Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Desvios de verba na compra da merenda escolar constituem a mais baixa conduta da novela diária da corrupção no Brasil. Ganhar dinheiro às custas da fome de crianças na escola só se equipara ao opróbrio da malversação de fundos destinados à saúde e à fraude na compra e distribuição de remédios.
Casos como esses revelam o trabalho sórdido de gente desonesta. Expõem a degradação moral do Estado. Demonstram a periculosidade homicida de canalhas que, ao invés de estarem atrás das grades, ocupam cargos de prestígio na Administração Pública - gente paga com dinheiro suado de milhões de cidadãos de bem. Gente que goza da "proteção política" do governo...
A história se repete
A gravidade é maior quando se observa a persistência da atividade criminosa, típica de uma impunidade politicamente garantida. Essa é a razão da repetição dos episódios, quase sempre nos mesmos moldes nos governos paulistas.
Vale a pena observar o recente escândalo da Merenda Escolar, que explodiu no início de 2016, em São Paulo. De fato, o caso segue esquema conhecido.
O butim, segundo as autoridades que o investigam, envolveu políticos do PSDB e do PMDB - partidos que formam a base aliada do Governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Suspeitos foram indiciados e provas foram coletadas abrangendo prefeituras, cooperativas e burocratas da Secretaria estadual e secretarias municipais de educação de vários municípios.
No entanto, não foi a primeira vez, nem a segunda, que o fenômeno surgiu envolvendo as mesmas instituições.
Vale a pena observar o recente escândalo da Merenda Escolar, que explodiu no início de 2016, em São Paulo. De fato, o caso segue esquema conhecido.
O butim, segundo as autoridades que o investigam, envolveu políticos do PSDB e do PMDB - partidos que formam a base aliada do Governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Suspeitos foram indiciados e provas foram coletadas abrangendo prefeituras, cooperativas e burocratas da Secretaria estadual e secretarias municipais de educação de vários municípios.
No entanto, não foi a primeira vez, nem a segunda, que o fenômeno surgiu envolvendo as mesmas instituições.
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| mecanismo da corrupção das merendas parece seguir uma apostila distribuída à larga... |
Um mesmo modus operandi
O mecanismo segue uma "apostila de corrupção", um formulário-padrão distribuído entre corruptos na burocracia brasileira.
O esquema é basicamente integrado pelos seguintes elementos:
1- formação de cartel dos fornecedores,
2- superfaturamento de contratos públicos,
3- distribuição de propinas,
4- repasses dos valores a laranjas e lavanderias,
5- emprego do butim em campanhas políticas ou empresas de fachada dos beneficiários.
Assim, o que poderia parecer uma inusitada novidade no governo tucano, infelizmente não é.
O escândalo do cartel da merenda escolar portanto, obedece estrutura criminosa que não se altera, embora várias vezes denunciada e reprimida. Senão vejamos:
Há dez anos o Ministério Público paulista iniciou investigação similar à de 2016, sobre os cartéis da merenda escolar ( IP 050.07.095123-3).
Em 2007, a promotoria de justiça paulista ofereceu denúncia por crime de cartel e corrupção ativa contra vários fornecedores, políticos e administradores, junto à 10a. Vara Criminal Comarca da Capital (proc. 0095123-31.2007). Essa denúncia, ao que parece, cirúrgica, excluindo relações cuja comprovação dependeria de fórmulas de investigação então ainda não consolidadas no nosso sistema legal (como era o caso das delações premiadas).
Em que pese o enorme interesse público envolvido no caso, este processo, estranhamente, corre até hoje em segredo de justiça, a pedido do governo paulista.
A citada ação penal de 2007, dorme nos escaninhos da primeira instância da Justiça Paulista. Ou seja, não avança, não se desdobra, não se instrui e não tem conclusão.
Nesta ação penal, os Promotores de Justiça oficiantes reproduziram citação da OCDE - Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico nos termos seguintes:
Nesta ação penal, os Promotores de Justiça oficiantes reproduziram citação da OCDE - Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico nos termos seguintes:
"Cartéis causam danos a consumidores por meio do aumento de preço ou da restrição de oferta, (...) o que possibilita, sem que saibam, a transferência de riquezas aos membros do cartel. Além disso, os cartéis geram desperdício e ineficiência. Eles protegem seus membros da esposição às forças do mercado, reduzindo a pressão pelo ocntrole de gastos e para inovação, o que acarreta na perda de competitividade da economia nacional"
Com efeito, a história, agora, se repete.
Claro está que o escândalo que agora explode no rosto de políticos importantes no Estado de São Paulo e, de novo, nas costas do governo Alckmin, não é fenômeno ocasional ou isolado. É mais do mesmo processo de concentração econômica inserido no esquema da merenda escolar tucana.
O fenômeno de concentração econômica é conhecido, já foi analisado e é periodicamente investigado. É recorrente e está impregnado no programa permanente de alimentação das crianças nas escolas, como reforço à melhoria da produtividade de aprendizado delas na rede básica de ensino.
Cinismo institucionalizado
O desvio-padrão do problema a corrupção para a esfera judicial, portanto, é verdadeira válvula de escape para o Governo do Estado, pois exime o executivo de dar satisfações à opinião pública alegando, cinicamente, que "o caso já está sob investigação na esfera policial e no Ministério Público".
A denúncia do Ministério Público, portanto, já funcionou para que governo e sua base política "lavassem as mãos" (haja sapólio), e não se obrigassem a agir para sanar estruturalmente a questão.
Portanto, a ação policial, por si só, face à circunstância histórica e sistêmica acima constatada, equivale a "enxugar gelo".
Por óbvio que o problema demanda atuação analítica e firme dos órgãos de fiscalização e controle, nas três esferas de poder. Ocorre que, no caso da merenda escolar, os órgãos estão demonstrando inaptidão para lidar com a magnitude da sordidez do fenômeno.
Não há outro adjetivo. Trata-se de um cinismo institucionalizado. De fato, há um verdadeiro desmanche em curso na estrutura institucional do Estado Brasileiro, e também no paulista e esse desmanche afeta a capacidade de investigação e repressão do cartel mais canalha da corrupção paulista, o da merenda escolar.
Vamos observar o que tem ocorrido com os principais atores que deveriam estar empenhados na resolução do escândalo em favor da cidadania.
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| Presidente da CPI na Assembleia - Deputado Marcos Zerbini |
Assembleia Legislativa: o túmulo da política paulista
A Assembleia Legislativa do Estado tem obrigação constitucional, institucional e moral de apurar o câncer, que corrói de há muito a estrutura de distribuição da merenda escolar do governo tucano. Para tanto dispõe de competência inquisitorial e persecutória, concentrada na Comissão Parlamentar de Inquérito.
Mas no caso da Merenda Escolar, a Comissão Parlamentar de Inquérito foi instalada tardiamente e de forma vergonhosa. Foi necessário pressão forte da opinião pública (e até mesmo a invasão do Palácio 9 de Julho por estudantes secundaristas), para a ALESP cumprir com o dever de investigar o óbvio...
Encerrada em uma caixa de mármore, e por isso apelidada de "mausoléu do legislativo brasileiro", a ALESP é dos poucos parlamentos estaduais com competência constitucional para exercer fiscalização e controle da Administração do Estado. Por força da constituição paulista, a ALESP possui comissão permanente instalada, a qual, irônicamente, se omitiu de fiscalizar a questão.
Assim, a instalação a contra-gosto da Comissão Parlamentar de Inquérito pouco efeito surtiu. As sessões correm a passo de tartaruga e a necessidade de desviar o foco político do Palácio dos Bandeirantes, faz com que parlamentares criem factoides a cada minuto.
O último, antes do recesso, veio da lavra do próprio presidente da Comissão.
Seguno o Portal G1, na terça-feira (28 de junho de 2016), às vésperas de terminar o período semestral do legislativo e sobrevir o recesso parlamentar, o presidente da CPI da Merenda, Marcos Zerbini (PSDB), expressou juízo prévio, manifestando-se pela inocência do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB).
Capez foi citado em delação premiada, teve um de seus assessores preso na operação e, com isso, foi abrangido pelas investigações.
Por óbvio não se pode fazer juízo prévio condenatório de ninguém, muito menos do Deputado Capez - cuja trajetória profissional, inclusive no Ministério Público paulista, remete a posição completamente oposta à suspeição que recai sobre ele. No entanto, o presidente da CPI, que de forma alguma poderia fazer juízo prévio sobre o caso, a título de se pronunciar pela inocência do Deputado Capez, o expôs ainda mais sob os holofotes da mídia.
Antes da desastrada declaração, o presidente da CPI já havia dito que só começaria a escutar testemunhas quando tivesse acesso e estudasse os documentos da Polícia Civil e do Ministério Público. Depois, veio a escolha do Relator da CPI, um governista de carteirinha, em um colegiado que já conta com o presidente e vice-presidente como aliados do governador. O deputado Estevam Galvão, do DEM, historicamente alinhado ao PSDB, só reforça o quadro de fracasso institucional.
Assim, vale a famosa frase do Barão de Itararé: "de onde menos se espera, daí é que não sai nada"...
Capez: o "boi de piranha"
Em verdade, Capez surgiu como "boi de piranha", uma liderança ascendente atingida por fogo amigo e exposta ao opróbrio como escudo humano do governo.
De fato, Zerbini não tinha qualquer interesse no seu colega parlamentar e, sim, em afastar os holofotes do Palácio dos Bandeirantes - o grande mudo em toda a história...
Antes da desastrada declaração, o presidente da CPI já havia dito que só começaria a escutar testemunhas quando tivesse acesso e estudasse os documentos da Polícia Civil e do Ministério Público. Depois, veio a escolha do Relator da CPI, um governista de carteirinha, em um colegiado que já conta com o presidente e vice-presidente como aliados do governador. O deputado Estevam Galvão, do DEM, historicamente alinhado ao PSDB, só reforça o quadro de fracasso institucional.
Assim, vale a famosa frase do Barão de Itararé: "de onde menos se espera, daí é que não sai nada"...
Capez: o "boi de piranha"
Em verdade, Capez surgiu como "boi de piranha", uma liderança ascendente atingida por fogo amigo e exposta ao opróbrio como escudo humano do governo.
De fato, Zerbini não tinha qualquer interesse no seu colega parlamentar e, sim, em afastar os holofotes do Palácio dos Bandeirantes - o grande mudo em toda a história...
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| Capez, Presidente da Alesp. Na alça de mira... |
Em seu jogo dissimulado, Zerbini "defendeu" o colega de partido: “Eu sei que quem foi acusado de forma injusta tem desespero grande em provar sua inocência”. Afirmou ainda, segundo o G1, que “o dano causado à imagem de Capez é um dano que não pode ser revertido mesmo comprovando sua inocência” (sic).
Ao ser questionado por jornalistas sobre a afirmação, o deputado alegou ter sido “mal compreendido” e afirmou que "quem se declara inocente é o próprio presidente da Alesp".
Único membro da oposição na CPI, o deputado Alencar Santana (PT-SP) entendeu que a declaração de Marcos Zerbini "deixa evidente as intenções da Comissão". Para o deputado, inocentar um acusado em delação sem sequer ter escutado testemunhas ou ter acesso aos documentos do Ministério Público e da Polícia Civil é pré-julgamento com finalidade definida: “blindar Capez”.
Capez foi feito de escudo humano. Os tucanos o elegeram como o próximo bode expiatório e irão fritá-lo lentamente... Com isso inviabilizam a trajetória ascendente de uma liderança que já estava incomodando os velhos caciques do partido e jogam aos leões mais um cristão, para desviar a atenção da platéia da tribuna de honra.
Enquanto isso, o câncer permanece intocado na rede de ensino paulista, apenas renovadas as células cancerígenas.
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| Alesp - uma caixa de mármore que abriga o túmulo da política paulista? |
Tribunal de Contas: leão sem dentes
Afora a Assembleia, outro organismo importantíssimo e que auxilia este Poder, é o Tribunal de Contas do Estado.
O TCE zela pela higidez da operação de combate à corrupção e foi dele a iniciativa de denunciar o cartel do fornecimento da merenda.
De fato, as apurações com relação ao escândalo da merenda escolar tiveram início no Tribunal de Contas do Estado, no ano 2000.
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| Dimas Ramalho - Presidente do TCE. O desafio de não apenas rugir, mas também atacar... |
O TCE apontou irregularidades na gestão da merenda escolar nos relatório finais sobre as contas de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, sucessivos governos tucanos.
Segundo a Corte, os problemas vão desde o processo de fiscalização na compra e distribuição da comida para os alunos, até as condições de higiene das cozinhas nas escolas.
Nos ultimos relatórios, o TCE observou que em torno de 15% dos colégios, as panelas ficavam no chão; em outros 29%, os alimentos estavam guardados fora da geladeira e em 16% não havia certificado de desratização ou desinsetização.
Os problemas sanitários são a expressão do descaso dos governos tucanos para com a educação pública. Eles refletem a corrupção de longa data instalada naquele setor.
Em 2000, ainda no governo de Mario Covas, a aquisição de comida para as escolas virara alvo do Ministério Público e do TCE por conta da proximidade do então governador com o empresário Sérgio de Nadai, dono das empresas De Nadai Alimentação e Convida Alimentação.
De Nadai viu o capital de sua empresa passar de 197 mil reais para 4 milhões, entre 1995 e 2001, durante o governo Covas.
De Nadai viu o capital de sua empresa passar de 197 mil reais para 4 milhões, entre 1995 e 2001, durante o governo Covas.
A empresa De Nadai detinha também vários contratos para fornecimento de alimentação em presídios estaduais, e ganhou parte deles sem licitação, devido a situações “emergenciais”. Com o tempo, esses serviços se expandiram para diversos municípios. Sempre em prejuízo da alimentação das crianças.
Em um dos relatórios do TCE, na época, o conselheiro Antonio Roque Citadini afirmava: “Parece que o governo força situações de emergência”.
A sucessão de escândalos não parou todos esses anos.
Mesmo após a apuração e ajuizamento das ações penais respectivas no escândalo das merendas do início do século, em 2009 ocorreu investigação que novamente mostrou esquemas de corrupção e cartel envolvendo cerca de 100 milhões de reais, só em propinas.
Importante reforçar. As novas apurações surgiram mesmo com ações penais e civis e autuações administrativas do Tribunal de Contas já em curso...
Mesmo após a apuração e ajuizamento das ações penais respectivas no escândalo das merendas do início do século, em 2009 ocorreu investigação que novamente mostrou esquemas de corrupção e cartel envolvendo cerca de 100 milhões de reais, só em propinas.
Importante reforçar. As novas apurações surgiram mesmo com ações penais e civis e autuações administrativas do Tribunal de Contas já em curso...
A conclusão é triste. O TCE sabe rugir como um Leão, e cumpriu o seu papel ao alertar para a questão. Porém, embora tenha alguma eficácia leonina no âmbito dos municípios, o TCE parece perder os dentes quando o assunto é atacar a irregularidade face ao Governo do Estado.
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| Escândalo reflete o desprezo do governo pela rede de ensino público paulista |
Secretaria da Educação: depósito de alunos...
A responsável primária por controlar, e reprimir o escândalo, é a Secretaria Estadual de Educação, que de há muito já deveria ter estabelecido critérios visando eliminar a repetição de fornecedores cartelizados.
No entanto, há anos que a secretaria se ocupa de verdadeira logística de alocar seres humanos...
A rotina do órgão principal da educação paulista é transferir alunos, fechar escolas, ampliar o número de alunos por salas, transtornar pais de alunos, obrigando-os a corridas incessantes para realizar matrículas... isso quando há aulas e não ocorrem greves.
A rotina do órgão principal da educação paulista é transferir alunos, fechar escolas, ampliar o número de alunos por salas, transtornar pais de alunos, obrigando-os a corridas incessantes para realizar matrículas... isso quando há aulas e não ocorrem greves.
Parece que os sucessivos governos tucanos enxergam as escolas como... depósito de crianças, que ali estão apenas para não ficar na rua...
Há um desprestígio ostensivo aos professores. Um desprezo às administrações das unidades, às delegacias de ensino, ausência de planejamento e incapacidade de fixar um quadro de profissionais que obtenham algum conforto intelectual para ministrar aulas.
As sucessivas administrações iluminadas tucanas são curiosas... Insistem em impor "padrões de qualidade" que estressam o corpo docente e ignoram por completo as condições de trabalho e vida dos professores. O resultado é um quadro cada vez maior de estressados, cidadãos desprestigiados pelo governo e desrespeitados pelos alunos.
Já o corpo discente responde sempre para pior. Estimulados pelo avanço da criminalidade impune no entorno e dentro das unidades, pululam os ataques marginais.
Já o corpo discente responde sempre para pior. Estimulados pelo avanço da criminalidade impune no entorno e dentro das unidades, pululam os ataques marginais.
Projetos importantes e sérios, como o que se tentou implementar recentemente, na alteração de padrões de ensino e racionalização das escolas, ao invés de sofrerem implementação gradual, testada e regionalizada, caem como uma pedra na cabeça de professores, alunos e pais de alunos, originando crises e impasses.
Passada a crise, descontinuados os projetos, estes, então, são esquecidos...
Passada a crise, descontinuados os projetos, estes, então, são esquecidos...
Enquanto isso, a estrutura cancerígena e cartelizada da corrupção se mantém. Afinal, na estrutura da Administração há duas certezas: os secretários passam e o sistema, fica.
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| Promotor Romanelli - à frente das investigações ou enxugando gelo? |
Judiciário e Ministério Público: corpos divididos
O judiciário também deve uma satisfação ao contribuinte paulista, aos alunos, professores e familiares que dependem da rede de ensino pública para formar cidadãos.
Deve satisfação, porém não a dá.
O segredo de justiça imposto a uma ação que já dura DEZ ANOS sem qualquer perspectiva de decisão em primeira instância, sobre o cartel de fornecedores da péssima merenda escolar paulista, já dá a medida do que ocorrerá nas próximas ações que deverão se acumular nos escaninhos de uma das mais paquidérmicas, morosas e caras estruturas judiciárias do mundo...
O segredo de justiça imposto a uma ação que já dura DEZ ANOS sem qualquer perspectiva de decisão em primeira instância, sobre o cartel de fornecedores da péssima merenda escolar paulista, já dá a medida do que ocorrerá nas próximas ações que deverão se acumular nos escaninhos de uma das mais paquidérmicas, morosas e caras estruturas judiciárias do mundo...
Está na hora do judiciário integrar forças-tarefa pontuais, visando imprimir celeridade às investigações criminais relacionadas à corrupção estatal, bem como conferir maior atenção ao processo, quando judicializada a questão.
No âmbito do Ministério Público, embora meritória cada investigação realizada, resta patente que não se cuidou de adotar uma medida de ordem civil, visando corrigir o comportamento gerencial da Administração.
Não basta obviamente a repressão criminal, se o núcleo estrutural permanece encastelado sob a tutela de um executivo pusilâmine, que mantém exatamente as mesmas fórmulas de contratação em sua burocracia.
Passou da hora dos grupos especializados de combate ao crime organizado do Ministério Público, demandarem também maior integração com o judiciário.
Em São Paulo, definitivamente, sobram promotores dispostos a agir, pululam desencontros de ações e medidas de ordem civil e criminal e... faltam juízes que traduzam todo o esforço de combate à corrupção... em Justiça.
Corpos divididos... quando compõem um só organismo, o da Justiça.
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| Alckmin precisa parar de minimizar o problema, que parece contaminar a estrutura governamental |
Um governo contaminado pela pusilanimidade...
O escândalo da merenda que explodiu neste ano, põe sob suspeita compras realizadas nos últimos cinco anos em pelo menos 22 cidades do interior do Estado.
O escândalo envolve uma cooperativa, chamada Coaf, cujos vendedores pagavam uma série de lobistas, "os quais diziam para os vendedores que repassariam propinas para políticos", explica o Promotor de Justiça Leonardo Romanelli, do GAECO de Ribeirão Preto - integrante da força-tarefa montada para investigar o esquema. “Temos prefeitos, deputados federais e estaduais, secretários de educação citados pelos delatores”.
O escândalo envolve uma cooperativa, chamada Coaf, cujos vendedores pagavam uma série de lobistas, "os quais diziam para os vendedores que repassariam propinas para políticos", explica o Promotor de Justiça Leonardo Romanelli, do GAECO de Ribeirão Preto - integrante da força-tarefa montada para investigar o esquema. “Temos prefeitos, deputados federais e estaduais, secretários de educação citados pelos delatores”.
Em 2015 o Governo paulista pagou mais de 11 milhões de reais à cooperativa que fornecia os alimentos das merendas, por diversos contratos – um crescimento de mais de 4.500%, tendo em vista os 238.000 recebidos no ano anterior.
Além das suspeitas que recaem sobre licitações feitas pelo Estado com verba do Governo Federal, a Polícia Civil estadual e o Ministério Público acreditam que as prefeituras também recebiam propina para assinar contratos com a Coaf.
De acordo com o Ministério Público, as propinas giravam entre 10% e 30% do valor dos contratos.
Além das suspeitas que recaem sobre licitações feitas pelo Estado com verba do Governo Federal, a Polícia Civil estadual e o Ministério Público acreditam que as prefeituras também recebiam propina para assinar contratos com a Coaf.
De acordo com o Ministério Público, as propinas giravam entre 10% e 30% do valor dos contratos.
Portanto, minimizar o problema, ou remeter a questão à esfera judicial, para lavar as mãos sobre o caso, não é atitude que se espere do Governador Geraldo Alckmin.
É preciso agir, pois, no momento atual, quem mais está agindo são os delatores...
É preciso agir, pois, no momento atual, quem mais está agindo são os delatores...
Mais do mesmo... com os mesmos
Assim como a Lava Jato, a Alba Branca deve lançar mão das delações premiadas, mas o promotor Romanelli afirma que ainda é cedo para tirar conclusões.
“Sem dúvida a delação é uma ferramenta importante para chegar à corrupção no poder público”, afirma o operoso promotor. “Mas estamos em uma etapa de confrontar o que disseram nos depoimentos preliminares com os contratos públicos e os documentos apreendidos”.
A rede é intrincada.
A Coaf, núcleo do escândalo atual, tem sede em Bebedouro. Seis funcionários da empresa estão presos. Tudo indica que a companhia fizesse parte de um cartel formado pela Cooperativa dos Agropecuaristas Solidários de Itápolis (Coagrosol) e a Cooperativa de Citricultores de Engenheiro Coelho (Cocer). Em depoimento, Cassio Izique Chebabi, ex-presidente da Coaf, confirmou que havia combinação de preços entre eles, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
A Coaf, núcleo do escândalo atual, tem sede em Bebedouro. Seis funcionários da empresa estão presos. Tudo indica que a companhia fizesse parte de um cartel formado pela Cooperativa dos Agropecuaristas Solidários de Itápolis (Coagrosol) e a Cooperativa de Citricultores de Engenheiro Coelho (Cocer). Em depoimento, Cassio Izique Chebabi, ex-presidente da Coaf, confirmou que havia combinação de preços entre eles, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Adriano Mauro, outro funcionário preso, informou que o lucro dos contratos de suco de laranja é muito alto - “cerca de 90%”, o que permitia “pagamento de comissões”. De acordo com o delator, “esse esquema só era possível porque os órgãos públicos, ao licitar, se baseavam no preço de supermercado, que se aproximava de 10 reais o litro”. A Coaf, no entanto, vendia por 6,80 reais, sendo que o preço de custo é de 3,70 reais.
Ou seja, por mais que investigue o caso, o Promotor Romanelli e seus colegas de força-tarefa continuarão a "enxugar gelo", caso não obriguem o governo a deixar de minimizar a questão e reformar a estrutura cancerígena instalada no sistema de contratação da merenda escolar.
Enquanto isso, a merenda continuará sendo servida às crianças nas condições atestadas pelo TCE, acima descritas. Uma comida de pior qualidade que a servida nas prisões do estado.
Afinal, como disse um aluno integrante do movimento que ocupara a Assembleia Legislativa, "governo banana não se indispõe com marginal preso, mas pode impunemente causar mal às crianças"...
Leia também:
Os Vermes e a CPI da Merenda Escolar
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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