Comer, Rezar e Governar.
Breve análise "digestiva" das duas primeiras décadas no Brasil do Século XXI
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| Dilma almoçando em restaurante popular e prevendo uma má digestão... |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
"A República no Brasil é o regime da corrução. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a "verba secreta", os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência (...) Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar idéias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem 'comer'. 'Comem' os juristas, 'comem' os filósofos, 'comem' os médicos, 'comem' os advogados, 'comem' os poetas, 'comem' os romancistas, 'comem' os engenheiros, 'comem' os jornalistas: o Brasil é uma vasta 'comilança'."
(Lima Barreto - "A Política Republicana")
"A República no Brasil é o regime da corrução. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a "verba secreta", os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência (...) Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar idéias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem 'comer'. 'Comem' os juristas, 'comem' os filósofos, 'comem' os médicos, 'comem' os advogados, 'comem' os poetas, 'comem' os romancistas, 'comem' os engenheiros, 'comem' os jornalistas: o Brasil é uma vasta 'comilança'."
(Lima Barreto - "A Política Republicana")
A COMILANÇA BRASILEIRA
Comida e política guardam íntima relação cultural.
É de Denis Diderot a seguinte frase: "engolimos de um sorvo a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga". Se isso é certo na relação do francês com a bebida e a política, com mais certeza ainda se presta ocorrer na relação do brasileiro com a política e a comida. Afinal, somos gulosos até com farofa e rapadura.
Jacques Wagner, um ministro da república brasileira, ao se referir ao refluxo político que acometia a base governamental da presidente Dilma Rousseff, apontava para o fato de seus companheiros de partido terem "se lambuzado" com a fartura do poder.
A frase imediatamente me remeteu à "comilança" de Lima Barreto, à síndrome da fome de poder, à gulodice de quem "prova, gosta e se lambuza" e... também, à indigestão inevitável ocasionada pela orgia alimentar.
De fato, há uma íntima relação entre o que se come e o que se é. Essa relação se dá no campo pessoal e na política. Há uma conexão profunda dos humanos com a digestão. Há mesmo uma transferência cultural disso para as relações sociais e institucionais.
Não se trata de comportamento recente. Pelo contrário, é histórico e antropológico.
Essa relação explica muito do que ocorre em nossa história recente, neste início de século XXI.
A MESA SOFISTICADA DE FHC
No início do século, o Brasil encontrava-se no segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Comedido à mesa, bem educado, apreciador do bom e do melhor, cercado de gente sofisticada, autocentrada e autossuficiente, o presidente FHC, no entanto, amargava, já na metade final do seu mandato, queda de popularidade. Estava soterrado pelas crises de abastecimento de água, energia, pelos deslizamentos de encostas, incêndios na floresta amazônica e, sobretudo, pelos conflitos internos dos seus correligionários, os esfomeados tucanos (pleonasmo), por nacos de poder.
Em verdade, os líderes do PSDB, base do governo de FHC, caracterizavam-se pelo ego inflado e pela auto ilusão de uma grandeza que absolutamente nunca possuíram.
Essa relação explica muito do que ocorre em nossa história recente, neste início de século XXI.
A MESA SOFISTICADA DE FHC
No início do século, o Brasil encontrava-se no segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Comedido à mesa, bem educado, apreciador do bom e do melhor, cercado de gente sofisticada, autocentrada e autossuficiente, o presidente FHC, no entanto, amargava, já na metade final do seu mandato, queda de popularidade. Estava soterrado pelas crises de abastecimento de água, energia, pelos deslizamentos de encostas, incêndios na floresta amazônica e, sobretudo, pelos conflitos internos dos seus correligionários, os esfomeados tucanos (pleonasmo), por nacos de poder.
Em verdade, os líderes do PSDB, base do governo de FHC, caracterizavam-se pelo ego inflado e pela auto ilusão de uma grandeza que absolutamente nunca possuíram.
Como toda ave de bico grande, os tucanos, à mesa do poder, ciscavam para dentro, não se misturavam à mesa e não deixavam sobras. Terminaram derrubados pela avalanche de votos na nova proposta populista engendrada pelo lulismo.
A propósito, como vaticinou o próprio FHC, "na política é necessário engolir sapos, mesmo os barbudos"...
Assim, o final de festa fernandista não gerou grande indigestão.
A propósito, como vaticinou o próprio FHC, "na política é necessário engolir sapos, mesmo os barbudos"...
Assim, o final de festa fernandista não gerou grande indigestão.
O esforço de reequilíbrio nas finanças, com o controle dos gastos, revelou o outro ponto do "saber comer bem" protagonizado pelo governo de FHC. O presidente tucano entregou um governo saneado ao seu sucessor.
A partir daí, iniciou-se outro regime político, no sentido também gastronômico do termo, cujas cólicas abdominais surgiram inevitavelmente, passados três lustros do novo século.
OS SAPOS SERVIDOS À MESA PETISTA
A partir daí, iniciou-se outro regime político, no sentido também gastronômico do termo, cujas cólicas abdominais surgiram inevitavelmente, passados três lustros do novo século.
OS SAPOS SERVIDOS À MESA PETISTA
Seguiram-se ao período de FHC quatro mandatos sob a égide do chamado lulopetismo.
O período, porém, não foi um "serviço à francesa". As ordens variaram, dos pratos servidos aos comensais à mesa, passando pelos regimes de dieta.
Daí porque será mais proveitoso inverter a ordem do serviço e, começar pelo fim do período: o governo interrompido de Dilma Roussef, com alguns insights filosófico-alimentares.
O período, porém, não foi um "serviço à francesa". As ordens variaram, dos pratos servidos aos comensais à mesa, passando pelos regimes de dieta.
Daí porque será mais proveitoso inverter a ordem do serviço e, começar pelo fim do período: o governo interrompido de Dilma Roussef, com alguns insights filosófico-alimentares.
O governo Dilma, constitui um bom e atemporal exemplo dessa formação do pensamento governamental tupiniquim (ou confusão mental) a partir do que nele se come.
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| Antes e depois - com reflexos na governança |
A DIETA DO GOVERNO DILMA
Dilma iniciou seu segundo mandato presidencial em regime de dieta.
A dieta resultou na rápida e eficaz perda de peso da mandatária. Criada pelo argentino Máximo Ravenna, que limitou a ingestão de 800 a 1,2 mil calorias por dia, com restrição de carboidratos, açúcar e outros.(*1)
A dieta era cara e o paciente contou com acompanhamento de um educador físico, um nutricionista e um psicólogo. No entanto, o regime integrou a governança dilmista. Além da presidente, outros auxiliares, como o ministro da justiça José Eduardo Cardozo, tornaram-se adeptos da mesma dieta, a qual, embora de baixa caloria, representava alto custo. O regime "argentino", assim, caro e custoso, contaminou o regime da república.
A dieta era cara e o paciente contou com acompanhamento de um educador físico, um nutricionista e um psicólogo. No entanto, o regime integrou a governança dilmista. Além da presidente, outros auxiliares, como o ministro da justiça José Eduardo Cardozo, tornaram-se adeptos da mesma dieta, a qual, embora de baixa caloria, representava alto custo. O regime "argentino", assim, caro e custoso, contaminou o regime da república.
A digestão dos dirigentes, porém, atingiu negativamente o estômago da sofrida sociedade brasileira.
Mau humor acumulado com ansiedade provoca alterações comportamentais intestinas - e mesmo confusões mentais. E foi o que ocorreu na política praticada no Palácio do Planalto, bastando notar os discursos da mandatária e seus companheiros de regime no período de governo.
A filosofia explica essa relação. O filósofo Fredrich Nietzsche, em sua obra "Ecce Hommo", afirmava:
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| Eisbein - A razão do pensamento alemão está no prato indigesto |
A filosofia explica essa relação. O filósofo Fredrich Nietzsche, em sua obra "Ecce Hommo", afirmava:
"Mas a cozinha alemã – quantas coisas não tem ela na consciência! A sopa antes da refeição (ainda em livros venezianos de culinária do século XVI se lhe dá o nome de alla tedesca); a carne muito cozida, a hortaliça grossa e suculenta; a degenerescência dos farináceos em pisa-papéis! Se ainda se tiver em conta a necessidade que os velhos alemães, e não só os velhos, têm de geleia animal, compreender-se-á também a origem do espírito alemão – que provém de entranhas revoltas... O espírito alemão é uma indigestão, nada consegue."(*2)
Ora, se a indigestão influenciou o espírito alemão, imagine na culinária tupiniquim ( e não me refiro ao ancestral costume antropofágico tupinambá), igualmente pesada, variada e apimentada.
O romeno Nicu Steinhardt, um judeu convertido, dizia com bom humor que "o banquete é o único lugar em que o homem se alegra com a alegria alheia (Diário da Felicidade)" (*6).
De fato, o homem é o que come, e o que ele come o revela. Se come com fartura, transborda de satisfação. Se comer na fraternidade, irá gerar alegria. Porém, se comer na exclusão dos pobres, irá gerar condenação.
Isso, talvez, explique muita coisa da sopa de letrinhas mal ajambradas, expelida por bocas que comeram por um período sob estrita vigilância, como se deu no caso da Presidente Dilma.
A salada de confusões, avanços e retrocessos sem resultado, caracterizou um governo ciclotímico - similar a um glutão em dieta forçada.
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| A Santa Ceia - Bassano Jacopo |
O PRATO E O DIVINO
“Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54), cita biblicamente o teólogo Alexandre Schmemann, para em seguida raciocinar que "se a tentação de comer o fruto da Árvore da Vida trouxe a morte, o comer da Carne e Sangue do Filho de Deus traz a vida" (*4).
Pode-se dizer, então, que a eterna tentativa do governante se eternizar sendo devorado no prato do beneficiário de sua política, tem inspiração cristã. A propósito, o Padre José Artulino Besen relata a relação de Jesus com o banquete:
"o mundo é um banquete, e a imagem do banquete aparece em toda a Bíblia. O último encontro de Jesus com os seus foi numa Ceia, os Evangelhos situam grandes encontros de Jesus em banquetes (Zaqueu, Levi, Simão, Marta e Maria,…), a ponto de fariseus o acusarem de glutão e beberrão. Banquete é alegria, festa. O Senhor se apresenta como o noivo que chegou para o casamento com seu povo e o grande encontro final será à Mesa do Reino" (*5).
Jesus agiu politicamente: deu seu corpo simbolicamente, de beber e comer aos seus apóstolos comensais - eternizando a ceia na comunhão cristã.
O sentido espiritual do alimentar-se do outro aplica-se na esfera divina e, também, no desejo carnal. De fato, é também no ato de "comer" que homem e mulher demonstram ser alimento um do outro, ainda que apenas na exploração do desejo carnal. Se é de nossa natureza e também de natureza divina, com muito maior acerto há de se reproduzir nas relações de poder.
NOS COMENSAIS, O ESTILO DE GOVERNO
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| A mesa de Lula - sempre farta e cheia de comensais |
NOS COMENSAIS, O ESTILO DE GOVERNO
O Ludwig Feuerbach, em sua obra “Pensamentos sobre Morte e Imortalidade” (onde germanicamente nega a possibilidade de imortalidade...) resume a humanidade no ditado: “O homem é aquilo que come” (*3).
A verdade, se por um lado diferencia, por outro revela a inevitável equalização no final da parábola: quem se tornou obeso de tanto se empanturrar - no que revela mais que a fome que sentira, terá destino igual à iguarias que digeriu.
"Após a morte", afirma Feuerbach, "as qualidades humanas são absorvidas pela natureza". Acrescento: tudo se degrada e se renova a partir da degradação. Algo que induz à esperança na difícil digestão da política nacional pela glutona e ao mesmo tempo subnutrida sociedade brasileira.
Se Dilma nunca foi boa comensal, o oposto absoluto foi seu antecessor, o Presidente Lula.
A diferença entre os comensais pode-se notar nos interlocutores que o acompanhavam à mesa. O ministério de Dilma, com algumas exceções, é uma extensa relação de absolutas nulidades - alfaces, couves, ervilhas, carnes magras, picadinhos sem molho; pães medíocres, sem fermento. Composição completamente diferente da seleção de personalidades que frequentava a mesa ministerial lulista.
Lula foi pródigo. Cercou-se, no primeiro mandato, de comensais mais refinados que ele, tornando o diálogo extremamente agradável à mesa do governo, cheio de grandes propósitos.
Lula foi pródigo. Cercou-se, no primeiro mandato, de comensais mais refinados que ele, tornando o diálogo extremamente agradável à mesa do governo, cheio de grandes propósitos.
Com o tempo, porém, os gulosos sem outros propósitos que não a gulodice, foram substituindo os bons gourmets e o resultado terminou em uma festa pantagruélica. Grande, porém, o suficiente para o eleitorado digerir a intragável candidata Dilma.
No primeiro governo de Dilma, a mitomania stalinista tomou o lugar da economia. O fenômeno inviabilizou de cara o restante dos bons comensais, que abandonaram o governo às pressas.
Com o tempo, os demais convidados foram sendo postos, um a um, para fora da sala de jantar, e a mesa foi se tornando cada vez menor.
Os comensais de Dilma passaram, então, a se reunir na copa do Palácio do Planalto e não houve mais banquetes. Os jantares eventuais eram mal digeridos, induziam á beliscagem furtiva, fora das vistas.
A economia mudou nos anos de gestão dilmista no mesmo ritmo da deglutição, menos nos discursos, falsamente generosos.
Enquanto isso, a conta tornava-se impagável.
A GULODICE DE PODER, NO PODER
A gulodice pelo poder, enfim, superou a racionalidade da governante, do partido e de todos os demais convidados. Estes últimos, em ritmo de fim de festa, encheram bolsas e bolsos com salgadinhos e doces... para "levar pra casa"...
Com o tempo, os demais convidados foram sendo postos, um a um, para fora da sala de jantar, e a mesa foi se tornando cada vez menor.
Os comensais de Dilma passaram, então, a se reunir na copa do Palácio do Planalto e não houve mais banquetes. Os jantares eventuais eram mal digeridos, induziam á beliscagem furtiva, fora das vistas.
A economia mudou nos anos de gestão dilmista no mesmo ritmo da deglutição, menos nos discursos, falsamente generosos.
Enquanto isso, a conta tornava-se impagável.
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| Gargântua devorando um camponês (Desenho de Gustave Doré) |
A GULODICE DE PODER, NO PODER
A gulodice pelo poder, enfim, superou a racionalidade da governante, do partido e de todos os demais convidados. Estes últimos, em ritmo de fim de festa, encheram bolsas e bolsos com salgadinhos e doces... para "levar pra casa"...
O povo brasileiro, pagou a conta, digerindo uma salada mista de confusões mentais. Bobagens ditas com a boca cheia e comportamentos sem etiqueta, praticados em Brasília e alhures... nos estados e municípios e, também, nos demais poderes - parlamentos e tribunais.
A crise é indigesta. Na fartura dos mandatos de Lula, o banquete era literalmente pantagruélico. O governo devorava a oposição como o gigante Gargântua fazia com quem caía em sua salada. As toxinas, dessa forma, eram melhor assimiladas pelo organismo social, embora o resultado fisiológico já apontasse para um trauma cedo ou tarde.
Gargântua, Pantagruel e Panurgo, grandes (literalmente) personagens de Rabelais (*7), surgem nessa análise "digestiva" como paradigmas do governo Lula. Mostram o período em que uma verdadeira orgia de mesas fartas se processava às custas de um tesouro nacional lotado, recheado de iguarias provindas de um comércio ascendente de commodities, obras faraônicas intermináveis e contratações milionárias.
Da boca glutona dos comensais no período Lula, qualquer bobagem era bem digerida por uma mídia bem nutrida, o que permitiu a execução de "apavorantes feitos e proezas" (nome da obra de Rabelais) dos pantagruélicos gigantes lulo-petistas e seus amigos bolivarianos...
Da boca glutona dos comensais no período Lula, qualquer bobagem era bem digerida por uma mídia bem nutrida, o que permitiu a execução de "apavorantes feitos e proezas" (nome da obra de Rabelais) dos pantagruélicos gigantes lulo-petistas e seus amigos bolivarianos...
Outro detalhe que explica muito da convivência entre gente tida como séria e notórios espertalhões: No carnaval pantagruélico de Rabelais, todos são considerados iguais.
Na praça da cidade da ficção, o contato livre reina entre pessoas costumeiramente divididas pelas barreiras das castas, da propriedade, profissão e idade. Os indivíduos perdem o sentido do tempo, passam a integrar um mesmo coletivo, deixam de ser eles mesmos. Por meio da máscara, da fantasia, todos trocam de corpo e se renovam - uma ampliação da consciência de unidade, da sensualidade material, grupal. Esse, justamente, o sentido do grande banquete de Gargântua e de Pantragruel e seus amigos glutões.
Na praça da cidade da ficção, o contato livre reina entre pessoas costumeiramente divididas pelas barreiras das castas, da propriedade, profissão e idade. Os indivíduos perdem o sentido do tempo, passam a integrar um mesmo coletivo, deixam de ser eles mesmos. Por meio da máscara, da fantasia, todos trocam de corpo e se renovam - uma ampliação da consciência de unidade, da sensualidade material, grupal. Esse, justamente, o sentido do grande banquete de Gargântua e de Pantragruel e seus amigos glutões.
Lula, como Pantagruel e seus amigos, traçou viagens fantásticas (figurativamente, Rabelais as conta em cinco livros...). Oito anos de comilança.
Com Dilma, no entanto, veio a constatação da realidade, a negação desta diante do espelho, o regime forçado mas não assimilado, o mal humor e a frustração ocasionada pelo efeito sanfona em todo o seu governo.
Há uma ligação absoluta entre a ingestão pantagruélica no governo populista de Lula, a digestão tormentosa no primeiro mandato do "poste" Dilma e, depois, regurgitar o que sobrou na sua pior fase stalinista - e justo da primeira mulher presidente da República.
Com Dilma, no entanto, veio a constatação da realidade, a negação desta diante do espelho, o regime forçado mas não assimilado, o mal humor e a frustração ocasionada pelo efeito sanfona em todo o seu governo.
Há uma ligação absoluta entre a ingestão pantagruélica no governo populista de Lula, a digestão tormentosa no primeiro mandato do "poste" Dilma e, depois, regurgitar o que sobrou na sua pior fase stalinista - e justo da primeira mulher presidente da República.
A orgia econômica que nos permitiu mergulhar em águas profundas com a barriga cheia, provocou espasmos de uma previsível congestão...
Espasmos, pandemônio, desalinho e confusão mental, acometem antigos comensais viciados na gulodice á mesa do Poder e, agora, esfomeados, obrigados ao regime pobre em calorias da governante.
COMO TODO REGIME ALIMENTAR, A POLÍTICA UMA HORA, IRÁ RESULTAR...
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| Temer - comensal habitué... poderá dirigir os trabalhos à mesa |
COMO TODO REGIME ALIMENTAR, A POLÍTICA UMA HORA, IRÁ RESULTAR...
Dizem os críticos mais chulos que o problema do regime político do Brasil pode não ser a má alimentação governamental e, sim, o resultado da digestão, moralmente despejado sobre todos os aspectos complexos da difícil vida nacional.
Há um relógio que torna o corpo ciente de sua atemporalidade, principalmente se o corpo foi submetido aos prazeres absurdos e despautérios horripilantes ou prazeirosos, das viagens pantagruélicas. Esse relógio é fisiológico e aponta para o grotesco resultado.
A evacuação ou o vômito - é como se conclui a fisiologia pantagruélica na política. Resta a questão: somos vítimas da indigestão imediata ou sofremos os impactos acumulados do que politicamente abocanhamos de forma grotesca há anos?
No impedimento da presidente em dieta, surge a figura discreta, soturna, do contido vice, o peemedebista Michel Temer.
Comedido, controlado, contido, não parece daqueles que se embebedam ou abocanham nacos fartos à mesa, para espanto dos convivas.
Porém, como bom libanês, gosta da casa cheia, dos amigos próximos, da fartura distribuída a todos e da comida variada e de boa qualidade. Pôde com tranquilidade submeter-se ao regime de emagrecimento sem perder a compostura, como, também, devorar os doces da festa, sem dar na vista...
Sofreu solavancos à esquerda e à direita - dos que sofriam com a crise de abstinência, dos que resolveram por período breve se refestelarem e dos que compreendiam que o momento era ideal para uma enorme diarréia.
A transição dentro da mesma coalização, ao fim e ao cabo, chegou ao porto com bons resultados, um serviço elogiado pela crítica e um enorme desgaste, porém previsível. Pois o que se avizinhava podia representar a desejada fissura, o aborto do o banquete, com a conta apresentada aos comensais, sob as vistas do novo e impassível anfitrião, abrindo as portas para um novo regime.
XEPA E RAÇÃO OPERACIONAL
Porém, com muito júbilo todos pareciam se contentar com a nova administração, escolhida por cinco dezenas de milhões de votos.
O menu prometido era o da cantina de quartel. Começou servindo a xepa e destinando aos mais afoitos a ração operacional.
Com Bolsonaro, após uma tumultuada campanha, afluiram comensais fardados, paroquianos, irmãos de igreja e adictos do fast food. Tudo apontava para uma ação firme e eficaz, de desinfecção local.
O grotesco, no entanto, parece estar sendo revelado. De fato, é muito difícil digerir uma refeição sempre comida às pressas... com o anfitrião e comensais alternando bravatas e insultos, mandando voltar os pratos e fazendo convidados levantarem-se da mesa antes de servido o segundo prato.
Pior ainda é verificar que, do nada, chegam para dividir a boia antigos frequentadores dos jantares passados ("quem convidou essa gente"? Comenta assustado o novato ao lado...).
É preciso ter cuidado. Refeição com muito embutido, pode gerar outra grande indigestão.
A história do grotesco, pelo visto, demandará outra análise "escatológica", em continuidade à esta.
Texto atualizado em outubro de 2020.
Não deixe de ler:
PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, "Consideracões Escatologicas Sobre a Política Brasileira", in Blog The Eagle View, 17março2016, in https://www.theeagleview.com.br/2016/03/consideracoes-escatologicas-sobre.html
notas:
*1 - http://emais.estadao.com.br/noticias/moda-e-beleza,dieta-ravenna-conheca-o-metodo-que-fez-dilma-emagrecer-13-kg,1642779 (25/08/2015)
*2 - Nietzsche, Friedrich: "ECCE HOMO. Como se chega a ser o que se é", trad. Artur Morão, ed. Universidade da Beira Interior, Conilhã, 2008, pg. 26
*3 - Pizzinga, Rodolfo Dominico: "Ludwig Andreas von Feuerbach - Pensamentos", in https://web.whatsapp.com/ (25/08/2015)
*4 - Schmemann, Alexandre: "L'eucharistie : sacrement du royaume", ed. F.-X. de Guibert ,
collection L'Echelle de Jacob, 2005, pg 12
*5 - Besen, Pe. José Artulino: "O Homem é Aquilo que Come", in https://pebesen.wordpress.com/tag/banquete/ (25/08/2015)
*6 - Steinhardt, Nicolae: "O Diário da Felicidade", ed. É Realizações, SP, 2009, pg 183
*7 - Rabelais, François: "Gargântua e Pantagruel" (originado na pentalogia de romances escrita no século XVI), ed. Itatiaia, SP, 2003
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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