Há semelhanças entre a lista de Fachin e a lista dos "inimigos de Carlota", onde todos viram fulanos
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Cliente Morto Não Paga - um clássico da comédia cinematográfica que parece inspirar Brasília |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
"Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder."
Dilma Rousseff
Ao liberar a lista de políticos e dirigentes autorizados a serem investigados, dentre os constantes na Lista do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Edson Fachin não se deu ao trabalho de separar a natureza da investigação, os tipos penais em tese incidentes, as condutas indiciárias e quantias envolvidas. Com isso, "fulanizou" o escândalo e igualou todos os envolvidos no mesmo opróbrio... por suspeita.
Fez mais, envolveu mídia e opinião pública na caça à lista dos amigos e inimigos "de Carlota", na maior ação diversionária já produzida contra a Operação Lava-Jato.
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Fachin - fulanização a toda prova...e indícios também... |
A Fulanização da Corrupção
O ministro-relator, ao liberar sabiamente a lista para o público, não poderia (justamente por isso), misturar levianamente políticos donatários de alguns milhares de reais, contabilizados em campanhas eleitorais, com supostos beneficiários de quantias astronômicas, provindas do propinoduto da Odebrecht.
A generalização é juridicamente injusta, politicamente desastrosa e institucionalmente desmoralizadora.
Como já havia denunciado em outras oportunidades e em recente artigo*, parece que se está fazendo uso dos ganhos morais obtidos pelo intenso combate à corrupção para, com eles, atacar a própria estrutura que suporta esse mesmo combate.
Revelou-se um comportamento dissimulado que reflete enorme fissura institucional em curso no MPF e, a partir da "Lista de Fachin", em curso também no STF.
O esquema é simples:
1- A "esquerda do STF" adota procedimento similar armado pela "esquerda do MPF", de construir um grande liquidificador processual. Nele, estarão misturados corruptos notórios - individuados e enquadrados pelo trabalho minucioso da força-tarefa da Operação Lava-Jato e TODOS os políticos envolvidos com doações de campanha, apontados nas delações premiadas da Odebrecht e demais empreiteiros. A estratégia de misturar tudo e todos é notória se encontra em execução nas colaborações e acordos de leniência organizados "em massa", para atender a dois objetivos, dissimular interesses contábeis inconfessáveis e camuflar a conspiração criminosa executada - de concentração e consolidação do poder econômico e do poder político num único pool ideológico de partidos e dirigentes políticos, empresários amigos e grupos econômicos multinacionais - no Brasil e fora dele;
2- Ligado o liquidificador e misturadas as condutas, o núcleo articulador da conspiração e responsável pelo maior assalto aos cofres públicos já ocorrido na história da humanidade, terá sua conduta criminosa "diluída" no molho de doadores, doações e donatários de campanhas eleitorais diversas. Homiziado no mar de lama generalizado, prosseguirá com o desmonte das provas que podem expor toda a conspiração organizada para conferir suporte econômico ao seu projeto criminoso de poder;
3- Com as conexões que revelam a conspiração diluídas no mar de indiciamentos e suspeitas, o grupo, parcialmente apeado do poder, prosseguirá com seu discurso "anti-golpista", de vitimização dos mentores da roubalheira, da transferência de culpas para a "cultura de corrupção" pré existente ao mandato Lula-Dilma, da "herança cartorial da colonização" atribuída à articulação de João Ramalho com o índio Tibiriçá, à tese do "governo-refém dos partidos corruptos" - não engajados no esforço da distribuição de renda e inclusão social, etc... etc... etc... ganhando, assim, tempo e fôlego para as eleições de 2018;
4- Enquanto isso, os processos seguirão nos tribunais superiores a passos de tartaruga - hora aprisionando poucos por muito tempo, hora detendo muitos por pouco tempo, premiando delatores canalhas, generalizando o que devia estar muito bem especificado e distribuindo estigmas;
5- O partidos claramente beneficiados pela corrupção - partícipes confessos dos "arranjos arrecadatórios" e sob a mira da justiça desde o escândalo do mensalão, permanecerão envolvidos e embolados, sem serem incomodados pela justiça, embora de há muito devessem ter sofrido cassação de registro. Da mesma forma o aparato econômico - empresas e bancos, "lavados" pela massa de acordos de leniência;
6- Enquanto isso, a leviandade generalizada incentiva iconoclastas de tudo, como Bolsonaro, favorecendo a candidatura dos comprometidos com o nada, como é o caso de Lula - na medida da estratégia das empreiteiras, órgãos de mídia e bancos envolvidos no escândalo - e todos sobreviverão sem serem dissolvidos.
A novela de listas de Janot e de Fachin, se vingar, irá confirmar o raciocínio antológico de Dilma Rousseff, acima reproduzido... e só o cidadão contribuinte perderá.
Enquanto a canalha luta para manter a cabeça na superfície da lama, o caos toma conta do país, inclusive no sistema prisional (nunca se matou tanto em tantos lugares por conta da mais banal criminalidade).
Fachin fez o que queriam os petistas, peemedebistas e tucanos: fulanizou os políticos e a política e com isso reduziu o impacto terrível das corrupções bilionárias, embaralhando-as com pequenas doações irregulares de campanhas. Misturou a doação de campanha para o Vado da Farmácia, de Cabo de Santo Agostinho (?) com a destinação de milhões de dólares entrujados em revistas e jornais, bancos e empresas-laranja, visando pagar a "tropa de elite" de Brasília.
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Janot e sua lista - amigos e inimigos de Carlota... |
Os inimigos de Carlota
A novela de listas atrai a atenção da mídia barata-tonta e distrai a opinião pública.
Com isso, todos ficam atentos à comédia que se desenrola entre mentiras e desmentidos, e deixam passar ao largo a tragédia que a todos engole.
Em meio à essa tragédia de listas, liquidificadores e embrulhos, os tipos físicos e meneios teatrais de Janot e Fachin abandonam a dura realidade do roteiro de Sérgio Moro na "Lava-Jato de Curitiba", para ingressar no mundo da ficção da "Lava-Jato do Supremo Tribunal".
O drama judiciário segue o roteiro do diretor hollywoodiano Carl Reiner e sua investigação das listas dos "Amigos de Carlota" e "Inimigos de Carlota" - protagonizada pelo detetive Reardon, personagem de Steve Martin, no filme "Cliente Morto Não Paga".
Mas Brasília foi além de "Rigby Reardon". A equipe encarregada de montar o liquidificador de Janot parece contar com a sagacidade dos Detetives da Interpol Dupont e Dupond - os amigos de Tintim. Só isso poderia explicar a mistura de teses, no campo da imperdoável ingenuidade no mundo dos operadores do direito.
O óbvio ululante, a punição a partidos políticos, pelo visto, será objeto de outra comédia.
Todos continuarão envergonhados, porém vivos. Afinal, "cliente morto, não paga"...
Só há um porém: a transparência alegada para divulgar as listas, servirá para que o Juiz Sérgio Moro libere também o que está apurando nas delações. Se isso ocorrer, como já está ocorrendo no caso do processo no TSE (relatado pelo Ministro Herman Benjamin), talvez o plano não saia como está no script e então, a comédia vire mesmo a tragédia que é.
Só há um porém: a transparência alegada para divulgar as listas, servirá para que o Juiz Sérgio Moro libere também o que está apurando nas delações. Se isso ocorrer, como já está ocorrendo no caso do processo no TSE (relatado pelo Ministro Herman Benjamin), talvez o plano não saia como está no script e então, a comédia vire mesmo a tragédia que é.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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