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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O ILUSÓRIO TRIUNFO DA MEDIOCRIDADE

Agir emocionalmente é expediente dos desprovidos de argumentos. Debater com "iluminados" - definitivamente, é perda de tempo






Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro




Mateus 7:6
"Não deem o que é sagrado aos cães, 
nem atirem suas  pérolas aos porcos; 
caso  contrário,  estes  as  pisarão  e, 
aqueles,  voltando-se   contra   vocês, 
os despedaçarão."

 


TRISTE É A NAÇÃO que desaprendeu a pensar e aboliu, no seu seio, o direito de discordar. 


Buscando o básico

Buscar conhecimento e trocar ideias com quem pensa diferente,  pressupõe atitude positiva, proativa e propositiva do interlocutor.  Esse é o núcleo da inteligência de qualquer democracia.

Fóruns de discussão e de debates, virtuais ou presenciais, são ambientes destinados a isso. Aliás, desde o período clássico, berço do pensamento democrático ocidental, o termo "fórum" é sinônimo de praça pública para a discussão e troca de ideias sobre temas comuns. Nesses espaços se desenvolve o livre debate, com garantia do contraditório, com ganhos para a Justiça e para os horizontes do conhecimento humano.

Os fóruns digitais também se destinam à informação, à colheita de fatos e análises que, emboram possam não estar  no "calor do debate", servem de fonte ou base para questões afins.


O manto da escuridão

A escuridão do rancor, no entanto, parece estar drenando a luz do conhecimento, cobrindo o livre debate com o manto da arrogância.

É fácil diagnosticar o mal.  Basta observar o comportamento acadêmico, de alunos e professores, dos grupos de discussão nas redes sociais e sentir o ambiente nos eventos de debates voltados à questões de interesse difuso, como as de ordem político-social, identitária, ambiental ou climática. 

De fato, sejam  produzidos por hostes governamentais ou entidades acadêmicas, o foco da troca de ideias e impressões nesses fóruns perde-se no proselitismo, na troca de posições similares com teor emulativo ou, pelo contrário,  na pura intolerância.  

Há um clima generalizado de assembleia estudantil (de má qualidade), ou de madrassa (onde todos rezam o mesmo livro sagrado, em uníssono). Nessa escuridão da mesmice emulada,  a massa articulada parece se incomodar profundamente com algo que distoe da concordância entre concordantes, ou com quem ouse pensar fora da caixa do ali consensuado. A troca de ideias repetidas torna-se um formigueiro de mediocridades, uma colmeia destinada ao mesmo mel, onde a mínima luz... é suficiente para gerar um enxame.

O "consenso" é hoje um sinônimo de zona de conforto desprovida de oxigênio.  Uma forma de dissimular a censura, inibir a divulgação de fatos, reprimir análises divergentes, condenar manifestações discordantes e suprimir registros "desconformes".

A  pretexto de reprimir polarizações, reina nas mídias tradicionais do establishment,  no bate-papo de panelas, ou no grupo de boteco da esquina, um clima hipócrita de "concordâncias", desenhadas sobre a lápide do livre pensar.  Nesses rebanhos de ovelhas, qualquer "lobo" usa o manto de lã, reprimido pelo "medo de desagradar".


Seria isso um "triunfo dos medíocres"?  

Com certeza, não. É uma "gripe"passageira. 

O ocidente já passou por inúmeros apagões de inteligência, em forma de pandemia, e sobreviveu.

Nosso problema é que, no Brasil, a mediocridade parece ter se tornado crônica. Por aqui, o tratamento será amargo. Irá demandar firme propósito e determinação.    


Siga a luz, não a verdade

O clima no mundo "woke" ocidental, parece condenado à permanente inquisição. 

É paradoxal. No regime dos "libertários ressentidos", prevalece a "caça às bruxas" e a condenação dos "negacionistas" à fogueira. Algo próximo à barbárie medieval - e bem distante da civilização. 

"Crentes" climáticos, progressistas identitários, socialistas liberais (sic)  e biocentristas, destroem e estigmatizam as próprias bandeiras. Terminam moralmente inferiorizados; determinados a manter estreita a própria mente.  Autocentrados nos seus propósitos seletivos, deslumbrados com um protagonismo construído no cenário tosco da mesmice, esses quadros terminam na entropia. 

E não se diga que não há tecnologia disponível para romper com tudo isso. Fóruns de debates proliferam, e no entanto naufragam no mar de maledicências, poluídos por militantes travestidos de autoridade, policiais de costumes e patrulheiros ideológicos,  dotados de reatividade emocional e prontos a ofender pessoas a pretexto de combater ideias, disparar surradas palavras de ordem e defender dogmas "confortáveis",  exuberando conhecimento...  

No campo da política e da guerra legal - os conflitos assimétricos são estimulados por hordas "progressistas", biocentristas ou identitárias,  contra  valores ocidentais consagrados e quem os defenda. 

Na ausência de argumentos, a criatividade destrutiva do rancor dirige seu alvo para a figura do discordante. Maledicência e contumélia tornam-se pretexto para retaliar.

Isso decorre de uma constatação dolorosa: para seguir valores ou manejá-los com pendor crítico, é preciso ser dotado de coragem moral e domínio da razão. Tais qualidades não florescem nos ambientes medíocres.


A mediocridade é solidária. 

Próceres da mesmice consensuada mimetizam um conforto intelectual que sabem não possuir. Intentam fazê-lo ao buscar refúgio uns nos outros, para conferir alguma sensação de segurança às suas estreitas certezas, todas  elas encerradas num mesmo viés.  

É sintomático: o problema, há muito deixou de ser político ou científico. Ele é de ordem psicológica.

No ambiente de proselitistas, não há horizonte a ser ampliado, pois o cenário será sempre o recalque, despejado sobre qualquer um que ouse tirar os ensimesmados  da "zona de conforto" das unanimidades plenas de certezas.

Essa mesmerização, infundida na massa de propensos a pensar com a cabeça enviesada, transfere para o divã  do analista não apenas o comportamento intolerante do desavisado como, também, as próprias  instituições de Estado.

No Brasil e no ocidente "woke",   instituições  que deveriam proteger o livre debate e a livre manifestação, não mais o fazem. Órgãos de Estado estão contaminados pelo vírus da mesmice e da arrogância.  

O Estado moderno está contaminado por esse vírus - e esse vírus destrói os fundamentos do Estado de Direito e da própria democracia. Essa doença destrói a razão da defesa do ocidente do direito á livre manifestação do pensamento.
 
Lidamos, hoje, com um ente imerso na desorganização social e psíquica, tomado pela desordem, por crises de valores e conflitos internos não resolvidos. Um Estado à deriva  que gera o caos, libera nas pessoas emoções reprimidas e desintegra o tecido social; algo em perfeita associação conceitual com a entropia física.


Tem saída!

Se a arrogância corrói o medíocre - e o valor individual faz a diferença.

Emitir sinais de discordância, revelar que possui inteligência espacial - assim definida como a capacidade de percepção, visualização e transformação de cenários e contextos -  é  risco que todo privilegiado precisa assumir. 

Aquele que se destaca, se expõe a sugadores de energia. E os sugadores são  incapazes de pensar fora da caixa de ferramentas, dentro das quais vivem apertando os mesmos parafusos - daí a referência bíblica  posta no início deste texto.

Consenso não é dogma. Ciência não é questão de fé e sim, de dúvida.

Se o sistema se organiza para proibir o livre exercício da dúvida, exercitar o raciocínio é um excelente remédio. 

A defesa intransigente da liberdade de expressão, define a fronteira entre os moralmente superiores e os hipócritas, que forjam o monopólio de sua "imoralidade" peculiar.  

No campo do conhecimento, da educação e da ciência, a pesquisa científica avança com a dúvida e a busca de  novos paradigmas. Debater teses ou estabelecer posições críticas a consensos eventuais, não torna o cético "pecador". 

Nenhuma titulação está acima do conhecimento. Por sua vez, erudição sem cultura é mera decoração de vitrine.

A saída está no estoicismo, na resiliência intelectual e na prática contínua da busca de conhecimento. O desconforto deve servir de estímulo, jamais de  pretexto para o desânimo ante a estupidez dos arrogantes.

Portanto, questione, pergunte, reaja com humildade e aprenda com o alheio.

Importante anotar que a omissão e a covardia contribuem para incrementar a mediocridade. A censura moral sobre os que divergem... é miragem para iludir tolos. 

Covardes se omitem, e angariam apenas o desprezo.  Os  omissos terminam diluídos na imensa maioria silenciosa, que tudo vê, ouve e lê... e que, independente daqueles,  forma o juízo da razão.  

A maioria silenciosa é importante. Merece conhecer e compreender as vozes que concordam e, sobretudo, as que discordam da manada. 

Ignore o "efeito-manada", A manada é indistinguível, órfã de personalidade.

Agir emocionalmente é expediente dos desprovidos de argumentos. Debater com esses "iluminados" - definitivamente, é perda de tempo.

Pratique a reflexão e a tolerância. 

Na verdade, o tempo sempre foi e continuará sendo, o senhor da razão. 

Portanto, persevere.  






Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor institucional e ambiental. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é diretor da AICA - Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Integrou o Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional e Presidiu o Comitê de Meio Ambiente da Câmara Americanade Comércio - AMCHAM. Foi professor da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, docente do NISAM - Núcleo de Informações e Saúde Ambiental da USP e Consultor do PNUD e do UNICRI - Interregional Crime Research Institute, das Nações Unidas. Possui vários trabalhos e consultorias publicados para o Banco Mundial, IFC e outros organismos multilaterais. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, é Conselheiro no Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Iniciativa DEX, preside a tradicional entidade UNIÁGUA - Universidade da Água. Foi Secretário do Verde e Meio Ambiente (Gestão Régis de Oliveira) e primeiro Secretário Executivo de Mudanças Climáticas (Gestão Ricardo Nunes), da Cidade de São Paulo. Fundou e Presidiu a Comissão de Meio Ambiente da OAB SP, sendo declarado membro emérito pelo Conselho Seccional. Coordenou o Grupo Técnico organizado para elaborar o texto substitutivo do PL da Política Nacional de Mudanças Climáticas, na Relatoria do Deputado Federal Mendes Thame - apresentado, aprovado e sancionado em 2009. Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.






3 comentários:

  1. Prezado Antônio, bom dia. Acompanho o seu trabalho e admiro os seus artigos, sempre muito bem estruturados e competentes. Este, por exemplo, reflete o que também penso a respeito do atual marasmo e da passividade angustiante de uma sociedade anestesiada. Excelente! Permita-me compartilhar. Parabéns!

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  2. Antonio carlos Nascimento2 de julho de 2024 às 14:17

    Meu caro professor, a sua visão é ao mesmo tempo, simples pela sua lógica e complexa para alcançar seu digno propósito em razão da surdez provocada pelo temor atual. Parabéns, sou admirador de sua pontaria, só no alvo. Abraço

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