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segunda-feira, 9 de abril de 2018

MINIMIZAR AGRESSÕES À IMPRENSA NÃO É JORNALISMO, É PROSELITISMO

Uma nota à imprensa, devida à verdadeira imprensa



Manifestante agride jornalista próximo ao Sindicato dos Metalúrgicos, em SBCampo (foto Diário do Grande ABC) 





Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Por ocasião das manifestações contra a prisão do ex-presidente Lula, jornalistas foram duramente atacados pela militância esquerdista e órgãos de imprensa sofreram ofensas e ameaças expressas nos discursos das lideranças políticas. 

Os fatos ocorreram justamente no dia da imprensa, na data de 7 de abril e, no entanto, foram minimizados por entidades de representação da categoria profissional, claramente engajadas no espectro ideológico dos liberticidas agressores. 

Essa nota diz respeito à esse fato. 

Sete de abril  marca a abdicação do Imperador Dom Pedro I do trono do Brasil, em 1831, após intensa campanha originada no assassinato do jornalista Lìbero Badaró, em São Paulo. 

"Morre um liberal mas não morre a liberdade", foi a útima frase de Líbero Badaró. 

Líbero Badaró morreu  em razão do seu ofício de jornalista. Foi  a primeira vítima de um crime contra a imprensa na história do país. 

Médico italiano e editor do jornal Observador Constitucional, Líbero Badaró faleceu no dia 21 de novembro de 1830, em consequência dos ferimentos causados por tiro de pistola disparado à queima-roupa pelo imigrante alemão Henrique Stock, a mando do desembargador ouvidor Cândido Ladislau Japi-Assú. 

A morte de Badaró deixou a cidade de São Paulo, então com 9 mil habitantes, à beira da insurreição. Gerou, também,  protestos em vários pontos do Brasil. Japi-Assú foi julgado e absolvido por seus pares no Rio de Janeiro, convenientemente longe da cena do crime e da pressão popular. A mesma instância judicial reviu a condenação do pistoleiro, absolvendo-o. No entanto, o Imperador Pedro I não saiu ileso do imbróglio produzido pelos seus burocratas bajuladores. Foi obrigado a abdicar para preservar a monarquia. 

Essa foi a razão da Associação Brasileira de Imprensa, em 1931, ter  escolhido a data como dia do jornalista. 

No último dia 7 de abril, jornalistas e organismos de imprensa sofreram toda sorte de agressões e ameaças, durante a cobertura da prisão  do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, ordenada pela Justiça Federal, que resultou em manifestações populares ocorridas em várias partes do país e no ato de resistência protagonizado pelo próprio imputado, seus correligionários e demais lideranças dos partidos denominados de esquerda, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e seu entorno. 

As agressões ocorreram acintosamente nos eventos de protesto contra a prisão do Presidente, em especial na manifestação de São Bernardo do Campo. Ali, além das agressões físicas e ameaças graves a jornalistas, a liderança do evento tratou de hostilizar expressamente organismos de imprensa atribuindo-lhes responsabilidade pela decisão judicial condenatória de Lula. 

As agressões não apenas revelaram descompromisso absoluto de determinadas lideranças políticas autodenominadas “progressistas”, com a liberdade de imprensa, também expressam absoluta ignorância sobre o papel da mídia no processo político da história. 

De fato, jornalistas são elementos de informação e também agentes críticos.  Profissionais dedicados a informar e dedicados a fazer a sociedade pensar. Essa produção intelectual é valiosa justamente por ser PLURAL. Seu compromisso é com o fato jornalístico. 

A imprensa é livre justamente por não ter compromisso com engajamentos e, ainda que seja engajada, admitir também a existência de opiniões contrárias e desengajamentos críticos.  É desse mar de pluralidades que a verdade sempre emergirá. 

Não é à toa que onde houver um jornalista, ali estará presente a liberdade. Esse mote incomoda poderosos, provoca o ódio nos liberticidas e, por outro lado,  encoraja os que não possuem outro canal de expressão que não seja o grito do desespero...

A informação e a qualidade da informação, mais que direitos, constituem prerrogativas do cidadão. Sua defesa torna-se mais necessária quando a crise política e o acirramento dos ânimos ameaça a jornalismo e fragiliza a liberdade de imprensa. Liberdade que custou o sangue de Líbero Badaró e de milhares de jornalistas.

Nesse sentido, é de se repudiar com veemência toda e qualquer manifestação de conteúdo liberticida  ou pronunciamento que pretenda vitimizar correntes políticas e mitigar responsabilidades, nos atentados contra a sagrada liberdade de imprensa ocorridos  no transcurso dos protestos contra a prisão do ex-presidente Lula, por ordem judicial. 

Mais lamentável quando tais pronunciamentos partem de entidades que se pretendem representantes da classe dos jornalistas. O comprometimento de instituições de classe com o totalitarismo e o interesse no esgarçamento liberticida do tecido social configura o mais vergonhoso peleguismo.

Porém, não será pelo abuso dos proselitistas que a liberdade de imprensa padecerá. Mas a ação pelega dos ideologicamente idiotizados pode comprometê-la. Nesse caso, a melhor forma de lidar com o fenômeno da boçalidade é direcionar a luz sobre os boçais 

O compromisso político da imprensa é duplo:  com a informação isenta e também com a liberdade de opinião. Afinal, a imprensa remanesce como única fonte confiável de informação, mesmo na era das  “não verdades”, das “notícias falsas” e das postagens digitais  levianas e vulgarizadas. 

Assim, no dia do jornalista, “fazer média” com o totalitarismo, o sectarismo e a intolerância, a pretexto de inverter responsabilidades e minimizar a agressão à mídia profissional, definitivamente, não é jornalismo e sim proselitismo.

O compromisso do jornalismo com a verdade dos fatos passa pelo resgate dos valores morais e éticos que sustentam o Estado Democrático de Direito. Essa relação traduz a liberdade de imprensa. 

Resgatar o civismo, a moral, o respeito e a ética na imprensa nacional, é  também condição para  resgatar o jornalismo. 

Esse resgate passa pela rejeição aos ideologismos que viciam o relato dos fatos, aos interesses escusos que corrompem a opinião e às paixões que cegam, invertem papéis e conferem à vilania ares de justiça.  

Elemento orgânico da democracia, o jornalista sabe diferenciar indivíduos de instituições. Sabe que a repressão à corrupção não se dá por meio de flores. Compreende que a vitimização é arma da marginalidade e que manifestações populares não devem constituir escudo humano para a marginalidade. 

Como disse Líbero Badaró, abusos precisam ser combatidos, mas não justifica a supressão da liberdade de imprensa.

Jornalismo, portanto, também é expressão da Justiça.











Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado e jornalista. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é Vice-Presidente e diretor jurídico da Associação Paulista de Imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.











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