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quarta-feira, 3 de março de 2021

PARA ENTENDER A BANALIDADE DO MAL

Utilitarismo e hipocrisia comandam a política homicida no Brasil e no mundo


Ministro Guedes - Charge: Lafa (@UltraLafa



Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Como Hannah Arendt constata em “Eichman em Jerusalém”, não há limites entre o totalitarismo e a mediocridade. A perversidade surge como um efeito ordinário, cotidiano e aceitável... do mais tosco e imbecil utilitarismo monolítico.


O utilitarismo é pressuposto de qualquer regime totalitário, seja ele teocrático ou ideocrático. No nazismo, foi adotado como espinha dorsal da doutrina racial, sem rodeios. No regime comunista de Stalin e Mao, ganhou escalas utilitaristas ainda maiores. Já no populismo latino, permanece dissimulado sob o manto da hipocrisia. 


A "pandemia" do H1N1, sucedida do COVID19, trouxe à luz toda a pantomima totalitária orwelliana de "1984", a hipocrisia do drama existencial de Camus no romance "A Peste", e o dilema coletivo e estigmatizando da peça "Um Inimigo do Povo", de Henrik Ibsen. O pesadelo descrito nas obras, fruto da vivência dos autores, resurge articulado e sinergicamente transformado em realidade. De fato, em todas essas obras, o vilão é o utilitarismo, um vírus que a todos contamina e persegue em cada sombra, a oportunidade de expor o ódio, a negação da verdade, a criminalização da razão e o controle das massas pelo medo.

  

A frase de Albert Camus diz tudo: “A peste que nos assola é, sobretudo, a do vírus do ódio e da indiferença aos pobres. O flagelo que nos açoita é a morte como projeto político, o caos e o obscurantismo visando restaurar um regime político de terror.”


Convido o leitor a dar um passo atrás e... observar todo o quadro que agora vivemos.

 

Desde a passagem do Século, sofremos com o terror da quebra sistemática dos valores que regem nossa sociedade e, de fato, amparam a Soberania Popular - base da democracia e esteio da vontade soberana dos Estados Nacionais.  Essa guerra contra tudo o que acreditamos e conquistamos, como seres humanos, desde o fim da Segunda Guerra e da Guerra Fria - embute a vontade aristrocrática, cínica, fria e absolutamente utilitarista do chamado Globalismo Progressista. Movimento surgido no bojo das academias dominadas por um "marxismo ébrio e disfuncional", massas de idiotas em busca de alguma bandeira que os retire da medíocre invisibilidade e um clube de financistas abutres , que perceberam o quanto podem lucrar destruindo os sistemas de controle democrático... que não podem comprar.  


Temer assumiu o governo após a queda desonrosa desse modelo esquerdista, impondo reformas econômicas importantes, seguido, então pela eleição de Jair Bolsonaro, cujo projeto, claramente, era o de destruir de vez o câncer globalista progressista no Brasil.

 

Porém, surgiram as "pandemias"... e com elas, o golpe em escala planetária dos globalistas - não só destruindo e judicializando o pluralismo democrático, como também impondo a censura em escala nunca antes vista. 


Mas, para espanto de todos, na tentativa de resistir a esse movimento, o Presidente Bolsonaro parecee ter buscado recorrer ao mesmo  discurso utilitarista, hipócrita e espantosamente linear, adotado por  sua ala de seguidores e sua equipe econômica, ante a pandemia.

 

Explico: 


De início, as ponderações quanto à real necessidade de medidas de restrição a direitos - como as determinadas por governadores e prefeitos - incluso o temor de transformar a população em cobaia de experimentos vacinais não seguros, seguiram a lógica conservadora esperada.  Porém, a atitude extremamente reativa adotada, aconselhada inclusive pelos "baba ovo" que infelizmente cercaram o líder nas conversas de bastidor no palácio do Planalto - escancarou uma manobra condenável do governo federal, de "se isentar" das decisões locais e estaduais - de imporem isolamento social e quarentena - para com isso regurgitar um "ganho pela esperteza" - sendo essa "esperteza", inclusive, transmitida "elogiosamente" por bolsonaristas incautos nas redes sociais.

 

Feito o estrago, a sensibilidade popular face à atitude de Bolsonaro,  transcendeu a ponderação para cair na armadilha da insensibilidade arrogante diante da pandemia. Revelou-se Bolsonaro, assim, um governante reativo, sem empatia com o drama humano que enfrenta.


Portanto, não deu outra - a lógica homicida embutida no raciocínio generalizado é a seguinte:


1- A economia funciona como um moedor de carne humana: todo dia necessita de seres vivos, que se sacrificam  para movimentá-la.

2- O Estado preserva os seus, porém mói os demais - é dali que retira os recursos para preservar os seus.

3- O excesso de desassistidos (devidamente moídos),  é um "efeito natural" desse processo. No entanto, prejudica a ordem e desestabiliza o moedor de carne. Gera uma "gordura" social indesejável e cara. 

4- Transferir renda e atender desassistidos implica em aumento da carga tributária para grandes fortunas e corporações financeiras. Também compromete financeiramente o Estado. Isso "piora" com a longevidade crescente. Melhor seria, portanto, eliminar essa "gordura". 

4- Posto isso, a pandemia pode ser a "solução final" para o problema da gordura. Por ela, a elite engajada suporta a "gripezinha", enquanto os velhos,  os fracos, os "maricas", sucumbem à doença.

5- O "tratamento precoce" surge como a grande arma para a solução final. Ele não resolve nada para quem deve morrer e auxilia na redução da carga viral de quem - de todo modo, sobreviveria.

6- A "solução final" permite, por outro lado, que o moedor de carne volte a funcionar plenamente. Assim, o Estado pode massificar a contaminação, permitir a exclusão,  gerar "imunização de rebanho" entre os fortes e descartar os fracos - reduzindo a "gordura". 

7- Ou seja: nada de vacina! Quem pegar o vírus, que se trate precocemente - supere ou morra. Isso irá "salvar a economia".

8- Ainda assim, se houver morte em massa, basta fazer uso do biquíni das estatísticas - pois o biquíni, tal qual as estatísticas, mostra o que é sugestivo e esconde o essencial. Malabarismo numérico relativiza a dura realidade absoluta.  

 

Contudo, nesse estreito campo de visão,  Bolsonaro foi conduzido para o rol dos paradoxos invencíveis: se o que "atrapalha" é a vacina; visto nessa perspectiva, a imunização em massa torna-se inimiga da "solução final".


Mas a perversão não para aí. A tragédia por que passamos no Brasil, gerou uma nova simbiose entre a enorme concentração de capital - em mãos de corporações apátridas, e o governante rotulado como "utilitarista amalucado",  quando o foco na macro estratégia que insistiu em abandonar, deveria desde sempre se empenhar em manter a economia em pleno funcionamento. 


A "Nova Ordem Mundial", de início denunciada corretamente pelos "soberanistas-bolsonaristas", de fato excluiu uma grande massa de indivíduos, que forma a gordura de desassistidos.  Na verdade, os globalistas - e seus acólitos esquerdistas, usam e abusam do pensamento utilitarista, dissimulado na hipocrisia do "politicamente correto". A oportunidade (?) da pandemia, revelou toda a sordidez dess grupo de hipócritas que, cedo ou tarde, irá se ver com o tribunal da história.

  

Porém, em face à pandemia, o moedor de carne da economia - sem prevenção ou restrições, graças à péssima comunicaçãõ bolsonarista, terminou rotulando o próprio bolsonarismo. A mídia mainstream, comprada, usada e abusada diuturnamente, jogou no colo do governo de Bolsonaro a busca pela tão sonhada "seleção natural", tal qual a "indução política à deseconomia, à política de quarentena, e à adoção de políticas de segregação"  de fato atribuída aos globalistas e sua ala "progressista".

 

Resultado, tanto no Brasil, como também nos demais governos conservadores e soberanistas mundo afora, deu-se uma corrida informacional "por vias opostas". Quem pretendia salvar vidas racionalizando o combate à pandemia e poupando a economia, passou a ser visto como o utilitarista que quer apenas "reduzir a gordura" inconveniente por meio do "cancelamento de CPFs" em massa - que segundo dados recentes, atinge hoje a base de 1500 por dia. 


De fato, para os globalistas - empenhados em judicializar a política e perseguir lideranças conservadoras, enquanto entopem cidadãos com todo tipo de experimento laboratorial em massa, a equação macabra é perfeita.  No entanto, a ciência e a medicina, ao que tudo indica, mantém-se ainda como incógnitas - que atrapalham os cálculos e impedem o "resultado". Não por outro motivo, laboratórios, organizações de saúde e médicos,  tornaram-se os alvos do ódio fascistóide, em sua busca por alguma saída razoável, enquanto  os ícones do "politicamente correto" promovem a verdadeira segregação em massa, inclusive desacreditando cientistas e médicos que promovem vias alternativas para tratar o problema. Globalistas destroem carreiras e mancham a probidade de bons cidadãos enquanto desenvolvem, por sua vez,  políticas de restrição a liberdades individuais e condenam milhões à miséria, promovendo o ódio a quem contesta suas medidas de quarentena.


Paradoxo? Não. Trata-se de puro populismo... seja ele orientado à direita ou à esquerda... instrumentalizado em prol do lucro dos financisttas globalistas.


Não se tenha qualquer dúvida:  por mais que agora tente alterar o rumo do seu baco comunicacional, o utilitarismo tornou-se também o cerne do pensamento adotado na postura do presidente Bolsonaro.  O restante do discurso é mera tautologia - uso de palavras diferentes para expressar, dissimuladamente, sempre a mesma ideia.


Thomas Babington Macaulay, grande historiador do Século XIX, anotava que os seres humanos tornam-se racionais na medida em que preferem o que preferem. A teoria econômica, no sentido observado por Macaulay,  constrói-se como um gigantesco floreado que expressa uma evidência banal. Um belo objeto intelectual, equilibrado, cujas potencialidades explicativas e preditivas são, no melhor dos casos, duvidosas.


O discurso econômico utilitarista, construído sobre uma coluna empírica propositadamente ausente, precisaria de mais que um toque de varinha mágica para reencontrar, afinal, o solo empírico que Bolsonaro, Trump, e tantos outros conservadores,  julgaram dispensável à partida - e, agora, já perderam de vista. Talvez seja essa a "razão" de quadros intelectualmente relevantes, como o Ministro Paulo Guedes, ainda confiarem em conduzir alguma lógica econômica casada com o utilitarismo bolsonarista.  


Subestimar um inimigo determinado a dominar hegemonicamente toda a economia mundial, é um erro fatal. Tal qual ocorreu na Alemanha dos anos 1930,  com Hjalmar Schacht e Von Papen em relação a Hitler, o "casamento" conciliatório... pode resultar em uma descomunal tragédia. 


"Executores" administrativos, pressurosos em assumir tarefas "árduas", ordenadas como missão a ser cumprida sem questionamentos, foram por sua vez devidamente responsabilizados após a derrota nazista, mas a "banalidade do mal" praticada com essa mesma verve tarefeira, remanesce em cada governança irresponsável, tocada por regimes populistas como os que hoje nos assaltam no Brasil - seja com Lula e seus vermes... seja, agora, com a dubiedade sem fim imposta pela postura bolsonarista. Que o digam "cumpridores de ordem", como  o sacrificado General Pazuello e sua gestão - submetida à idiossincrasia do falatório no cercadinho do planalto,  na pasta da Saúde brasileira. 


A frase da Charge que ilustra este artigo, portanto, transcende em muito o humor. É uma injusta tragédia atribuída a um dos poucos bons ministros que a economia brasileira teve o condão de possuir.


Utilitarismo e hipocrisia, portanto, comandam uma política homicida no Brasil - parta ela da esquerda, da direita, do executivo, do lelgislativo e, teratologicamente, do próprio judiciário.


A conferir. 


Nota:

"Notícias Agrícolas - "Isolamento: a hora está chegando", in https://www.theeagleview.com.br/2020/04/bolsonaro-precisa-se-definir.html






Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados.  Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API.  É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View". 













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