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sábado, 25 de fevereiro de 2023

ALUCINAÇÃO FATAL

O caos em marcha é previsível, e a decadência, inexorável



Por Maynard Marques de Santa Rosa

Durante um simpósio temático, renomado psiquiatra relatou-nos que o maior desafio do seu trabalho era permanecer normal, isto é, manter-se dentro dos referenciais de comportamento convenientes ao meio social. A interação com os problemas dos pacientes provoca nele transtornos mentais que colocam em cheque a lucidez, exigindo-lhe uma sessão de terapia psicológica mensal, como prevenção. 

O Dr. Jung revelou que as coletividades reagem aos estímulos psicológicos da mesma forma que os indivíduos, sendo, portanto, suscetíveis às mesmas anomalias. É por isso que: “A manipulação da opinião pública provoca uma repressão das reações inconscientes, causando dissociação neurótica e enfermidade mental. Toda tentativa de reprimir as reações do inconsciente, a longo prazo acaba falhando, já que está em oposição aos nossos instintos” (O Homem e Seus Símbolos, pág. 297).

A sociedade atual, impelida por “engenheiros sociais” a serviço de ideologias exóticas, vem perdendo os referenciais de conduta consagrados por uma experiência milenar. A intenção de “destruir a cultura burguesa” começa pela relativização dos conceitos basilares e se apoia em meias verdades. A prevenção desta praga só se faz pela prática do mandamento evangélico: “Seja o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” (MT 5-37).

Começou na Europa a tentativa de destruir os pilares da sociedade tradicional, para massificá-la e dominá-la. A família, o cristianismo e os valores culturais viraram alvos preferenciais de uma campanha psicológica satânica. A sociedade, despreparada e indefesa pela perda dos referenciais que poderiam balizar-lhe o discernimento, abismou-se ante o bombardeio contínuo.

Com a proliferação das redes sociais, veio a tendência grupal de alienar-se em bolhas de realidade virtual, como mecanismo de defesa. Essas bolhas adquirem características próprias, em função das motivações e conveniências do grupo. 

Nas universidades, geraram-se modismos teleológicas nas disciplinas sociais, que se transferiram à cultura profissional externa, onde a ética fica submetida à práxis de que “os fins justificam os meios”. É visível o messianismo do Direito, assim como da Antropologia e da Sociologia, em sua sanha de reformar o mundo. O reflexo aparece nas disfuncionalidades do Poder Judiciário e do Ministério Público. 

Alguns grupos libertários chegam a desafiar as leis da natureza e, para iludir o público quanto ao malefício de suas bandeiras, ocultam os efeitos reais do desvario, omitindo as estatísticas de suicídio e neurose a que estão propensos. 

Assim, a sociedade vai se dissociando, para tornar-se um conglomerado de grupos corporativos herméticos onde a dialética assemelha-se à da barbárie.

O caos em marcha é previsível, e a decadência, inexorável. O tratamento da enfermidade vai requerer uma catarse generalizada, voluntária ou não, para o resgate da transcendência humana e dos valores morais da tradição.  


  

General de Exército Maynard Marques de Santa Rosa é oficial reformado do Exército Brasileiro, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ), tendo servido em 24 Unidades Militares do Território Nacional durante 49 anos de atividade na carreira. Possui mestrado pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Rio de Janeiro e doutorado em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também do RJ. No exterior, graduou-se em Política e Estratégia, em pós-doutorado no U.S. Army War College (Carlisle/PA, 1988/89). Foi Ministro-chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), no Governo Bolsonaro (2019).



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