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quinta-feira, 16 de junho de 2016

ZOOLANDER PARA GOVERNAR SÃO PAULO?

PSDB adota estilo "fashion" para substituir a falta de conteúdo de sua campanha...


Ben Stiller e Heidi Klum, com a célebre pose de Zoolander


Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Zoolander é um filme estrelado por Ben Stiller. Mostra a saga de um modelo deslumbrado,  vazio como o mundo fashion em que vive e que, inadvertidamente, acaba se envolvendo em uma trama internacional da indústria da moda para matar o primeiro ministro da Malásia. 

O besteirol cinematrográfico ganhou uma nova versão em 2016, lotada de tinturas, bronzeamentos artificiais, silicones e botox...

A comédia seria mais um filme destinado às risadas ocasionais... e esquecimento, se não guardasse similitude com a campanha atual do PSDB à prefeitura da cidade de São Paulo. 

A associação me veio como um "flash", ao assistir ao filme. Impressionante como a realidade está reescrevendo o roteiro do cinema... Senão vejamos:

Do guarda roupa, estilos e modos, passando pelo gesto adotado pela campanha eleitoral, Ben Stiller devia cobrar  royalties aos tucanos.

De fato, parece que o incrível ego das lideranças tucanas atingiu os limites ilimitados do mundo fashion de Zoolander  - um universo igualmente artificial, vazio de conteúdo, absolutamente insensível às mazelas da sociedade, pleno de verniz, bajulação, falsidade, luxo, caras e bocas...

Até as indefectíveis "cordinhas", que nos eventos do tucanato separam "quem interessa" do vulgo... refletem a similitude do mundo fashion.


Dória e Alckmin, com a célebre pose de... Zoolander


Há bronzeamento artificial, roupas "casual-chic" - justinhas e coloridas, botox, sobrancelhas depiladas, tinturas, bons carros. Nenhuma identidade com gente pobre... 

A falta  conteúdo é similar. Ou seja, essa é a trama política que irá enredar os personagens em cena. 

Podemos aguardar o que normalmente se observa em Zoolander (sem obviamente haver final feliz): falsidade, discursos vazios, sucessos de mídia, desconstrução midiática, traições, vaidades em chamas, conflito de egos e... redução do público a uma platéia que aplaude ou apupa. 

Agora, tudo faz sentido.  Sem quadros á altura do enorme desafio de administrar uma cidade complexa e em crise, os tucanos resolveram se agarrar ao puro marketing. Nada resolverão... mas "causarão". 

Não há dúvida. Os líderes do PSDB paulista se inspiraram em Derek Zoolander,  quem sabe acreditando no sucesso da reedição do filme, recém lançado nos cinemas. Esperam fazer uma campanha "fashion" para a prefeitura de São Paulo, no melhor estilo cinematográfico. 

Deverão reduzir a política a um problema de "gestão" - a palavra da moda desde "O Aprendiz", estrelado por Donald Trump. 

Por óbvio, aqui como lá, estarão elegendo um "gestor" igualmente bicudo... e também, absolutamente lotado de ambição política.

Traições, tititis e tesouradas, caso a campanha vingue, formarão o "remake" do filme tucano. É só aguardar. 

Momentos de puro trauma no contato com o cotidiano do vulgo...


O porquê de o governador Geraldo Alckmin substituir o trabalho de base, das lideranças do partido, pela atividade de socialites como Dória, é um mistério.

Talvez,  desprezando os quadros partidários que haviam se habilitado ao pleito, o governador esteja confiando no marketing eleitoral "vip", para eleger um candidato do agrado de uma camada da sociedade paulista com a qual nunca conseguiu se misturar.

No entanto, Dória-Zoolander, com histórico eleitoral frágil... ainda é um mistério insondável - mas Alckmin tem  por certo que o modelito de gestor midiático não lhe fará sombra no rumo que pretende tomar em  2018, em direção ao Planalto. E essa decisão "estratégica" ocorre ao custo do visível esgarçamento da militância tucana na Capital. 

O porquê de um empresário e "entertainer corporativo" como João Dória - extrato típico do "café-society" paulista -  assumir o papel de candidato dandy (sem qualquer crítica ao que se é) - inclusive correndo o risco de um desgaste pessoal e empresarial desnecessário, é algo absolutamente explicável.

Dória traça impressionante paralelo com Donald Trump, nos EUA. Ambos encarnam os yuppies de ontem, os dandies de hoje e os reacionários de amanhã. 

Para mantermos o descompromisso com a profundidade proposto neste artigo, vamos parafrasear as definições postas na internet sobre  dandismo. 





Dandy é o perfeito cavalheiro que escolhe viver a vida de maneira, digamos, superficial, privilegiando o luxo. É intelectual de frases prontas, que valoriza exageradamente o esteticismo e os pormenores do padrão estético da moda. Pode ser tido como uma espécie de "pensador diletante", dividindo seu tempo entre eventos sociais, lazer, atividades lúdicas e atividades lucrativas, porém esteticamente comprometidas com a elite. 

Se antigamente o dandy era aquele que usufruia da fortuna produzida pela geração anterior, hoje, o dandy é um yuppie amadurecido. Ou seja, há em sua alma um verdadeiro workahollic, dedicado duramente ao trabalho meritório em prol de si mesmo, sem qualquer outro compromisso.





Em que pese a dedicação ao trabalho, o fato é que o dandy contemporâneo continua obcecado pela classe social em que se insere - afinal, é um indivíduo moralmente enquadrado na lógica capitalista selvagem, mas... dissidente do vulgar (conquistou a sofisticação por seus méritos). Pode até cultivar com sucesso a responsabilidade social corporativa. No entanto,  com raras exceções, sua sensibilidade íntima para a questão termina no marketing.

O espectro de Trump, de fato,  faz a aura de Dória.

Trump, no entanto, é um dandy que nunca quis ser cavalheiro.  Dória, por sua vez, guardadas as proporções, é um dandy muito bem educado e reconhecidamente afável.  

Ego inflado, ambição desmedida e obsessão pelo resgate estético da sociedade nos moldes da elite, dominam o discurso de ambos os candidatos... com todos os pontos críticos a serem observados -  para o bem e para o mal...

Trump, no entanto, carrega no sangue germânico a irresistível tentação para catarses mitológicas - com direito a finais dramáticos com tons wagnerianos. Dória, com o sangue baiano, segue pela via do coronelismo segregador - absolutamente distante do "vulgo". 

Cabelo armado, caras, bocas e muxoxos  igualam ambos os candidatos - e compõem o universo abrangido pelo personagem Zoolander... vida imitando a arte ou vice-versa...

Dória in Zoolander Style?
De fato, a campanha eleitoral tucana abusará do marketing... mas, ao que tudo indica, nada acrescentará de conteúdo para a cidade. Basta observar o que foi dito na pré-campanha, na convenção e... até agora.

O objetivo é a morte da política.

O que aparecerá na propaganda eleitoral, pelo visto, será a roupa justa da moda, a pantomima da eficiência pós yuppie, o biquinho e o gesto de Zoolander (popularizado por Justin Bieber  e reeditado pelo próprio personagem Zoolander...).

A política sairá da agenda, acobertada pelo discurso do gerente das lojas Garbo... ou melhor...do atelier Armani.

O personagem Derek Zoolander encara todo esse arcabouço sem qualquer conteúdo. É o metrossexual sem qualquer compromisso com o intelecto. Críticas causam rugas.  Conceituações ideológicas e políticas... saíram de moda. 

A campanha "Zoolander" do PSDB à prefeitura de São Paulo possuirá algum conteúdo, sem dúvida. Porém, desde já, revela a insensibilidade dos "brioches" de Maria Antonieta. 

Esse roteiro não é original. Mais uma vez, constrói-se uma liderança do nada, desconectada do processo político, e põe-se a criatura na sala para contracenar com o criador. 

Esse roteiro antecede a produção de Zoolander. O final geralmente termina com criatura exterminando o criador , ou o criador liquidando a criatura. 

Tal qual o modelo fashion, Doria não irá se contentar com "apenas" ESSA passarela. Vai querer desfilar no Palácio dos Bandeirantes ou, quiçá, substituir o criador no desfile para o Planalto. 

Esquecer o que a história ensina é típico de quem se acomodou. Sinal claro que o tucanato ficou tempo demais no governo do estado e... até hoje não compreendeu a dinâmica social da capital bandeirante.

Ruim para o partido, pior para o paulista...paulistano.



Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados, integra o Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, membro da Comissão de Infraestrutura e Sustentabilidade e da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB/SP). Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal. Responde pelo blog The Eagle View.



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