A Geopolítica, as Parcerias e o Paradoxo da Interdependência
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| imagem - IA-AFPP |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
A relação entre Estados Unidos e China vai muito além da competição comercial. Apesar das disputas, ambos mantêm uma interdependência que influencia diretamente o rumo da economia global.
Este artigo irá buscar, de forma objetiva, analisar as razões das duas potências disputarem, agora, a hospedagem de parques industriais, após décadas de migração destes centros de produção para a Ásia - deixando um rastro de desemprego no ocidente.
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| Siderúrgica abandonada no Cinturão da Ferrugem, nos EUA |
A desindustrialização e o globalismo
A globalização produziu um viés "globalista" que enxergou no fenômeno a possibilidade de investir na exportação da indústria para regiões da ásia com "baixo custo humano" - cujos regimes locais foram chamados de "tigres asiáticos", nos anos 1980.
A instalação de indústrias "indenes de problemas trabalhistas e de sindicatos" foi promovida com o custo da perda de empregos e destruição de ciclos econômicos inteiros no ocidente - em especial nas Américas e Europa. Em compensação, abriu um universo de oportunidades para os bancos, no campo financeiro e imobiliário, promovendo impressionante concentração econômica e incremento em larga escala do mercado consumidor.
Mas, na mesma proporção, o abismo social se ampliou, bem como a falta de oportunidade de se prosperar pela educação nos países ocidentais. Não por outro motivo, a elite globalista tratou de "compensar" o ocidente, promovendo ações e programas "politicamente corretos", plenos de mecanismos de "purgação e indulgências", seja no campo do assistencialismo social, tutela de minorias, proteção ambiental e combate a mudanças no clima. O movimento no entanto, revelou profundo viés eurocentrista... e domínio ideológico promovido por entidades da grande elite financeira, sem qualquer compromisso com o mérito ou padrões de democracia, de soberania nacional e soberania popular.
O resultado dessa "compensação" presenciamos hoje: um ocidente fragmentado e transtornado por questões morais, envolto em deseconomias, ecologismos e crises migratórias.
Do outro lado do planeta, no entanto, a industrialização promovida gerou uma completa mudança no cenário mundial, trazendo em poucas décadas a China, a Coreia, a Índia, Singapura, Taiwan e Nova Zelãndia para um cenário industrial antes disputado apenas pelo Japão.
O destaque, no entanto, foi a impressionante e firme ascenção da China - que uniu sua postura cultural e comercial milenar aos padrões de governança monolíticos do regime e, hoje, disputa com os EUA o campo de batalha da economia global.
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| Parque Industrial de alta tecnologia na China - com variadas empresas e unidades |
A importância do parque industrial
Mas o processo industrial atual guarda pouca relação com o existente nos anos 1970/1980, quando todo esse fenômeno se iniciou. O parque industrial ganhou um novo e profundo interesse estratégico.
No campo das preocupações comuns, EUA e China buscam agora otimizar, cada um à sua maneira, o conceito de "colaboração homem-máquina", por meio do qual a robótica cuida das tarefas de alta precisão, enquanto os humanos se concentram em atividades que exigem habilidades cognitivas, tomada de decisões, supervisão e interação social. Nesse sentido, ao agrupar indústrias, os parques intensificam essa colaboração e criam centros de produção interconectados, que atraem empresas e, consequentemente, mais vagas de trabalho.
Parques industriais conformam um ecossistema de oportunidades para trabalhadores diretos e indiretos. Geram novos empregos, novas profissões, e ampliam o saldo de vagas formais, especialmente para os jovens.
A instalação de um parque industrial, não só gera empregos como atrai investimentos em logística, tecnologia e serviços. Cria efeito multiplicador de oportunidades para outros negócios.
O aumento da atividade econômica em torno dos parques industriais fortalece a renda local e gera oportunidades, beneficiando o meio urbano e rural da comunidade que os hospeda.
A capacitação de milhares de talentos requisitados pelo mercado de trabalho integrado também amplia a empregabilidade na área da educação e cultura, e fortalece a atividade econômica em todo o seu entorno.
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| "índice de vulnerabilidade" à robotização, por estado, nos EUA... |
Trump: O resgate dos valores básicos e da livre iniciativa
A política industrial americana com Trump, busca reverter o processo de desindustrialização iniciado nas últimas décadas. A estratégia passa pela valorização da produção nacional, incentivo à indústria mecânica e retomada de fontes energéticas tradicionais, com o objetivo de restaurar o antigo cinturão industrial do país.
Essa abordagem também envolve a revisão de políticas públicas e institucionais, com foco na livre iniciativa, na eficiência produtiva e na redução de entraves regulatórios
Não por outro motivo, a nova estratégia americana passa pelo resgate do nacionalismo, o combate ao aparelhamento das instituições por ativistas e o desarme destas em face liberdade de expressão e da livre iniciativa. Esse esforço se extende também para a esfera internacional, visando parar articulações geopolíticas nocivas aos interesses norte americanos - como o aparelhamento do BRICS pelo "Eixo do Mal", a criminalidade organizada, e narcotráfico politizado, bem como a ação transnacional de grupos terroristas.
No campo econômico, o conjunto de medidas passa pelo resgate dos combustíveis fósseis no ciclo econômico, com impacto direto na restauração da indústria mecânica. O objetivo estratégico é restaurar o cinturão da ferrugem dos EUA, incentivando a instalação de polos tecnológicos e, também, a reinstalação de polos tradicionais, como o de metalurgia e autopeças, que dependem de energia abundante e barata.
O resgate dos parques industriais, por óbvio, está sendo precedido de contramedidas tarifárias, que devem reequilibrar a balança e, assim, incentivar a reversão de investimentos para o território americano. Também é precedido de uma reformulação na política de atração de talentos para o território americano - buscando maior comprometimento dos quadros técnicos e intelectuais com o desenvolvimento da América.
O movimento promete bons resultados, com indícios de reativação de fábricas, geração de empregos e fortalecimento da cadeia produtiva nacional.
Outro setor estratégico visado pela política de Trump é a construção civil, que acompanha esse novo ciclo industrial, impulsionando investimentos em infraestrutura e ampliando a demanda por materiais e mão de obra especializada e não especializada.
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| O Cinturão da Seda e a Rota da Seda de Xi Jinping |
Xi Jinping: Expansão Industrial Global e Vantagem Tecnológica
A China, atenta à estratégia americana, se antecipou aos fatos e, de alguns anos para cá, investe na expansão de parques industriais fora de seu território, “nacionalizando” linhas de montagem e componentes em países consumidores, inclusive nos EUA.
O país, em verdade, se beneficiou das políticas globalistas, energéticas e ambientais implementadas no Ocidente. Essa vantagem cresceu na medida em que as restrições e indulgências sócio-ambientais elevaram custos e dificultaram a competitividade industrial americana e europeia, enquanto a China avançava tecnologicamente - consumindo insumos primários por tonelada e vendendo produtos industrializados por grama... a preços mais baixos que os que poderiam ser obtidos pela indústria remanescente no ocidente.
Xi Jinping consolidou a política do "Cinturão da Seda" - instalando infraestrutura que favorece as províncias periféricas da China no comércio com os países vizinhos. Também consolidou a "Rota da Seda" - incrementando o tráfego aero-ferroviário de Chengzhou a Hamburgo, com um super hub instalado em Duisburgo.
No entanto, no mesmo período, a China tratou de montar um polo tecnológico na América do Sul, compreendendo a Estação de Observação Espacial de Neuquém, a revitalização da ferrovia interpatagônica e a construção de uma usina nuclear em parceria com a Argentina na Terra do Fogo. A China também busca planejar uma rota transoceânica do Brasil ao Peru - para escoamento de minério e grãos. No entanto, a China busca instalar indústrias eletromecânicas e montadoras de veículos no Brasil. Projetos os quais, no entanto, tramitam em ambientes burocráticos complexos, característicos da instabilidade política dos países na América Latina.
Em verdade, China e EUA vivem o paradoxo da interdependência. Vale dizer: mesmo com a rivalidade, ambas as cadeias globais de produção continuam integradas, tornando difícil qualquer ruptura sem prejuízos para ambos os lados. Portanto, a solução do compartilhamento de oportunidades nos países fornecedores de commodities, está muito clara no horizonte.
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| O complexo ambiente sul americano... |
Redefinindo os cenários estratégicos
Trump busca reaproximar a América do Sul aos EUA, enquanto a China amplia sua presença na África.
O Mar da China Meridional permanece, assim, como principal foco de tensão geoestratégica.
A África surge como o promissor mercado extrativista continental, fornecendo produtos agrícolas, minério e petróleo para a China - que, no entanto, herda o passivo da instabilidade política na região.
Com o movimento entre as potências consensuado, a América Latina deverá sofrer um "efeito dominó", com a substituição de regimes de esquerda por governos mais "ocidentais", alinhados aos EUA. Esse realinhamento poderá não afetar investimentos chineses. Na verdade irá desanuviar a atmosfera comercial, retirando de cena conflitos ideológicos, facilitando acordos comerciais e parcerias pacíficas do continente com ambos os gigantes.
Posto isso, a Europa deverá rever os posicionamentos globalistas - cujo eurocentrismo financeiro é evidente, se quiser jogar com China e EUA no mesmo tabuleiro - e isso inclue outros dois importantes players: Japão e Rússia.
Conclusão
O Futuro dos Parques Industriais poderá, portanto, redefinir o equilíbrio global.
Não se trata, assim, de modular discursos de ocasião. A política de revitalização e instalação de parques industriais deveria ser algo a ser estudado por todo e qualquer país minimamente desenvolvido - com olhos postos nas duas potências em disputa. Quem conseguir alinhar produção, tecnologia e influência terá papel central nas novas regras do comércio internacional.
A disputa entre EUA e China segue aberta, com impactos diretos sobre indústria, energia e infraestrutura.
O equilíbrio entre competição e parceria, tradição e inovação, no entanto, será decisivo para os próximos capítulos dessa história.






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