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segunda-feira, 11 de abril de 2016

O SILENCIO QUE GRITA!

PARLAMENTARES DO NORDESTE NÃO RECEBEM UM ÚNICO EMAIL DE SUAS BASES, EM FAVOR OU CONTRA O IMPEACHMENT DE DILMA


A verdadeira sede do poder em Brasília - Quartel general de Lula, o hotel em Brasília recebe parlamentares nordestinos que não se vêem pressionados em suas bases a votar pelo impeachment.



Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Em meio à grande pressão popular sobre o parlamento nacional, nos estertores do trâmite do processo de impeachment contra a presidente Dilma Roussef na Câmara dos Deputados, deputados nordestinos seguem negociando posições com o quartel general lulista, instalado no Golden Tulip Alvorada, sem serem incomodados por seus eleitores.


O alerta de Celso Russomanno 


Em conversa com o amigo e Deputado Federal, Celso Russomanno, este me alertou para um fato impressionante: do imenso volume de cartas, emails, manifestações em redes sociais e contatos pessoais, efetuados pelos cidadãos e movimentos pró-impeachment de Dilma, praticamente inexistem pressões provindas do norte e nordeste. 

Celso Russomanno - alerta em relação
ao silêncio nas redes
Expoente no Congresso Nacional, parlamentar mais bem votado do País - eleito com  1,52 milhão de votos (7% de todo o eleitorado do estado de São Paulo) - e experiente político no campo das modernas ferramentas de comunicação,  Celso Russomanno analisou o fluxo de dados na internet e a origem das mensagens e manifestações, inclusive as recebidas pelos deputados das regiões norte e nordeste do país e, então, constatou o que os parlamentares nordestinos já haviam identificado:  eles não sofrem, em verdade, qualquer pressão de suas bases eleitorais, no sentido de se posicionar contra o governo Dilma (nem a favor).

Há casos de partidos que se posicionaram a favor do impeachment, por exemplo, cujos deputados nordestinos não receberam sequer UM email de suas bases, parabenizando ou reprovando eventual desobediência á orientação partidária.

Deputado Cleber Verde -nenhuma manifestação
proveniente de sua base no Maranhão
O Deputado Cleber Verde é um desses casos emblemáticos. Cleber está no rol dos indecisos no "placar do impeachment". Por conta desse fato tem recebido milhares de emails e cartas.

No entanto, segundo assessores, TODAS as manifestações recebidas no gabinete do parlamentar do PRB, pedindo que apoiasse o processo em desfavor da presidente Dilma Rousseff, tinham origem na região sul, sudeste e centro-oeste. NENHUMA fôra remetida de sua base eleitoral, no Maranhão...

Difícil não interpretar a omissão do próprio eleitorado, como um salvo-conduto para que o representante decida por si... E a omissão é inversamente proporcional ao protagonismo observado no eleitorado das demais regiões do país, como atestam as assessorias de vários outros parlamentares.

O silêncio do nordeste, portanto, GRITA no parlamento nacional, tanto ou mais que a gritaria - real ou virtual, dos cidadãos e movimentos sociais de oposição do sul, sudeste e centro-oeste.


A guerra de secessão política ainda continua


Passados quase dois anos das eleições, a votação no nordeste ainda se mantém como indicativo do que pensa a região em relação ao governo federal.

O Nordeste, a segunda região mais populosa do país, deu a vitória a Dilma Rousseff.

Esse voto não foi gratuito. Deveu-se aos governos de Lula, e ao avanço inercial ainda sentido no primeiro governo Dilma. De fato, enquanto o PIB nordestino cresceu 1,9 ponto percentual no período de 2001 a 2011, o PIB no Sul perdeu 2,1 pontos e essa diferença ainda se manteve no período seguinte, até a crise forte de 2015.

Todo o discurso petista, no período que antecedeu as eleições é agora reforçado pelo bombardeio dos meios de comunicação no nordeste e distribuição de panfletos, rumores boca-a-boca e dados nas redes sociais da região: o Brasil reparou um chaga histórica no período Lula-Dilma, que foi incrementar o crescimento do nordeste em prejuízo do "sul maravilha" e, agora, a "turma de São Paulo quer destruir as 'conquistas' obtidas". 

Mapa dos investimentos do Governo Dilma nos dois mandatos


O que puxava os índices de desenvolvimento do Brasil para baixo sempre foi o Nordeste, mas só até que Lula chegasse ao poder. Dali em diante, essa equação começou a se inverter.

Por outro lado, a chamada "hegemonia tucana" fez com que, no governo petista em Brasília e do PSDB em São Paulo, este se tornasse o Estado que mais perdeu participação no PIB da indústria brasileira. Apesar de ainda responder pela maior parte da produção industrial (33,3%), a economia paulista teve recuo de 7,7 pontos percentuais em sua participação no PIB industrial. 

Lula - artífice de mudança geopolítica que ainda
o favorece politicamente (Foto: F.Donaci)
No período do primeiro mandato de Dilma Roussef e, ainda inercialmente, no seu primeiro ano de segundo mandato, o Nordeste liderou a criação de postos de trabalho no país. Tirante o desemprego galopante, do 1,5 milhão de empregos novos criados no período (sempre os há), 1 milhão ocorreu no Nordeste. 

Assim, ainda vigora na região, aliado ao ressentimento tradicional com o sudeste, um novo sentimento de compreensão de que o que aí está, ainda que não seja o melhor para o Brasil, foi, sim, para o Nordeste.

O discurso político petista, na região é acachapante: distribuição de renda começa pela distribuição geográfica, para depois avançar para os critérios de idade, gênero, etc.

Com isso,  enquanto o Brasil enfrentava uma sucessão de "pibinhos", o PIB nordestino crescia.


Miragem e preconceito


Por óbvio, toda  essa propaganda dilmista não revela que, em meio a todo esse avanço em obras de infraestrutura, petróleo, transposição, etc,  ocorreu que as empresas nordestinas de construção civil tornaram-se quase vassalas das grandes empreiteiras do sul (incluso Odebrecht - que de baiana, hoje, só tem a origem...), cujo cartel açambarcava todos os contratos, subcontratando firmas e engenheiros nordestinos por trecho... Assim, a libertação real da economia nordestina poderá ocorrer justamente com a saída de cena do esquema de governo petista e seus grupos de grandes empreiteiras. 

Bancada do nordeste na Câmara, no Ministério
da Agricultura - sem pressão dos eleitores
Por outro lado, a classe política e empresarial nordestina necessitaria vir à tona nesse oceano de silêncio, justamente para sinalizar à bancada nordestina no parlamento, que não ficariam impunes os deputados governistas e dissidentes que não apoiassem o impeachment (que várias entidades de peso do nordeste, de fato, apoiam - embora não expressem com a necessária clareza).

Assim, é preciso ampliar a compreensão da questão regional, nesse exato momento em que  o PT reedita  a União Cívica Nacional, nos moldes getulistas dos anos 30, quando tenentistas do sul e oligarquias nordestinas deram-se as mãos para espancar o Sudeste, formando a rede de apoio ao governo federal, entre  a constituinte de 1934 até o golpe do Estado Novo, em 1937.

O alerta de Celso Russomanno precisa ser ouvido e entendido em sua inteireza, para que o "sul maravilha" não seja surpreendido como foi em 2014. 

E não adianta responder com preconceito ou xenofobia... o buraco, em verdade, está bem acima disso, situado na economia e na miragem.

Seria preciso forte articulação entre os líderes oposicionistas do sul e sudeste e as verdadeiras classes produtivas do nordeste. 

Tucanos "sabem de nada, inocentes"...
ensimesmados, causam o silêncio nordestino
A economia do nordeste, em verdade, para além da miragem segregacionista lulo-dilmista, poderá sim, ganhar muito com o redimensionamento da economia - principalmente após debelado o cartel de grandes empresas apoiadoras do governo petista.

O problema é que, se depender de grande parte das hostes oposicionistas, em especial a tucanada paulista, pouco mudará nesse campo.

Ensimesmados nos seus sonhos provincianos de poder. Perdendo toda a iniciativa política para o PMDB no cenário nacional, os líderes do PSDB deixaram há muito de constituir alternativa válida para o que aí está e... aí reside a razão do grande silêncio do nordeste...







Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.



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