Solução de Mercado com Salvaguardas Democráticas na Resolução Bélica de Conflitos

empresas militares privadas atuando em zonas de conflito

O uso de forças bélicas e paramilitares profissionais terceirizadas, em contextos de crise, sempre foi uma alternativa prática para governos e impérios em conflito.
Após séculos de evolução nas relações de estado e dos conflitos humanos com o uso de mercenários, cardaces, sicários, shinobis e outras facções - o uso de grupos profissionais auto-organizados para execução de missões de força e operações especializadas passou a ser percebido pelo próprio Estado Moderno como uma espécie de "vacina" necessária, a ser aplicada em conflitos bélicos convencionais, bem como no enfrentamento a facções terroristas, organizações criminosas, guerrilhas e, excepcionalmente, na intervenção e manutenção da ordem em casos de instabilidade institucional e descontrole territorial.
A vantagem do uso de forças auto-oganizadas está na redução de riscos operacionais e danos decorrentes, suprimento de recursos humanos especializados face à falta de pessoal e otimização na busca de resultados - em especial quando o demandante se encontra desprovido de capacidade operacional necessária.
Diferente do sistema de legiões auxiliares - oriundas do sistema romano, o uso de forças profissionais auto-organizadas envolve mecanismos de autonomia e investidura. Vale dizer: o esquema contratado está alinhado à missão sem perder sua personalidade e, ainda que investido com autoridade e comando pelo Estado contratante, possui relação jurisdicionada ou concessionada - alinhada aos termos do contrato.
Assim, ainda que compreendida como algo funcional no campo dos conflitos de quarta geração, híbridos e assimétricos, essa terceirização da força precisa ser rigidamente regulada para não degenerar em mercenarismo primário ou instrumento de repressão autoritária.
Este artigo, portanto, busca compreender o contexto atual da estratégia militar nos conflitos bélicos e das forças de segurança no controle territorial e manutenção da Ordem, da incolumidade das pessoas e da propriedade nos Regimes de Estado de Direito.
Assim, o que se busca é analisar um possível marco regulatório que permita o uso de forças privadas como solução de mercado controlada — sem comprometer a soberania ou os direitos fundamentais.
2. Panorama Histórico: Da Antiguidade à Era Bush
Antiguidade
Impérios como o Persa e o Cartaginês utilizaram largamente a força de mercenários. No entanto, sofreram com a fragmentação de lealdades, fenômeno que terminou contribuindo para sua queda. A pouca coesão nos momentos críticos levou à fragilidade militar e à queda desses impérios.
A experiência trágica da Pérsia, sob Dario III, ilustra os perigos de terceirizar a força sem controle estratégico. O próprio desfazimento da coesão nas legiões romanas, com a admissão em massa de forças auxiliares bárbaras, a partir do século II D.C. expôs a fragilidade de inserção de perfis "mercenários" nas fileiras regulares do exército - com resultados trágicos.
O assunto passou a ser mais seriamente tratado a partir do Acordo de Vestfália, cujos tratados estabeleceram o sistema de Estados soberanos e regularam o uso de forças armadas nacionais (após trinta anos de guerra com uso de forças variadas, incluso irregulares, na Europa).
Guerra Fria
Após dois conflitos mundiais, o mundo se dividiu em dois blocos definidos ideologicamente, iniciando a Guerra Fria - fria entre os dois polos atratores - EUA e URSS; quente nos conflitos periféricos estimulados muitas vezes "por procuração" e, não raro, contanto com forças mercenárias que, no período, serivam como ferramentas geopolíticas - em especial nos continentes Africano e Latino Americano.
Exemplos: Angola, Congo, Serra Leoa, Cuba, Guatemala, Nicarágua e Bolívia foram palcos de conflitos com largo uso de elementos profissionais irregulares.
Era Putin
Ao final da Guerra Fria, com a queda do Muro de Berlin, os conflitos se concentraram regionalmente, em grande parte por conta do desfazimento da influência soviética - momento em que operações de intervenção nos conflitos regionais passaram a demandar uso de veteranos de forças especiais, para suprir forças que reduziram sua própria operacionalidade em função da inércia.
Na Rússia, Boris Yeltsin viu a necessidade de reagrupar antigos veteranos em forças especiais contratadas, visando garantir interesses estratégicos russos face a territórios rebeldes, como na Chechênia.
Já neste século, sob o governo Putin, o Grupo Wagner atuou para o Kremlin em conflitos na Síria, Ucrãnia e África Central, onde serviu como incubadora do Grupo Afrika Corps. O vínculo dos grupos profissionais auto-organizados sob contrato russo, ocorre via GRU - o Serviço de Inteligência do Kremlin.
Nos Estados Unidos, a demanda ocorreu em função da Guerra Contra o Terror, intituída no Governo de George W. Bush, após os EUA sofrerem o atentado às Torres Gêmeas em Nova York. Bush alterou a doutrina de segurança ambiental de Clinton, de 1997, para implementar a Doutrina de Segurança Regional.
Ao perceber o stress ocasionado pelo uso intensivo e extensivo de tropas regulares e da Guarda Nacional na manutenção dos conflitos na África, Oriente Médio e Ásia Central, o governo americano passou a interagir com empresas militares privadas (EMPs) - como a Blackwater - hoje Academi, formada por veteranos de forças especiais e quadros estrangeiros com forte experiência em conflitos armados, os quais receberam investidura especial para atuar em zonas de guerra.
A prática se institucionalizou nos EUA, trazendo maior segurança nas operações especializadas mas, também, gerando debates sobre responsabilização e soberania.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja membro do Blog!. Seus comentários e críticas são importantes. Diga quem é você e, se puder, registre seu e-mail. Termos ofensivos e agressões não serão admitidos. Obrigado.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.