sobre um ou outro aspecto da propaganda
climática “oficial” catastrofista mainstream, foram tratadas com desprezo,
isoladas e chamadas por seus pares de “negacionistas” - termo extremamente
depreciativo, aplicado aos lunáticos que negaram o holocausto dos Judeus. Essa
alcunha destrutiva (de cancelamento - para usar um termo mais moderno) é
cruelmente dirigida até mesmo aos que reconhecem a existência do problema do aquecimento
global, mas apenas divergem quanto à sua urgência e sobre como enfrentá-lo.
Net Zero -
a cria da urgência climática
Na esteira da
urgência climática fabricada após o estabelecimento do chamado “acordo
termostato” da COP21 de Paris de dezembro de 2015, foi também consolidada a “engenhosa”
ideia da meta aspiracional “Net Zero”. Com base na afirmação do IPCC de que
emissões líquidas zero são necessárias para estabilizar o clima, formalizou-se
no âmbito do Acordo de Paris a meta do equilíbrio entre emissões e remoções de
carbono, prevista para a segunda metade deste século.
“Net Zero” - meta de emissões líquidas
zero: é o
balanço em que a quantidade total de gases de efeito estufa (GEE) emitida pelas
atividades humanas é equilibrada pela quantidade removida da atmosfera. As
emissões continuam existindo, mas devem ser compensadas - total ou parcialmente
- por absorção natural (florestas, solos, oceanos) ou por tecnologias de
captura de carbono. O conceito do Net Zero não exige emissão zero absoluta, e
sim a neutralização líquida. Não obstante, os esforços para evitar (mitigar) as
emissões de GEE devem ser equilibrados com as atividades de remoção. Tanto a
mitigação, quanto a remoção para o atingimento do Net Zero, envolvem
investimentos astronômicos em nível global.
Essa meta implicaria
começar imediatamente a direcionar, no conjunto dos países, trilhões de dólares
anuais para descarbonizar a economia, captura de carbono, adaptação e outros
custos associados ao processo, com vistas ao atingimento de metas nacionais intermediárias
e finais de descarbonização para os anos 2030-2035/2050-2060. Segundo a
modelagem do IPCC, esse esforço concertado de todos os países evitaria que o
aquecimento, desde a revolução industrial, não ultrapassasse dois graus Celcius
no ano 2100 - meta de aquecimento considerada segura pelos cientistas (ou com
danos gerenciáveis).
Segundo o
estudo da McKinsey & Company (de janeiro de 2022, com base em dados
de 2021) intitulado “The net-zero transition: What it would cost and what it
could bring”, Net Zero demandaria reconfigurar toda economia mundial sob o
novo paradigma da descarbonização; o valor global total estimado de
investimentos em ativos físicos para chegar ao cenário de emissão líquida zero
(Net Zero) entre 2021 e 2050 seria de cerca de US$ 275 trilhões. Esses
investimentos implicariam inversões anuais, por décadas, de vários pontos
percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países - algo física e
economicamente inviável.
Descendo
ao “chão de fábrica” - Net Zero no setor da energia elétrica
Ocorre que
atualmente, esses urgentes compromissos pretendem efetivar um processo global
simultâneo de transição imediata para tecnologias de geração e uso de energias
renováveis baseadas predominantemente em turbinas eólicas, painéis solares e grandes
bancos de baterias destinados a garantir um back-up de energia em
situações de falta de vento e radiação solar insuficiente - o que os alemães
cunharam como Dunkelflaute (calmaria escura).
Porém, quando
a participação das renováveis intermitentes ultrapassa certos patamares, bancos
de baterias não são suficientes e/ou economicamente viáveis para garantir a
estabilidade de redes com alta penetração de geração eólica e solar. Existem diversos
limites técnicos e econômicos que impedem a utilização das baterias, e por isso
é necessário agregar à rede fontes estáveis: nuclear, gás natural, hidrelétrica
com reservatório ou outras formas de geração despachável firme, que, assim como
os bancos de baterias, encarecem significativamente o Capex e Opex do sistema,
com reflexos negativos nos preços da energia.
Contaram para
o mundo, e até hoje repetem entusiasticamente, que a transição energética para
eólica e solar (fotovoltaica) seria possível, porque os ventos e o brilho do
sol, embora intermitentes, são gratuitos, e os custos das novas tecnologias de renováveis
seriam supostamente reduzidos, barateando a transição.
O problema, é
que essa estória tem a versão concorrente oposta, claramente ilustrada pelo
gráfico abaixo, que mostra a realidade dos preços da energia em função da penetração
da geração renovável na rede elétrica. Os números mostram o contrário do
propagado por ambientalistas, acadêmicos, lobistas e políticos mal-informados, promotores
das tecnologias de geração renovável (ver vídeo no link a seguir sobre os
preços reais aos consumidores das energias renováveis, praticados em diversos
países). https://youtube/fiv9hcLYjWo?si=GpEKf9gzmD_1bUwt
A transição
de redes elétricas baseadas em carvão e gás (que pode ocorrer em muitos países),
para sistemas dominados por energia eólica e solar, com baterias de backup,
envolve desafios técnicos e econômicos profundos. Como mencionado, a geração
renovável (eólica e solar) é intermitente e isso invariavelmente causa instabilidade
da rede elétrica, pois esses novos sistemas com despacho variável substituem
máquinas síncronas que fornecem inércia e total controle de frequência. Os grandes
bancos de baterias podem ajudar por poucas horas, mas não cobrem longos
períodos de baixa produção (Dunkelflaute).
Para operar
com segurança com grande participação de renováveis, faz-se necessário reforçar
linhas de transmissão, ampliar interconexões, criar sistemas de gerenciamento e
controle avançados e prever com precisão o clima e a demanda. O custo dessa “modernização”,
armazenamento e expansão da rede é muito alto, e a vida útil e a cadeia
logística das placas solares, turbinas e das baterias ainda são limitadas -
isso sem contar as incertezas geopolíticas da concentração na China, da maior
parcela da indústria e mercado de matérias primas, minérios críticos e
tecnologias de produção.
Em suma, sem
investimentos globais trilionários e regras de mercado inovadoras, há risco de instabilidade
das redes, altos preços da energia e incapacidade de garantia de fornecimento
contínuo em todos os momentos.
A
importância da disponibilização de energia abundante e barata em países em
desenvolvimento
A recente explosão
dos preços da energia no Reino Unido e Alemanha, que investiram pesado na
transição de sua matriz elétrica, não se deve exclusivamente aos desafios
técnicos da transição, mas esses fatores contribuíram de maneira relevante,
juntamente com choques externos relacionados ao suprimento e à brutal alta do
preço do gás natural.
Um fator
controverso nesse contexto é a transição para sistemas estáveis e limpos
baseados na energia nuclear, mas ainda há preconceito em relação a esta, que é
a tecnologia mais segura e com menor impacto nos recursos naturais entre todas
as existentes. Para muitos estudiosos, uma vez vencida a barreira da irracional
rejeição entre ambientalistas, a energia nuclear modular (pequenas unidades)
parece ser a melhor resposta para o problema futuro do aumento exponencial da
demanda por energia elétrica segura e sustentável.
Entretanto,
ainda há muitas incertezas em relação ao potencial de desenvolvimento de
tecnologias inovadoras para geração de energia sustentável, e esse é um aspecto
essencial destacado por Bill Gates em sua Nota de 28 de outubro: é necessário
investir prioritariamente em inovação tecnológica de alto impacto. Isso
dependerá dos próximos acordos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento,
quanto à transferência de tecnologia e ao montante dos investimentos dos países
desenvolvidos em pesquisa e desenvolvimento voltados especialmente para a
geração de energia barata, confiável e segura - o que daria um impulso
definitivo na melhoria dos índices de IDH dos países pobres (outra prioridade
da Nota de Gates).
Parece
evidente, que a decisão de inversões massivas de recursos em sistemas
renováveis baseados em geração eólica e solar, como a Califórnia, Alemanha,
Reino Unido e Austrália (esta, que como os Estados Unidos, está por esses dias
debatendo sobre abandonar Net Zero), não atende nem mesmo as necessidades de
grande parcela das populações desses países desenvolvidos; todos estão sendo fortemente
afetados em suas economias pelos altíssimos preços da energia (de alta
penetração de renováveis).
O que dizer
então sobre desenvolver redes elétricas renováveis similares em países da
África, Índia, sudeste da Ásia e América Latina? Haveria decerto escassez de
energia barata, principal trava para o desenvolvimento desses países, imposta
justamente pela falsa urgência climática e o atropelo engessado das metas Net
Zero.
Conciliar Net
Zero com energia barata e desenvolvimento civilizatório em países pobres parece
hoje ser algo impossível ..... mas como
se diz na linguagem popular, “papel aceita tudo”.
A Nota de
Bill Gates
Diante desse complexo
contexto, em 28 de outubro de 2025, às vésperas da COP30, o mundo acordou com um
perfume agradável, um quê diferente de raríssimo brilho e honestidade. Essa
data entrará para a história moderna como marco do desmentido por Bill Gates de
si mesmo, da alegada urgência climática (a que nunca foi), e marco do desvendamento
do que muitos entendem ser o sonho impossível do Net Zero, que a partir da
virada de Gates será provavelmente avaliado com toda cautela e transparência.
Para entender
esse U-Turn de Bill Gates, segue no link abaixo sua Nota Técnica
plenamente fundamentada e alinhada em muitos aspectos com a visão do cientista
econômico dinamarquês Bjorn Lomborg - que acaba de ser promovido de um célebre
“negacionista da urgência climática” para o podium de “visionário da estratégia
realista de enfrentamento do aquecimento global”.
Na Nota, Gates
desdisse o que professou durante décadas sobre o alto risco de desastre
climático, com status de Guru ao lado de Greta Thunberg, a Monja da Extinção do
Planeta e estrela Woke de Davos, que não sabe argumentar sobre o que prega.
A pequena
Greta, até então, por longo período sumida das manifestações e fóruns do clima,
acaba de fazer uma surpreendente aparição na COP30, usando a Convenção de Belém
como palco internacional para reforço de sua ação performática em defesa da causa
Palestina. A expectativa de muitos, é que Thunberg, agora uma adulta mais vivida
de 22 anos, também traga a Belém mensagens responsáveis e essencialmente positivas
para a causa do clima, ao invés de sua encolerizada indignação apocalíptica.
https://www.gatesnotes.com/home/home-page-topic/reader/three-tough-truths-about-climate
Aspectos
mais relevantes da Nota da virada de Bill Gates
Em sua Nota, Bill
Gates propõe inversões e mudanças profundas na narrativa e na estratégia de
enfrentamento do aquecimento global. Ele agora defende que, embora o
aquecimento global seja um problema, não pode ser encarado como o fim da
humanidade. Ele se alinha a muitos outros cientistas e aos próprios números e
mensagens originais do relatório técnico do IPCC, relativamente à ausência da
menção à urgência climática e, portanto, à desnecessidade de medidas imediatas drásticas
de mitigação de emissões e captura de carbono.
O IPCC e a narrativa da urgência
climática
De fato, em nenhum capítulo e em nenhum Summary for
Policymakers das edições mais recentes (AR6 – 2021/2022) aparecem as palavras
“urgency”, “emergency”, “crises”, “catastrophe” como conclusão institucional. O
IPCC não afirma que o mundo enfrenta uma ameaça “existencial” ou risco de
“colapso civilizatório”. O IPCC não recomenda Net Zero como obrigação, apenas
descreve o exercício de diferentes cenários modelados em que metas de
aquecimento são associadas a diferentes trajetórias de emissões.
Em verdade, o discurso de urgência vem de atores
políticos, ativistas, mídia e governos - não do IPCC.
Na visão
atual de Gates, as políticas públicas devem concentrar-se em canalizar os recursos
econômicos escassos de modo mais inteligente, focando em inovação de alto
impacto, adaptação, saúde e luta contra a pobreza. Em seu novo entendimento,
focar exclusivamente em impor metas rasas supostamente urgentes e prioritárias de
redução de emissões (com grande chance de serem econômica e fisicamente
inatingíveis), alavancadas pela disseminação do medo mediante discursos apocalípticos*
- de fim-do-mundo - e chantagem moral e econômica velada, cria traumas e
desesperança nas gerações mais novas, e desvia a atenção dos investimentos na
solução de problemas reais - imediatos - enfrentados por bilhões de pessoas
vulneráveis.
* “The era of global boiling has arrived - UN
Secretary-General Antonio Guterres
Ao mesmo
tempo, Gates se afasta da pecha de “negacionista” e reafirma que a transição
para energia limpa e tecnologias sustentáveis de baixo carbono é fundamental – todavia,
deve caminhar junto com o fortalecimento das condições da vida humana,
especialmente entre os povos mais pobres. Para os países em desenvolvimento
(como o Brasil), Gates entende com sabedoria e pés no chão, que não basta focar
de forma rasa na redução de emissões; é preciso integrar à estratégia de
enfrentamento ao aquecimento global, aspectos prioritários e realmente
urgentes, como a saúde, infraestrutura, agricultura, energia acessível e
adaptação, e colocá-los no topo das políticas climáticas.
Esse urgente
ajuste de prioridades é de fato fundamental: após décadas de discussões e
investimentos em redução de emissões, as concentrações de dióxido de carbono na
atmosfera seguem aumentando, enquanto cerca de um terço da população mundial
ainda cozinha e se aquece em seus lares com lenha e estrume seco - o que causa
cerca de dois milhões de mortes anuais por exposição continuada à poluição
tóxica “indoors” segundo a Organização Mundial da Saúde OMS.
Quanto a doações,
organizações não governamentais de filantropia e ao orçamento público, a
recomendação de Gates é verificar (com triple-check) se o dinheiro está de
fato sendo usado majoritariamente nas ações de maior impacto humano imediato, e
não apenas em metas de emissão abstratas (que não podem ser cumpridas).
Sabe-se, por
exemplo, que a maior parcela dos recursos destinados à filantropia na África,
não chegam ao continente; investimentos em energia abundante e barata são
negados em razão da doutrinação climática radical e insensível de agentes
financeiros de grandes bancos de fomento e fundos verdes - tudo isso em nome da
“salvação do planeta” no final do século.
Enquanto
isso, segundo www.energyandcleanair.org e www.globalenergymonitor.org/, em 2023, a pragmática China aprovou
114 GW de usinas a carvão mineral e na Índia, 5,5 GW foram comissionados, 3,9
GW permitidos e 7,6 GW encontravam-se em estágio análise.
Está
implícito nessa nova abordagem humanizada do combate às mudanças climáticas de
Bill Gates, que nas próximas décadas, o intenso desenvolvimento humano
incensado por energia barata e abundante, pode trazer respostas mais eficazes e
econômicas que as caras tecnologias de consistência duvidosa atualmente disponíveis.
Trata-se de uma chamada (wake-up call) aos povos e aos decisores globais,
a repensar tecnologias, políticas e prioridades de investimentos.
O que não
foi dito na Nota de Gates
Mas, outras
razões possivelmente também contribuíram para induzir Bill Gates à delicada
decisão de retroceder em alguns aspectos críticos que há anos defendia, supostamente
sem uma reflexão mais aguda. Trata-se de uma raríssima e preciosa demonstração
de humildade de um guru da tecnologia e das políticas climáticas e
filantrópicas - é a confissão de um equívoco estratégico de enorme impacto.
Ao fim e ao
cabo, a Nota de Bill Gates representa um pedido ao mundo por um freio de
arrumação nas ações de combate às mudanças climáticas - uma nova abordagem que
cientistas e as Nações serão compelidos a avaliar.
Aderindo
claramente à visão estratégica de alguns cientistas injustamente chamados de
“negacionistas”, Gates desloca a questão moral, do “pragmático manejo imediato
das reduções de emissão via políticas de Net Zero”, para a “necessidade
premente de os principais responsáveis pelo aquecimento da Terra (países
desenvolvidos), repararem os danos que causaram ao planeta”. Isso implicará investimentos
no desenvolvimento humano de povos mais carentes, sem o qual, dificilmente o
planeta logrará sucesso na missão “coletiva” de encontrar métodos globais e
locais inovadores, visando a equilibrar o clima em um padrão gerenciável ao
final deste século. Assim, aparentemente, a tal “Justiça Climática” se faz
presente na virada de Gates, mediante o esforço de “Reparação Financeira”.
Mas, especulações
sobre mais razões ocultas de Bill Gates não faltarão, uma vez que ele é famoso
por transformar crises humanitárias em patrimônio pessoal. O bilionário vem há
muito investindo/atuando como protagonista global, em filantropia, energia
nuclear de quarta geração (modular), aquisição de terras agricultáveis, alimentação
de massas, produtos farmacêuticos, e mais recentemente, em Inteligência
Artificial (IA) e Data Centers - estes últimos são setores-chave, que
demandarão quantidades imensas de energia barata nas próximas décadas, e essa
demanda exponencialmente crescente conflitaria com a abordagem de descarbonização
imediata de Gates, defendida antes dessa fantástica virada estratégica.
A nova visão
do influente guru do clima, que amortece a preocupante correria climática,
atrairá nos próximos meses e anos muitos cérebros privilegiados de todo
planeta, ensejando abrangentes discussões (oxalá livres de vícios), e os
ajustes eventualmente necessários nas atuais e controvertidas políticas
públicas relacionadas à proteção do clima.
Eng.
Olimpio Álvares
é Engenheiro Mecânico (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -USP),
especializado no Japão e Suécia em controle de emissões veiculares e transporte
sustentável, ex-gerente da Cetesb, onde atuou por 26 anos no desenvolvimento de
programas de controle de emissões de veículos, Diretor da empresa de
consultoria L`Avis Eco-Service, com experiência na área de emissões
atmosféricas, transporte sustentável, mudanças climáticas e transição
energética no setor dos transportes; atua em inúmeros projetos relacionados a
esses temas. Reconhecido nacional e internacionalmente, é autor de diversos
artigos e publicações e participa ativamente em fóruns nacionais e
internacionais sobre meio ambiente e mitigação das mudanças climáticas no setor
dos transportes.


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