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quarta-feira, 13 de abril de 2016

A EVOLUÇÃO DO PERFUME E O RESGATE DO CHEIRO

Pequeno ensaio sobre o cheiro





Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


A natureza...cheira

Possuímos cinco sentidos: toque, audição, visão, paladar e olfato. A cada um deles,  corresponde nossos órgãos: pele, ouvidos, olhos, língua e nariz.

Destes, o mais sutil, sem dúvida, é o olfato, aquele sentido que inalamos e que nos transmite todo tipo de sensações. Algo que supera o sentir o gosto, olhar, ouvir ou tocar. 

O olfato supera os sentidos físicos, brutos. Ele produz um sexto sentido, algo intangível, que nos conduz a um sentimento de bem estar ou mal estar, de pressentimento, de excitação.

É em função disso que buscamos o sentimento de bem estar quando inalamos um perfume delicado. Aliás, o perfume abastece nosso próprio cheiro...

É tudo muito natural - afinal, a natureza cheira. 

Cachorros se apresentando...
No que tange a nós, da espécie animal, o cheiro é elemento instintivo, determinante.

Os predadores, por exemplo, marcam seu território com urina, cujo odor nos distingue como impressões digitais.

Animais costumam cheirar reciprocamente os traseiros - ali se encontra o "cartão de visitas" dos mamíferos e dos insetos.  

Talvez por termos racionalizado um código moral que nos leva a uma completa sublimação dos mais básicos instintos, nosso animal de estimação, hoje, saiba mais sobre o nosso perfume individual que nós mesmos...


A evolução é perfumada


Nossa evolução está marcada pela sublimação racional de nossos instintos.

Assim, evoluímos em busca e através das essências que nos enlevam, e ocasionalmente buscamos um resgate episódico de nossos cheiros naturais...

Em nossa busca de sublimação, buscamos refúgio na arte: a fabricação das essências oloríficas - os perfumes. 

Perfumes cobrem nossos odores, como o velho cheiro de suor, e nos intoxicam com sua fragrância - afinal, nos estimulamos ou buscamos nos enlevar pelo perfume (como aliás, qualquer outra droga que integra o cotidiano de sublimação do ser humano)

A palavra perfume vem do latim `per fume`- através do fumo. 

A busca pela sensação de bem estar e enlevamento por meio dos perfumes é longa - já existia há 4000 anos atrás desde a Mesopotâmia e o Egito, antes de ser melhorada pelos Romanos e Árabes. 

O perfume, aliás, está em toda a Bíblia. 

perfumes

Na Europa, o perfume, como produto da arte na manufatura, consolidou-se no século XIV. A Hungria produziu o primeiro perfume moderno em 1371. 

Porém, foram as guerras e a revolução industrial que introduziram o perfume no cotidiano de todas as pessoas. A Itália vivenciou, no seu renascimento,  uma grande atividade na produção do perfume. A França transformou-se no centro dos perfumes feitos das plantas aromáticas, que são cultivadas desde o século XVlll, em Grasse.

Nós, humanos, somos predadores hábeis - carregamos em nós o instinto de conquista. Nesse sentido nos apoderamos de tudo - desde os diamantes em cavernas escuras até as pérolas nas profundezas dos oceanos, ou mesmo a Lua. 

Pois bem, o perfume representa a maior "vitória" do homem predador sobre a natureza. Significa a capacidade que este teve de capturar, processar, misturar e transformar os odores, inovando a sua própria sensação de natureza.  

O perfume é uma mistura de óleos, de aromas e de fixadores misturados com os solventes. A indústria é caracterizada tradicionalmente pelo secretismo. 

Nem todos podem compreender a linguagem da fabricação do perfume. No entanto, sentem... 


Nosso cheiro é a grande conquista


O cheiro determinou vários episódios de conquista e evolução da humanidade. 

Afinal, foi a flatulência descontrolada de um soldado romano, em frente ao templo de jerusalém, em plena páscoa judaica, que motivou uma revolta  cujo saldo foi a morte de milhares de pessoas e o início da primeira diáspora. 

"o cheiro da guerra" - o napalm inspira
diálogo épico no filme "Apocalipse Now"
O cheiro da guerra, aliás, sempre impressionou a humanidade, dos relatos frios dos militares aos romances escritos e filmados, o "cheiro de guerra" foi sendo alterado do "sangue-terra-excrementosanimais" para o "sangue-terra-óleodiesel-pólvora". 

Os cheiros domiciliares também evoluíram - nós mesmos não sentimos mais em casa, no escritório, nas ruas, o cheiro que sentíamos (e até prezávamos) de vinte anos atrás...

Mudaram os processos industriais, os costumes, a forma de preparo dos alimentos, os componentes de nossas roupas, os desinfetantes...

No entanto,  limite da "conquista" do homem na artificialização da natureza, se encontra em nós próprios - seres que somos absolutamente múltiplos, pois que cobertos, inoculados e inundados por fungos, vírus e bactérias, sem os quais não viveríamos. 

Perfumes se alteram quando em contato com nossa pele, porque nosso ecossistema é composto por componentes genéticos e pela sopa de bactérias, fungos e vírus que também nos compõe.

Alimentação, contato ambiental, contato sexual, abraços e carinhos maternos, amassos no metrô lotado, etc... também alteram nosso microclima superficial e interno, alterando nosso cheiro.

Nada, absolutamente nada, supera o cheiro da mulher



O cheiro de mulher


Para esse subscritor, no entanto, e nada há de científico, apenas de instinto, nada, absolutamente nada, supera, até hoje, a natural fragrância feminina.

De fato, todo o esforço de sublimação moral, todo o esforço de elevação pelas misturas aromáticas... ou qualquer perfume fabricado pelo homem... supera aquele exarado naturalmente pela mulher.

"Para dormir? Chanel n.5...e mais nada"
"Chanel Nº 5, e mais nada", era apenas uma expressão de Marilyn Monroe - cujo próprio ecossistema alterava significativamente o aroma do perfume. 

No entanto, Marilyn sabia que seu sono poderia ser embalado pelo perfume. Porém, se tivesse companhia para a noite, o Chanel seria dispensado - e o perfume natural prevaleceria...

A relação de cheiros pode  ser algo recíproco entre gêneros. No entanto, o nosso testosterona - masculino, está relacionado diretamente com o que emana da mulher. 

Pelo cheiro, sabemos até mesmo quando ELA ovula. Só não sabemos mais, porque reprimimos esse instinto básico sob uma camada milenar de freios morais...

Napoleão e Josephina - básico instinto
O nível inconsciente dos sentidos humanos são estimulados pelos feromônios - sinalizadores químicos que influenciam biologicamente, de forma instintiva, a reconhecer nossa parceira e estimular nosso básico desejo sexual.

Somos diversos. Assim nossa atração geralmente é estimulada por aromas geneticamente diferentes, e, assim, garantimos a maravilhosa diversidade de nossa espécie.

Há um nervo secreto (o nervo “O”) cuja terminação é instalada em nossa cavidade nasal. Ele passa pelo córtex olfatório. Não registra o cheiro conscientemente, mas identifica a química sexual do sexo oposto.

Assim... há mesmo uma química do amor... e o reagente é o olor e o odor.

Napoleão, em carta a Josephine, escreveu: "Chego em três dias. Não se lave".

O fato histórico, dá a dimensão exata deste assunto. Afinal, o homem cujo exército tornou famosa a Água de Colônia (usada pela sua guarda imperial, que comprava o produto em uma pequena casa de manipulação na cidade alemã), o estadista que expandiu comercialmente as "eau de toilette" e as essências francesas para todo o ocidente, tinha, na verdade, incondicional predileção pelo perfume natural de sua amada.

De fato, Napoleão, antes de tudo, era homem...






Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.




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