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quinta-feira, 22 de abril de 2021

BRASIL CAI NA ARMADILHA DE BIDEN E ASSUME METAS DA CÚPULA DO CLIMA

 EUA usaram Cúpula do Clima como ‘armadilha’ para mudar discurso do Brasil sobre o clima, diz Pinheiro Pedro


Bolsonaro discursa na Cúpula do Clima

 



Da redação

Na cúpula do Clima, realizada sob o comando do Presidente Norte Americano Joe Biden, o Brasil seguiu a promessa dos EUA de zerar as emissões até 2050 - dez anos antes do previsto no Acordo de Paris, de 2015.  Com isso, o Brasil sinaliza uma meta que parece, de fato, não querer ter seguido ou pretender seguir - dado aos seus atos e ações adotados nos últimos dois anos de governo. 

O Acordo de Paris é o foco principal da Cúpula do Clima. Uma espécie de "termostato de papel" *, de complexa implementação, que demanda profundo engajamento dos países aderentes ao compromisso - neles incluindo o Brasil. 

Se em 2019, o Governo Bolsonaro iniciou pretendendo adotar uma via alternativa - buscando um destaque  inovador e independente no cumprimento das metas traçadas pelo Acordo do Clima de Paris, inclusive ensaiando uma reestruturação da política nacional de Gestão do Clima** - já a partir do final do  final do mesmo ano, tratou de travar absolutamente todo o sistema de gestão nacional do clima. 

Esse processo foi descrito e analisado pelo advogado Pinheiro Pedro, antes do  evento mundial da Cúpula - já prevendo a "armadilha" armada por Biden, e antecipada pelo ultimato dado pelo Embaixador Americano Chapman.  

Antecipando a Cúpula do Clima,  embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, afirmou em um encontro com políticos e jornalistas brasileiros, no dia 11 de abril, que o país teria a “última chance” de mostrar compromisso com o meio ambiente. Sobre isso, a mídia russa Sputnik Brasil ouviu  o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro,  especialista no tema, que alertou para a “situação delicada” que o Brasil enfrenta.

A cúpula convocada pelo presidente norte-americano, Joe Biden iniciou-se neste dia 22 de abril, reunindo cerca de 40 líderes mundiais. Sem exceção, todos os países incrementaram suas metas de redução de emissões e neutralização de carbono até o prazo dado pelo Acordo de Paris (2060). 

Com relação às declarações dadas antes da reunião por Chapman, o embaixador americano, foi taxativo ao dizer que o meio ambiente será o ponto mais importante da relação entre Washington e Brasília, apontando que esse elemento influenciará acordos comerciais e também a possível entrada do Brasil na OCDE.

Para Antonio Fernando Pinheiro Pedro, o embaixador norte-americano expressou um “ultimato” dos EUA, refletindo a mudança de postura da Casa Branca em relação ao tema climático.

“Brasil e Estados Unidos têm que buscar obrigatoriamente, por meio dos seus chefes de Estado, uma aproximação e uma integração, isso sem dúvida nenhuma. Por outro lado, a missão do embaixador norte-americano é de dar esse ultimato, porque há uma patente necessidade também do Brasil retomar a sua posição chave no cumprimento do tratado de mudança do clima, em especial agora com o Acordo de Paris”, afirma o advogado em entrevista à Sputnik Brasil.


Reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. (foto twitter oficial do embaixador Todd Chapman)


O advogado Pinheiro Pedro acredita que os EUA estão usaram a Cúpula do Clima como uma espécie de “armadilha”, cujo gancho seria o discurso do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que serviria de teste para sinalizar uma aproximação com a atual política ambiental norte-americana. De fato, parece que a previsão se concretizou no discurso expressado pelo presidente brasileiro, cujas metas ousadas contrastam com atos e posturas adotadas até a véspera do evento. 

“É patente que os Estados Unidos estão fazendo o famoso jogo do morde e assopra, e nesse morde e assopra, eles percebem que precisam atrair para uma armadilha, digamos assim, internacional, o governo brasileiro, e buscar uma confirmação de um comprometimento a partir do chefe de Estado”, avalia.

O especialista ressalta que o governo Bolsonaro não tem agido para cumprir compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e tem trabalhado internamente contra a proteção ambiental. Dessa forma, ele acredita que o país atualmente pouco tem para apresentar em termos de preocupação com o meio ambiente.

“O governo brasileiro simplesmente demoliu a estrutura de cumprimento da política nacional de mudanças climáticas no Brasil. E, só agora, aos poucos, está recompondo as peças para fazer a implementação da política de mudanças climáticas. Até pouco tempo sequer o conselho do clima interministerial estava montado. E, hoje, se por um lado está montado, não está agindo”, aponta o advogado.

Acesse a entrevista clicando aqui ou na imagem abaixo:

Advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, especialista em Direito Ambiental, comenta as declarações atribuídas pelo jornal Folha de São Paulo ao embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, de que “o governo dos Estados Unidos considera a Cúpula de Líderes sobre o Clima, marcada pelo presidente Joe Biden para a próxima semana, como a última chance de o Brasil mostrar preocupação ambiental para recuperar a confiança dos americanos e ampliar as relações com a Casa Branca.”

Segundo Pinheiro Pedro, essa falta de compromisso do país foi percebida pelo atual governo dos EUA, que agora passa a pressionar o Brasil nesse sentido em um momento em que o país está em uma situação internacional “delicada”.

“Isso com certeza não escapou da observação atenta da política externa norte-americana. Nós falamos, mantemos uma posição, no entanto, essa posição não é seguida pelo discurso do chefe de Estado, mas, também, em que pese estarmos falando, mantendo essa posição, tratamos de destruir os instrumentos que seriam as instituições encarregadas de implementar o acordo do clima em território nacional”, avalia Pinheiro Pedro.

O especialista aponta que a política ambiental no Brasil retrocedeu no atual governo, ressaltando o avanço do desmatamento na gestão Bolsonaro. Para o advogado, o discurso apresentando pelo Brasil na Cúpula de Líderes sobre o Clima será uma espécie de teste de fogo e pode desmoralizar “de vez” o país.

“É óbvio que estamos diante de uma necessidade de confirmação, por parte do chefe de Estado [Bolsonaro], de que realmente ele vai seguir os termos do Acordo de Paris, ou não. Tenho para mim que ou o Brasil agora adota uma posição independente, se engaja, mas com as reservas necessárias, ou ele pode se desmoralizar de vez”, afirma.

 De fato, a posição brasileira foi tida por "ousada" no discurso proferido por Bolsonaro na abertura da Cúpula do Clima. Mas, nas atuais condições de "temperatura e pressão" em que se insere a gestão de Bolsonaro e por conta da verdadeira "gangorra" discursiva do idiossincrático líder populista brasileiro, a possibilidade da meta ser alcançada ou "dobrada" (no estilo Dilma), ao final do prazo, é mais factível que seu cumprimento. 

Aliás, o detalhe da baixa credibilidade do chefe de estado brasileiro em relação a seus compromissos, ficou expresso na forma como esse discurso foi proferido - seja pela ordem de falas (21º inscrito, após inclusive  o presidente da Argentina) e pela atenção dispensada (Biden se ausentou da sala de conferências antes que Bolsonaro se pronunciasse). 

O curioso é que o governo Bolsonaro, sem abandonar o  Tratado de Paris, havia iniciado um processo de inovar na implementação da política ambiental e ganhar certa independência nessa atuação, no ano de 2019 - seguindo orientações firmadas na transição do governo Temer e articuladas por meio de conselhos de vários técnicos, incluso de Pinheiro Pedro***.  O problema é que, já no final do ano de 2019 e durante todo o ano de 2020, o governo Bolsonaro efetuou um verdadeiro divórcio  entre o que propalara e o que fizera. O resultado foi o engajamento em um processo muito ruim de descrédito internacional.  

Dessa forma, o que busca agora o governo brasileiro informar, de maneira discursiva, na Cúpula do Clima... nada mais é o que já deveria ter buscado no seu primeiro ano de gestão. Um atraso, portanto, de dois anos no cronograma (se é que irá seguir, de fato, algum cronograma). 

Mas há um detalhe grave, aduzido por Pinheiro Pedro em nota nas redes sociais, com relação ao discurso do Presidente e sua repercussão disfuncional dos que apenas enxergaram a superfície da questão:   

"O fato é que os bodes expiatórios entraram em extinção e não há mais barranco para jogá-los em sacrifício. A hora da verdade já chegou e os populistas se recusam a conferir o relógio - isso vale para os saudosistas de ontem... e para os de anteontem - à esquerda e à direita.   Vemos uma turba aplaudir o discurso de Bolsonaro na Cúpula do Clima... e outra turba apupar o orador e seu discurso - e ambas as plateias não perceberam que o governo e seus técnicos não se preocuparam em fazer a lição de casa em nome da soberania do Brasil. Não perceberam que a Europa RETIROU os biocombustíveis dos protocolos de investimentos sustentáveis - intentando nos fazer engolir caríssimos carros elétricos ao custo da perda de uma  commodity fulcral para nossa soberania agro-energética. Não perceberam que a regularização fundiária NADA TEM A VER  com o desmatamento ilegal - pelo contrário, é um remédio contra o fenômeno,  e que  GARIMPO não é solução para problema social na exploração da riqueza mineral e  não se confunde com a sustentável mineração industrial e controlada. Esqueceram que o Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia (que inclui o Pantanal) já possui os macroeixos necessários para mostrar ao mundo o quanto podemos estar adiantados em nosso controle territorial planejado e, pior, NÃO IMPLEMENTAM OS INSTRUMENTOS QUE TÊM À MÃO simplesmente porque  desconhecem sua existência."

Posto isso, é de se esperar desdobramentos complexos e cobranças duras, antes que os aportes solicitados pelo Brasil, de fato sejam carreados. 



Notas: 

*PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "Mudanças Climáticas - O Acordo-Termostato de Paris", in "The Eagle View", 2015, in https://www.theeagleview.com.br/2015/12/mudancas-climaticas-o-acordo-termostato.html

**PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "Reposicionamento da Gestão do Clima no Governo Bolsonaro - Uma Proposta", in "The Eagle View", 2019,  in https://www.theeagleview.com.br/2019/06/reposicionamento-da-gestao-do-clima-no.html

***PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "Governo Age Certo: A Saída para o Desmatamento está na Economia e na Mudança de Atitude em Relação ao Clima". in "The Eagle View", 2019, in https://www.theeagleview.com.br/2019/11/governo-age-certo-saida-para-o.html


Referências: 

Baseado em matéria do site Sputnik Brasil:                    https://br.sputniknews.com/brasil/2021041517335511-com-ultimato-eua-usam-armadilha-para-mudar-discurso-do-brasil-sobre-o-clima-diz-especialista/

Baseado em matéria do site Ambiente Legal:  http://www.ambientelegal.com.br/com-ultimato-eua-usam-armadilha-para-mudar-discurso-do-brasil-sobre-o-clima-diz-especialista/




Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Foi integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional. É membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da API- Associação Paulista de Imprensa. É Editor-Chefe dos Portais Ambiente Legal, Dazibao e responsável pelo blog The Eagle View. Twitter: @Pinheiro_Pedro. LinkedIn: http://www.linkedin.com/in/pinheiropedro



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