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segunda-feira, 24 de abril de 2017

POPULISMO, CATARSE E TRAGÉDIA

Populismo é um  fenômeno que traça parábolas trágicas


Populismo (arte:Becero)





Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


O populismo é um vírus que destrói o organismo das sociedades politicamente organizadas alimentando-se da catarse coletiva. Contrariamente a todas as expectativas criadas pela sociedade digital - face à conquista da transparência e acesso tecnológico ilimitado à informação, o populismo ressurgiu como fenômeno político nas primeiras décadas do século XXI.

Herdeiro direto da demagogia clássica e do cesarismo romano,  perversão política do carisma religioso e fruto do historicismo preditivo,  o populismo reinventou a figura do despotismo esclarecido. Trata-se, portanto, de um remédio liberticida  para as crises e conflitos  decorrentes da dinâmica  organizacional da sociedade.  

Centrado na figura do líder carismático, cuja empatia midiática se consolida pelo discurso simples, direto e compreensível,  o populismo catalisa a confiança popular para, via de regra, destruir o pluralismo e a liberdade. Essencialmente liberticida e salvacionista, a líderança populista busca  a hegemonia política traçando uma parábola invariavelmente trágica, para destruir a organização do estado e a economia. 

É disso que este artigo busca tratar. 


O paradoxo das catarses

Vivemos em um mundo inflacionado por catarses, lotado de indefinições e crises. Por isso mesmo,  paradoxalmente predisposto a embarcar em conflitos, a qualquer preço.

Não por outro motivo, seja nas democracias sedimentadas, seja nos redutos fanáticos do fundamentalismo religioso, o populismo passou a ser um risco constante e, quando vitorioso, tem traçado parábolas trágicas com impressionante frequência.

Da queda em desgraça e sem qualquer glória do "Socialismo do Século XXI"  - europeu e latino-americano, à ascensão da neo-direita ultranacionalista europeia, passando pelo radicalismo muçulmano, o mundo acumula sucessões de experiências negativas de ordem populista, mas parece disposto a continuar involuindo politicamente até  que o somatório dos experimentos dispare o gatilho de um novo conflito mundial...

É um processo cíclico e já conhecido. A humanidade já passou por fases similares ao longo de sua história recente. E na medida em que evolui, a frequência das crises e das catarses aumenta. 

Em um quadro mais amplo, podemos observar que nos momentos mais críticos da história, grandes mudanças foram introduzidas por lideranças catárticas, firmes, populares, porém não populistas. De outro lado, grandes desastres foram produzidos pelos líderes catárticos populistas. 


Bolsonaro - após o populismo de esquerda, o populismo de direita?



A catarse 

A catarse era o segredo do teatro grego, que  conseguia atrair multidões que se emocionavam com suas tragédias justamente porque a plateia se identificava com o drama, sentia o trauma e extraia para si os sentimentos sentidos pelos personagens.

Segundo Aristóteles, a catarse produz a  purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um trauma.  

A psicanálise traduz a catarse como um transe de libertação, um rompimento, uma sensação de absoluta liberdade experimentada em relação a um quadro opressor, tanto psicológico quanto cotidiano. Ela ocorre ante o vislumbre de ou identificação com caminhos ou circunstâncias que se apresentem eficazes para a resolução do problema ou aflição sentidas. Essa sensação pode se assemelhar à uma epifania coletiva, à descoberta súbita ou induzida de uma "razão" para a "emoção".

A catarse é racional e emocional. Céticos experimentam a catarse, quando deixam de sê-lo, já os mais sensíveis, se permitem experimentá-la com intensidade.  Na religião, é comum observarmos a catarse nos desesperados, nos aflitos e também naqueles que se encontram "puros de alma", em especial nos cultos cerimoniais, quando os mantras, as preces as músicas e as pregações criam condições para que o espírito se liberte dos compromissos comportamentais para com o corpo. 

A ausência de catarses revela o psicopata, o excesso também... Nas massas, a catarse induz ao fanatismo.

O compromisso popular  é  obtido pelo líder por meio da catarse. Sem ela não há crise ou conflito que possa ser resolvido. 


Trump e o neopopulismo norte-americano



Catarse e liderança

Líderes são catárticos e arquetípicos. 

O grande indutor  da catarse é o líder. Compete a ele conferir uma razão, um liame que produza nos demais a necessidade de segui-lo.  

O liame de condução segue arquétipos, ou seja, padrões a serem reproduzidos, extraídos das camadas do inconsciente coletivo. 

Quanto mais profunda for a crise, maior a dúvida e a insegurança, maior será a probabilidade de nos socorrermos de um arquétipo, um modelo, um exemplo, um padrão registrado em nosso subconsciente, que irá nos guiar em direção à luz. 

Os arquétipos configuram a performance dos líderes, permitem ao coletivo identificar o caminho, gerando catarse. Diferenciar, nesse momento, o líder material do líder populista, é fundamental. 

O nível de organização e cultura da sociedade política, o status da cidadania e o comportamento do líder  em relação ao arquétipo, serão determinantes para evitar a tentação populista.


Moisés - arquétipo do salvador usado até por Cristo (embora não tenha sido populista)



O arquétipo e o populismo 

O líder material usa o arquétipo, e sua ação costuma resultar positivamente para a humanidade. A materialidade reside no fato palpável, é de ordem moral, comportamental, civilizatória, histórica e social. 

Já o líder populista personifica o arquétipo, apropria-se do tipo  e busca induzir o coletivo a seguir sua parábola pessoal. Produz assim uma entropia que conduzirá ao desastre. O sonho de grandeza populista pode até resultar em algo de material. Mas a lição moral será trágica.

Se ambas as performances estigmatizam os arquétipos, a performance do populista  os deforma definitivamente.


Exemplos arquetípicos

A Bíblia é uma fonte quase inesgotável de belos exemplos de liderança material, e de desastres populistas: 

Jesus, da forma como descrita sua parábola, seguiu o arquétipo de Moisés, o salvador do povo hebreu. Sua liderança messiânica mudou "a boa nova" - transformou o mundo tal como  Moisés o transformara com a saga do Êxodo e as Tábuas dos Dez Mandamentos. 

Ambos os líderes foram "salvadores" - porém jamais reivindicaram o título para si. Nunca se deixaram tentar pelo populismo. Moisés advogou a causa divina, nunca se arvorou como soberano ou mesmo patriarca. Jesus advogou o amor divino, todos os que o seguiram eram filhos de Deus, não apenas ele. Quando afirmou que o reino ao qual pertencia não era deste mundo, não tomou para si a coroa - o grande detalhe da frase. 

Ambos os líderes bíblicos foram desacreditados em vida por diversas vezes. Quando postos sob o julgamento do coletivo, não fizeram uso demagógico. Moisés jamais pôde entrar na Terra Prometida e Jesus foi crucificado após ser julgado por seus próprios pares. A tragédia de ambos, no entanto, significou a catártica libertação da humanidade. Foram líderes materiais.

No Século XX, "beberrões cínicos" como Winston Churchill, venceram guerras perdidas, induzindo seus liderados a resgatarem sua autoconfiança. Exemplos de persistência e resiliência como os Roosevelt,  Mandela e Ghandi também. Nenhum destes ousou se arvorar em condutor sublime do povo, embora o tenham sido. Foram líderes materiais.

Os líderes materiais eventualmente lutam contra um inimigo, mas sobretudo eles advogam uma causa transformadora.

Isso os difere dos populistas.

A história recente demonstra a tragédia dos líderes populistas que personificaram o arquétipo do salvador. 

"Pais da pátria", como Mussolini, Hitler, Perón e Hugo Chaves ou "líderes geniais de todos os povos", como Stalin, Kin Il Sung, Papa Doc ou Muamar Kaddaffi, produziram catarses inequívocas e hordas de fanáticos. Personificaram o arquétipo do redentor, porém, não se salvaram e nem aos seus seguidores. Deixaram um rastro de sangue pelo caminho e suas atitudes são exemplos moralmente condenáveis. São arquétipos personificados, e assim servirão eternamente como modelos paradigmáticos, quase sempre para o mal.

Jung lecionava que : 

"Os arquétipos são elementos inabaláveis do inconsciente, mas mudam constantemente de forma." 

E completava: 

"Nenhum arquétipo pode ser reduzido a uma simples fórmula. Trata-se de um recipiente que nunca podemos esvaziar, nem encher. Ele existe em si apenas potencialmente e quando toma forma em alguma matéria, já não é mais o que era antes. Persiste através dos milênios e sempre exige novas interpretações." 

Assim, jamais ocorrerão dois líderes populistas com trajetória, postura ou performances idênticas, mas a parábola... na síntese do aproveitável, deverá ser da mesma forma trágica.


Recep Tayyip Erdoğan - o populismo em estado bruto vigora na Turquia



O fenômeno populista

Como já dito, o populismo é um vírus no organismo das sociedades politicamente organizadas. Um elemento arquetípico que busca simbiose com a catarse coletiva. 

No teatro da vida, o líder populista é um personagem em busca de um papel. Sua trajetória é oportunista, dramática e parabólica - resulta inevitavelmente na entropia e na tragédia. O líder populista é agregador "contra o caos" - sua capacidade de agregar é simbiótica com o medo do que se encontra "lá fora", do que está "do outro lado", do que foi "o passado" e até do que pode "reservar de mal no futuro". Essa agregação dura até o momento em que ele próprio iniciará a divisão interna dentre seus apoiadores, obviamente após entender que o inimigo externo deixou de existir - e aí valerá o medo "da traição", do "inimigo infiltrado", dos "espiões à espreita" e dos "golpistas e conspiradores".  

Na sua parábola ascendente,  o populista catalisa elementos ideocráticos radicais, sejam militaristas, segregacionistas, religiosos, esquerdistas ou direitistas. Na química do poder, a mistura bem sucedida desses componentes enzimáticos sempre produzirá como reação o desastre. 

Cas Mudde, professor da Universidade da Geórgia, define populismo como "uma ideologia rasa que considera que a sociedade se divide em dois grupos homogêneos e antagônicos: o ‘povo simples’ e a 'elite corrupta' ”. Essa divisão da sociedade em "grupos antagônicos com interesses irreconciliáveis" é a chave do discurso populista. 

Para o populista, essa divisão é a brecha que "leva a enfatizar a soberania nacional ou popular”, na lição de Luis Ramiro, professor da Universidade de Leicéster.
 
Essa disposição espacial de valores em choque, demandará invariavelmente o arquétipo do pacificador. O político populista surge, então, como o único capaz de traduzir a voz de toda a população. 

 divisão, portanto, é o alimento do líder populista.

O populismo também se alimenta dos "inimigos" que fabrica - internos e externos. Unido ao militarismo e adotando posturas ideológicas radicais, seja de esquerda ou de direita, o líder populista imprimirá parábolas totalitárias e reproduzirá posturas obsessivas catastróficas. 



Populismo petista - ascenção, glória, queda, resiliência, crime, escândalo e tragédia...



Populismo na América Latina 

A américa latina é vítima preferencial do populismo.  O continente reúne enorme variedade de etnias, culturas e religiões ainda em ebulição. A estrutura patriarcal da sociedade no continente está enraizada na cultura nativa, tribal, e na estrutura social latina trazida ao continente pela colonização. Essas culturas estimularam a formação cartorial das estruturas de governo, facilitaram a apropriação dos cartórios pelas estruturas patriarcais. O caudilhismo é decorrência dessas circunstâncias.

Fruto de multi-colonizações e destino de correntes migratórias seculares, a América Latina permanece em constante estágio de integração social, sofre com profundas disparidades econômico-sociais e cultiva estruturas de poder parasitárias.

Isso forma o caldo de cultura do populismo.

Desde o século XIX, a América Latina sofre com parábolas populistas. Na verdade, o populismo é a chaga que impede o desenvolvimento político e econômico  do continente latino-americano. 

O exemplo recente e mais acabado da tragédia populista continental pode ser observado, hoje, na Venezuela. 

O populismo destruiu o Paraguai no Século XIX, Argentina, Cuba e Haiti no Século XX e a pátria venezuelana neste Século XXI. O que hoje se vê  na VEnezuela, é um espectro fantasmagórico do que antes era uma próspera nação. O desastre venezuelano, porém, ainda não terminou. Ele pode expandir-se para além das fronteiras da Venezuela, tal qual abraço de afogado. 

O grande risco populista da Venezuela está no fato de seus líderes não mais conseguirem produzir catarses com bravatas e ataques a seguimentos sociais internos - pelo contrário, só produzem rejeição e opressão. Inexoravelmente, o populismo venezuelano está condenado a buscar inimigos externos que justifiquem alguma mobilização em defesa da "pátria". 

Um conflito militar regional - com o fim trágico do governo que ali está, é apenas uma questão de tempo...


Populismo venezuelano - afogando e prestes a abraçar os vizinhos...



O risco  venezuelano para o Brasil

O Brasil paga o terrível preço do populismo esquerdista no qual se aventurou. Porém, ao par dos seus problemas internos, está se tornando o grande destino dos venezuelanos que buscam refúgio atravessando a fronteira para fugir da crise em seu país. 

Ciente do problema, o governo brasileiro esboçou postura firme em defesa da democracia, no período Temer, e com isso zerou a anterior tolerância dos governos populistas de Lula e Dilma para com as bravatas de Maduro e cia. 

No entanto, os aliados brasileiros de Maduro permaneceram ativos, no embate populista com as idas e vindas do governo Bolsonaro, ressurgiram apoiados pelas hostes esquerdistas postadas no deep state , na cúpula degradada do Poder Judiciário (contaminado pelo pior tipo de populismo ativista) e  nas hordas dos celerados morais, incluso o narcotráfico, que se alimenta do lulopetismo. A eles se unem o crime organizado,  movimentos sociais populistas e  patrulheiros do politicamente correto - todos empenhados, agora, em dissolver a tragédia venezuelana ampliando canais para a aceitação de refugiados de todas as partes do mundo, incluso radicais muçulmanos provindos do conflito na Síria, Iraque e Afeganistão. 

O risco está no populismo baseado no rancor social, na substituição da razão pelo vitimismo difuso e pela sistemática transvaloração dos esteios morais. 

Imaginam, ainda, os populistas identitários, tirar algum proveito do caos.

Os canais de patrocínio venezuelano e, iraniano, a movimentos sociais de esquerda no Brasil  é preocupante e, segundo fontes militares, o governo venezuelano, bem como os núcleos muçulmanos e antisemitas,  tratam de  utilizá-los visando recriar condições de retomada do Poder de seus aliados esquerdistas pela via eleitoral distorcida e judicializada (como é hábito nos dois países) ou, alternativamente, na instalação do caos (produzindo "autogolpes", como fez Erdogan na Turquia. 

A intervenção não é gratuita. Os bolivarianos buscam o retorno ao poder de Lula e demais acólitos populistas - no Brasil e demais países sul americanos. Precisam com urgência fechar o ralo da perda progressiva de aliados internacionais e evitar sanções econômicas regionais. 

Os sistemas de inteligência brasileiros há muito identificaram esse movimento, e a fórmula de condução judicializada do processo - algo similar ao que ocorre na própria Venezuela, Irã, Bolívia, Turquia, hoje já induz até mesmo a esquerda incrustrada nos EUA democrata. 

Os militares brasileiros, no entanto, permanecem vacinados. As forças de defesa agiram ceticamente no período de governo lulopetista, reagiram negativamente com a diplomacia "baba-ovo" de Dilma, mantiveram-se vigilantes no governo Temer, tomaram certa distância no governo Bolsonaro e sofrem pressão no retorno do populismo lulopetista. Darão, portanto, combate ao populismo venezuelano, caso encetadas agressões às nossas fronteiras ou percebam ameaça iminente à soberania nacional. 

Isso não quer dizer que não estejamos livres de um populismo de sinais trocados, provindo da chamada "nova" direita - na onda xenofóbica soprada do velho continente e já aportada no hemisfério norte, com a direita da direita Trumpista. Se por um lado o conservadorismo torna-se um componente essencial para a estabilidade de nossa democracia, o populismo pode fazer surgir um "chavismo" militarista com discurso avesso ao paradigma, porém com resultados perversos idênticos...

Pior ainda. O populismo destrói a democracia de forma pendular, alternando os extremos simbioticamente... até extressar a coluna mestra do regime.


Esquerdistas e integrantes do MST manifestando apoio à Venezuela, no Brasil



O risco populista brasileiro

O maior caso de corrupção já registrado  na história da humanidade foi no período que o país mergulhou no mais deslavado populismo, protagonizado pelo Partido dos Trabalhadores e seus satélites. Mas isso parece não bastar para livrar o Estado brasileiro da doença do populismo. 

Isso porque o risco populista, embora latente nos chamados movimentos sociais, não reside nas camadas populares e, sim, na própria estrutura de Estado e nos meios concentrados de comunicação social. Os chamados deep stateestablishment.

A contaminada jusburocracia brasileira é crucial para a questão. Ela foi cuidadosamente infiltrada e não escapou do "bolivarianismo" petista. 

O populismo esquerdista permanece incrustado  nos tribunais superiores, na justiça federal e ministério público. Ali, seguimentos esquerdistas permanecem empenhados em judicializar a Administração Pública, reduzir a autonomia do legislativo, desmobilizar a economia e desacreditar investimentos.

A degradação se dá por meio do esmagamento judiciário das atividades privadas, pela insegurança jurídica e pela judicialização da política. Isso decorre do fato desse estamento judiciário manter-se livre de pressões da sociedade. 

A ferramenta doutrinária usada pela jusburocracia é o ativismo judicial. 

Segundo a escola do ativismo judicial, "os juízes devem fazer uso de uma hermenêutica emancipatória e as decisões devem ser fundamentadas sob uma racionalidade democrática, pois um dos meios do judiciário se legitimar é na sua decisão"  - como preconiza o jurista esquerdista Dalmo Dallari. 

Para a corrente dos bolivarianos de toga, nossa Constituição fundou  um Estado onde o Direito está democraticamente conformado em um sistema que deve buscar menos a legalidade e mais a legitimidade. 

O pensamento nacional em nada difere do "estado de coisas inconstitucional" adotado pela suprema côrte venezuelana, e também pela brasileira.  Esses preceitos aplicados por aqui - como pudemos ver na conclusão do golpe de estado na Venezuela, prestam-se a gerar insegurança jurídica e desestabilização institucional.

Assim, o grande risco para a permanência da chaga populista no Brasil está na leniência, no ativismo e na percepção de impunidade generalizada produzida pelos populistas incrustados na jusburocracia nacional.


Nossa jusburocracia não resolve conflitos, ela os cria.

A complexidade e tamanho dos poderes da república permite ações incrivelmente meritórias, como as operações de combate á corrupção, de saneamento eleitoral, etc. Mas, é visível a resistência das corporações, e o recrudescimento da censura com o apoio dissimulado nos meios de comunicação, academias, parlamentos, etc. 

Por outro lado, um populismo de direita, absolutamente reativo, constitui a armadilha no discurso de Bolsonaro, que é estrategicamente ambíguo. Atrai o populismo, mas ainda flerta com a raiz anti-populista conservador e do aparato militar. Como bom paraquedista, o líder político da direita brasileira parece estar buscando um terreno equidistante para tornar a descer no planalto em segurança...

Mas o risco do fascismo é intrínseco ao discurso populista - seja no Narcoestado antisemita do PT, seja no cerne do bolsonarismo radical. Ambos flertam diuturnamente com a inconoclastia liberticida. 


Forças Armadas do Brasil sempre foram avessas ao populismo



O antídoto militar brasileiro

Se a jusburocracia deixou-se contaminar pelo populismo, o mesmo não ocorreu com o cerne das forças armadas do Brasil.

Militares brasileiros, historicamente, não toleram o populismo. Sempre foram seu antídoto.

Quando chamados a intervir no cenário político nacional, em 1946 e em 1964, o fizeram justamente para por fim à política populista praticada nos governos Vargas e João Goulart. 

Essa postura anti-populista desengajou os líderes militares da busca pela perpetuação no Poder e permitiu ao país, por um tempo, adotar um projeto de desenvolvimento nos anos 50/60 e, depois, tecnocrático e impessoal, em bases planejadas, nos anos 70. O distanciamento do populismo permitiu que se controlasse, ainda que precariamente, a corrupção endêmica no Brasil - evitando a implantação de um regime castrista e adiando a pandemia de arbitrariedades e corrupção -  que hoje se observa na decrépita "nova república". 

Após o período militar, nos três momentos em que governos civis se aventuraram a usar uma plataforma filo populista, ocorreu o desastre: Sarney e seu "plano cruzado", Collor e seu "Plano Collor", Lula com a internacionalização das obras públicas em favor do "Socialismo do Século XXI" e Dilma, com sua medíocre política de  "desonerações tributárias".

O desastre dessas iniciativas populistas produziu desemprego, miserabilidade e concentração econômica. Permitiu escorchantes e criminosos juros bancários, rombo estratosférico nas contas públicas, crise homicida na saúde pública, déficit no sistema previdenciário, segregação social entre contribuintes privados e funcionários públicos, mortes e mutilações decorrentes da criminalidade, com resultados estatísticos similares à guerra civil na Síria. 

Para piorar, gerou uma espécie de "destruição criativa" da livre troca de ideias, da moral e dos costumes - em nome do "politicamente correto".

Assim, não será surpresa se na volta do pêndulo da história, houver necessidade de buscar alguma estabilidade institucional nos quadros militares - imunes ao populismo, talvez pela própria via democrática. 

O risco, é lógico, está na cooptação "pela cúpula" - o que seria desastroso para o estamento fardado... e para o Brasil.


O Grande Risco do Populismo Globalista

Poucos se aperceberam do fenômeno. No entanto, poucos movimentos têm mimetizado o populismo como o movimento globalista de apropriação geopolítica do cenário político mundial. 

O esquema globalista deriva do fenômeno da globalização,  porém age sobre esta de forma absolutamente parasita. O objetivo é claro: concentrar hegemonicamente os processos políticos para manejar de forma uniforme o grande capital financeiro. 

O comportamento globalista é ditado pelos chamados banqueiros kazares, pelo Clube de Bildeberg, pelos fundos abutres de investimento e cibercorporações multinacionais. A articulação abrange as chamadas "Think Tanks" - instituições que promovem o advocacy dissimulado do grupo, como é o caso do Fórum Econômico Social, Fundação Gates e Open Society.  Nesses foruns, a elite globalista interage para articular relações com representantes de governos e autoridades multilaterais que ali participam cooptando-as para a "causa".

O dispositivo globalista é altamente concentrador. Implementa sua  estratégia sem qualquer respeito à soberania dos países-alvo de seus interesses.  Dessa forma, faz uso de uma vanguarda de intervenção híbrida, composta por  redes "filantrópicas" de incentivo a iniciativas políticas e interesses difusos "não governamentais", aparelha organismos multilaterais, convenções internacionais e políticas públicas, para agir geopoliticamente no comando decisor de países detentores de commodities de interesse especulativo ou estratégico. 

Na evolução de sua estratégia, globalistas passaram a dissimular suas ações adotando bandeiras disruptivas catárticas. Adotaram integralmente o "duplipensar orwelliano" embutido no marxismo "libertário-liberticida" da chamada "Escola de Frankfurt". 

Dessa forma, globalistas somaram bandeiras com apelo  desagregador, concentraram paradoxalmente setores marginais, antes dispersos no ambiente social, seja por rancor, seja por paixão libertária, seja por engajamento salvacionista face a todo tipo de "emergência" (climiática, pandêmica, "democrática", identitária... etc),  criando um movimento de "despertar" (woke) -  manipulado na medida para corromper o tecido social e enfraquecer mecanismos de controle historicamente mantidos pelas camadas médias da sociedade organizada. 

Ao incapacitar os setores mais consciente da sociedade, articulando contra eles uma massa de militantes de causas transvaloradas, os globalistas mimetizaram o sistema populista e obtiveram o mesmo efeito liberticida (sob pretexto "libertador"), impondo a censura e o controle catártico sobre a soberania popular e nacional dos países vitimados pela onda.  

O "alarmismo historicista" - tão denunciado por Karl Popper em sua obra "Sociedade Aberta e Seus Inimigos" -  é ferramenta clássica populista e, hoje, está embutida na mobilização face à "emergência climática", às "pandemias" e à "democracia para minorias" - cujas bandeiras  dissimulam a intenção liberticida do movimento globalista. 

Criou-se, assim, um modereno populismo sem rosto


O Populismo Sem Rosto

Na desnecessidade de criar líderes populistas, o establishment  globalista fagocita o deep state dos Estados Soberanos e... se apodera "das lideranças que lhe convém". 

Dessa tática, advém os "sinais trocados" que unem a ação predatória e concentradora globalista com movimentos woke - filiados à dissenção social e racial travestida como "busca de justiça", a "normalização" dos psicopatas,   o narcocapitalismo e seus efeitos devastadores no campo social e geopolítico, o climatismo como fator de deseconomia e o populismo  esquerdista - antinacional - absolutamente liberticida. 

A supressão da liberdade de expressão e manifestação, sob o pretexto de busca de um comportamento "politicamente correto", dissimula o viés liberticida. Ao monopolizar a bandeira da "democracia", o populismo sob a guarda globalista se apodera do fluxo de informações, enquanto trata de destruir a liberdade.

Ao contrário das ações imperialistas levadas a cabo nos séculos anteriores, o foco globalista não é a exploração da economia local -pois para isso já dispõem dos organismos financeiros. O foco é o controle civil da população por meio da censura e perseguição dissimulada - daí o interesse especial do grupo na internacionalização dos instrumentos de tutela e controle legal e... na submissão da estrutura juristocrática dos países que sediam a ação dos abutres e especuladores. 

Esse mecanismo hoje é combatido até mesmo pelos populistas alinhados com a postura "soberanista" - em defesa dos Estados Nacionais. Uma saudável contradição... cujo processo torna o jogo geopolítico global mais complexo do que já era.


Conclusão

O populismo encontra-se em estágio epidêmico em todo o mundo, e o destino dessa epidemia poderá ser o desastre. Portanto, a postura crítica é essencial para o combate o vírus da liderança populista, globalista,  à direita e à esquerda. 

Não há "salvadores da pátria" e nenhum país civilizado precisa de um. Muito menos a salvação está num "governo global" - gerido por burocratas e censores.

Na América Latina, a Venezuela reproduz a parábola trágica do populismo esquerdista. Por isso mesmo representa um risco em escala regional. É fundamental, que o governo brasileiro se posicione para evitar a contaminação do desastre venezuelano.

No campo da política nacional, o Brasil sofre com a crise desencadeada pelo desastre populista protagonizado pela esquerda brasileira, em especial nos mandatos de Lula e Dilma, que resultaram no maior escândalo de corrupção do ocidente.  Sofre, também, com a investida estratégica globalista, que parece querer usar o maior país ao sul do equador como uma espécie de "laboratório de ratos biodiversos" para todo tipo de experimento identitário e ecoliberticida.

A crise, portanto, não eliminou o risco populista, que permanece latente e requer profunda reforma institucional - para que não torne a investir contra as instituições permanentes da República. 

O Brasil tornou-se uma "incômoda" referência democrática, para o populismo internacional. Razão para que seu dispositivo militar redobre a atenção e o aparelho de estado recupere capacidade para se reestruturar, eliminando o vírus populista inoculado em seu estamento burocrático - seja ele esquerdista, globalista ou... híbrido. 

O Brasil não é apenas visado pelo populismo proto-marxista. A direita alternativa, nominada Alt-Right, centrada no projeto neofascista de supremacistas norte-americanos e europeus, também mira nosso país, dissimulando sua pretensão geopolítica sob um discurso aparentemente conservador. 

O conservadorismo, de fato, é a saída para alinhar a República e escapar da armadilha populista. 

Hora de redobrar a inteligência e atentar para o que se move nos subterrâneos do processo político aparente em nosso país.  A democracia e a liberdade exigem eterna vigilância - já diziam Churchill e Carlos Lacerda. 



Leia também: 
Notas:

(Freire, António (1982). A catarse em Aristóteles. Volume 6 de Colecção "Pensamento filosófico". 6. [S.l.]: Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa de Braga)

Jung, Carl G, "Os arquétipos e o inconsciente coletivo". Rio de Janeiro: Vozes, 2000

Pedro, A. F. P., "Globalização e o Risco da Ordem Mundial". Blog "The Eagle View", in https://www.theeagleview.com.br/2019/09/globalizacao-e-o-risco-da-nova-ordem.html




Nota: revisado em 2022





Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.




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