QUEM MISSÃO NOBRE DESEMPENHA, NÃO PODE TEMER A TIRANIA!
Por Maynard Marques de Santa Rosa
“Os costumes, a história de um povo e sua tradição cultural, influenciam a forma como as pessoas pensam e aquilo em que acreditam” (René Descartes)
A cultura representa a alma do povo. Os atavismos agem como sombras do inconsciente coletivo que desafiam o progresso.
No Brasil, a omissão e a indiferença são traços marcantes do caráter nacional. O brasileiro não gosta de se incomodar: se o problema não diz respeito a si próprio nem à sua família, não lhe interessa. Com isso, foge das responsabilidades de cidadão e dá espaço a aventureiros e oportunistas políticos.
Outro atavismo nacional é a dissimulação: se a verdade desagrada e falta coragem, usa uma desculpa evasiva, um subterfúgio menos ofensivo ou uma historinha atenuante que sirva para se justificar.
Há, também, a esperteza consagrada como “lei de Gerson”: se quer uma vantagem, mas tem concorrentes mais fortes, busca um “jeitinho” salvador. E ainda tem o complexo de culpa das elites, cuja causa Gilberto Freyre atribuiu aos 350 anos de escravidão. Esse remorso latente encerra a leniência que estimula o coitadismo, a tolerância aos abusos das minorias e o truque da “transferência” de responsabilidade dos criminosos para a sociedade.
Contudo, acima de todos reina a corrupção, que pode ser resumida na frase de Maquiavel: “Para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”.
No cotidiano, as virtudes populares compensam as mazelas culturais. Mas, em circunstâncias de crise institucional, fica o país no aguardo de “alguém” que tome a iniciativa e resolva o problema (assumindo os riscos).
A ordem atual, catalisada que foi pelos enredos de 8 de janeiro de 2022, desaguou em um estado de “aberratio legis”, como descrito pelo mestre do Direito Constitucional, Oliveiros Litrento, em suas aulas na Academia Militar das Agulhas Negras.
A Suprema Corte avocou a si as providências repressivas, atropelando os demais Poderes. A investigação da baderna relevou a ação oculta dos militantes que iniciaram a depredação, para construir a narrativa de culpa de um lado só. O clima de medo que se seguiu inibe as manifestações públicas.
A vigilância político-jurídica que se instalou concentra-se nas redes sociais, violando as garantias constitucionais à manifestação do pensamento, inclusive as dos parlamentares. E, nesse contexto disfuncional, as Forças Armadas isentam-se, abrigadas na lei e da ordem.
É humilhante, para o espírito de corpo, a passividade ante o julgamento político de companheiros de armas, presos sem comprovação de crime e sem condenação em processo regular com sentença transitada em julgado.
Chega a ser irônico ouvir, na solidão do quartel que os mantém por menagem, os acordes do “Avante Camaradas”, canção feita em homenagem à coluna revolucionária Miguel Costa-Prestes: “Aqui, não há quem nos detenha/ E nem quem turbe a nossa galhardia/ Quem nobre missão desempenha/ Temer não pode a tirania, a tirania/ E nunca seremos vencidos/ Porque marchamos sob a luz da crença/ Marchemos sempre convencidos/ Não há denodo que nos vença! "

General de Exército Maynard Marques de Santa Rosa é oficial reformado do Exército Brasileiro, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ), tendo servido em 24 Unidades Militares do Território Nacional durante 49 anos de atividade na carreira. Possui mestrado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Rio de Janeiro e doutorado em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também do RJ. No exterior, graduou-se em Política e Estratégia, em pós-doutorado no U.S. Army War College (Carlisle/PA, 1988/89). Foi Ministro-chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), no Governo Bolsonaro (2019), atualmente chefia o Centro de Estudos Estratégicos do Instituto Iniciativa DEX.
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