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sábado, 27 de outubro de 2018

FALSE FLAG COMO TÁTICA POLÍTICA NO SEGUNDO TURNO DA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2018

 Acuse os outros do que você é...


Ativista lésbica afirmou ter sido marcada por agressores de direita por ser militante de esquerda que usava uma camiseta com dizeres "Ele Não". A polícia, no entanto, constatou que a marca foi produzida pela própria "vítima", para gerar animosidade contra a candidatura da direita na eleições de 2018



Por Marilene Nunes (*)




“Os homens são bons de um modo apenas, porém são maus de muitos modos.”
(Aristóteles em Ética a Nicomaco, ano 334 a.C.)


Nos primeiros dias do segundo turno da eleição presidencial pulularam nas mídias sociais e tradicionais dezenas de supostos casos de agressões, em várias partes do país, contra minorias negras, homossexuais e mulheres; além de várias pichações com símbolos nazistas e palavras depreciativas com discursos xenófobos, homofóbicos e misóginos, todas essas práticas atribuídas aos eleitores do presidenciável Jair Bolsonaro. Atribuição bradada pela grande imprensa e mídias ligadas ao partido do candidato de oposição Fernando Haddad.

De imediato, ao refletir sobre o contexto desses eventos, algumas questões vem a tona de modo a colocar em suspeição a veracidade dos mesmos, tais como: (1) Porque a suposta violência associada aos eleitores de Bolsonaro passou a eclodir somente agora, no segundo turno, quando, de acordo com as pesquisas exibidas pelas mídias, tal candidato conta com elevada vantagem em relação ao seu concorrente? (2) Se os eleitores de Bolsonaro não lincharam o criminoso que tentou assassiná-lo, entregando-o à justiça ileso, porque agora estariam cometendo toda a sorte de truculência contra minorias, sem a menor razão?

A resposta é evidente: isso não faz nenhum sentido! 

Porém os eventos estão acontecendo e sendo fartamente divulgados pelas mídias tradicionais: se por um lado, a lógica nos diz que não faz sentido eleitores de Bolsonaro estarem envolvidos nesses episódios, por outro, informa que alguém está deliberadamente promovendo os ataques para que outros sejam apontados como culpados. 

Ora, essa tática política não é nova e conta com ampla documentação histórica quanto ao seu uso no marketing político, principalmente quando se trata de tática militar. Estou falando da técnica militar e política denominada de Operação False Flag, ou seja, Operação “Bandeira Falsa”.

Oriundo do século XVII, historicamente o termo False Flag se refere à prática da pirataria comum: enganar e saquear navios, bem como fazer a pilhagem de mercadorias. Ou seja, durante um ataque os navios piratas usavam bandeiras de países como modo de disfarçar sua verdadeira identidade e, assim, impedir que suas vítimas fugissem ou se preparassem para a defesa. Às vezes a bandeira permanecia e o ataque era creditado injustamente a um país.

Atualmente, o termo se ampliou para incluir países que organizam ataques a si mesmos e fazem com que estes pareçam ser de autoria de nações inimigas ou terroristas, dando à nação supostamente um pretexto para deflagrar medidas repressivas domésticas ou partir para uma agressão militar estrangeira.

Igreja pichada com suásticas... em verdade produzidas por militante esquerdistas


Conceitualmente, o termo False Flag está relacionado às operações conduzidas por governos, corporações, outras organizações ou, até mesmo, por indivíduos. Aparentam ser realizadas pelo inimigo de modo a tirar partido das consequências resultantes. Sempre tem caráter secreto e objetiva: enganar! O engano possibilita a aparência de que, outro grupo, indivíduo ou governo seja, o responsável por alguma atividade, de forma a disfarçar a verdadeira autoria; trata-se de uma tática militar que visa utilizar bandeiras do inimigo.

As Operações de Bandeira Falsa já foram realizadas, tanto em tempos de guerra, como em tempos de paz. As operações praticadas em tempos de paz por organizações civis, bem como agências governamentais secretas podem, por extensão, também ser chamadas de operações de bandeira falsa desde que busquem esconder a verdadeira organização por trás de uma operação. De acordo com os achados, o False Flag não tem nada a ver com a teoria da conspiração. Na realidade o que existe de concreto é uma farta documentação sobre seu uso como operação de guerra ou tática política.

Embora as Operações de Bandeira Falsa tenham origem na guerra e no governo, também podem ocorrer em contextos civis entre facções, como empresas, grupos de interesses especiais, religiões, ideologias políticas e campanhas políticas.

Uma das operações False Flag mais famosa foi a perpetrada pelo National-Sozialistische Deutsche Arbeiter Partei-NSDAP[2], partido nazista de Hitler, no caso do incêndio criminoso do Reichstag em Berlim, no dia 27 de fevereiro de 1933. Tal incidente criminoso de autoria nazista foi usado para comprovar a conspiração dos comunistas contra os alemães e serviu de pretexto para a elaboração de um decreto de emergência para combater suposta conspiração. Com as liberdades civis suspensas, o governo instituiu prisões em massa de comunistas, incluindo todos os delegados parlamentares comunistas. O resultado foi o esvaziamento dos rivais no parlamento. Suas cadeiras vazias foram ocupadas pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães que, nas posteriores eleições, passaram a confirmar sua hegemonia, permitindo a Hitler consolidar seu poder.

Mas ainda existem muitos exemplos de campanhas políticas que se utilizaram e ainda utilizam as Operações False Flag como, por exemplo, a simulação de atentados, em suas mais variadas formas, e mais recentemente o uso da mídia impressa e eletrônica na produção de fake news.

Um caso recente da aplicação política de “Bandeira Falsa” ocorreu no processo eleitoral presidencial nos EUA em novembro de 2016. Uma igreja evangélica frequentada por afro-americanos foi incendiada na cidade de Greenville, Carolina do Sul. Além disso, simultaneamente os muros da cidade foram pichados com a inscrição “Vote Trump”. Greenville é reduto do Partido Democrata. Na ocasião, toda a mídia tradicional amestrada, em pleno processo de investigação, sem nada apurado, vociferou que os incendiários e pichadores se tratavam de supremacistas brancos, neonazistas ultraconservadores, e apoiadores de Trump.

A imprensa e o prefeito de Greenville disseram se tratar de “crime de ódio”. Algum tempo depois a polícia local prendeu Andrew McClinton, indivíduo de origem afro-americana, ligado à militância do Partido Democrata, membro da própria igreja e, que, já havia cumprido oito anos de prisão por outros crimes. Depois que a autoria foi revelada, o caso sumiu da mídia e nunca mais se ouviu falar de McClinton, conforme Rossete (2018).


Em outubro de 2018, primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, do nada, casos de agressões a gays, mulheres e negros passaram a ser divulgados, quase que diariamente, pela mídia tradicional e pelas redes sociais. Pichações da suástica nazista começaram a surgir em igrejas e banheiros de universidades. Psicólogos e Psicanalistas, declaradamente de esquerda, deram testemunhos nas redes sociais, de corar Freud e Lacan, de que o discurso de Bolsonaro seria o responsável por motivar e legitimar o aumento da violência contra as minorias. Com certeza tratou-se de um teatro orquestrado para vincular Bolsonaro à pecha de fascista! Ademais, fica evidente que esses profissionais se burlaram descaradamente e criminosamente do código de conduta profissional, na medida em que se atreveram a associar os eleitores de Bolsonaro às supostas agressões sofridas pelos seus pacientes LGBT.


Pichação em banheiro de universidade pretendendo atemorizar usuários LGBT


A partir daí, desde o primeiro turno, quase que diariamente, os ataques com agressões verbais e físicas passaram a ser notificados pela imprensa e a grande mídia eletrônica. Em grande parte dos casos os agressores gritam o nome de Jair Bolsonaro enquanto cometem seus crimes. Na esmagadora maioria dos casos tanto as vítimas quanto as únicas testemunhas, estranhamente, são pessoas ligadas à militância de partidos de esquerda, e nenhum agressor até aqui foi identificado, depois de ter tornado público o caso, passando a ser silenciado pela mídia.

Dentre as denúncias mais graves pode-se apontar o assassinato de uma capoeirista na Bahia, durante uma briga num bar: as testemunhas afirmaram tratar-se de crime realizado por um eleitor de Bolsonaro. Este, por sua vez, foi preso e negou que esse tenha sido o motivo do crime. Apesar disso, a campanha do PT já havia elaborado um vídeo para ir ao ar com a frase “o discurso de Bolsonaro mata!”.

Outro evento ocorreu em Porto Alegre. Uma jovem lulopetista de 19 anos, ativista lésbica, denunciou ter sido agredida por três eleitores de Bolsonaro que teriam gravado uma cruz suástica no seu abdômen: tudo a força e com uso de canivete. Segundo a jovem ela foi abordada por estar vestindo camiseta com a inscrição “Ele não”. Submetida à perícia, a conclusão do laudo foi de que a jovem se autoflagelou ou o ferimento foi feito com o consentimento da vítima. Ou seja, não encontraram qualquer evidência de que ela tenha se defendido. Segundo o delegado do caso, a jovem será indiciada por falsa comunicação de crime.

É interessante ressaltar que, os mais de 50 casos de agressões “supostamente” cometidos por eleitores de Bolsonaro, que surgiram como mágica e se espalharam pela mídia desapareçam rapidamente sem maiores consequências, com exceção dois últimos. Mas novos casos hão de surgir até o dia 28 de outubro de 2018, já que o objetivo é gerar medo e pânico, bem como desestabilizar a campanha de Jair Bolsonaro. Tudo isso indica que o marketing de Fernando Haddad tem se utilizado do False Flag como tática política: uma das piores formas de estratégia política imoral e antiética de todos os tempos.

Mediante tais fatos, vale a pena apontar e refletir sobre as palavras de Rossete (2018) quando afirma que: é preciso lembrar sempre que existem dois tipos de esquerdistas: os psicopatas viciados em poder, e os idiotas úteis dispostos a matar, se autoflagelar e a morrer pelos primeiros.


[2] Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Referências Bibliográficas

BRAGA, P. Jovem lésbica lulopetista gaúcha não foi agredida por bolsonaristas: foi tudo uma farsa política. Disponível em: Acesso em: 11 out. 2018.

DE HAVEN, S. L. Conspiracy theory in America. Austin: University Press of Texas, 2013.

ROSSETE, R. False Flag: terrorismo psicológico. Disponível em: Acesso em: 24 out. 2018.

TOBIAS, F. The reichstag fire. New York: Putnam, 1964.








* Doutora em Gestão e Políticas Públicas pela USP. Mestrado em Economia Política da Educação pela UFRGS. Especialista em Gestão do Conhecimento pela FGV - SP. Foi especialista do Conselho Estadual de Educação – SP. Atualmente, integra o coletivo de docentes e pesquisadores do Núcleo de Pesquisa da Diversidade, Tolerância e Conflito da FFCH da USP. Também atua como articulista no Portal Ambiente Legal.








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