Todos, hoje, pagam muito caro o preço de se renderem à subcultura woke.
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"eu não consigo entender, mas permaneço"... disfunção típica woke |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O vírus "woke".
"Woke" é um termo político de origem afro-americana referente à percepção política e tomada de consciência do preconceito racial. O termo foi atribuído ao romancista William Melvin Kelley (1937-2017), deriva da expressão "stay woke" (esteja desperto), algo como estar atento às injustiças sociais decorrentes do preconceito de cor nos Estados Unidos.
Abraçado pelo marxismo cultural da Escola filosófica de Frankfurt (mimetizada pela academia norte americana e europeia), o "wokerismo" foi absorvido pela doutrina do "politicamente correto", transformando-se num instrumento de "transvaloração de todos os valores" 1. Dessa forma, o "despertar" se estendeu a todas as minorias, incluindo a ideologia de gênero, desvios comportamentais, o conceito racialista de "environmental justice", servindo de canal para uma espécie de ativismo sistemático.
No ambiente acadêmico, a militância "woke" ocupou o vácuo deixado pelo marxismo-leninismo obsoleto, preenchendo o vazio de cabeças ociosas e militantes perdidos em causas sem sentido. Contaminou núcleos "progressistas" envolvidos com causas "globais", inflamou a burocracia dos organismos multilaterais, redefiniu o discurso de cientistas "engajados" e açambarcou demandas sociais de interesses difusos - da saúde ao clima. O fenômeno apropriou-se da ecologia, sociologia, psicologia, sexologia, antropologia e da climatologia - destruindo a ciência em prol de um discurso emocional proselitista.
Essa metamorfose gerou um método agressivo de enfrentamento à "sociedade conservadora, cristã e capitalista" - uma espécie de "subprime" para descontentes, rancorosos e discriminados, "credores" da estrutura sócio econômica baseada na moral, na família, na livre iniciativa e no mérito 2.
O ataque woke à ESG
ESG é uma sigla que em inglês significa "environmental, social and governance". Em verdade, ao se introduzir, em algum momento, um "and" na frase, a sigla resultou numa derivação mal formulada de "governança social e ambiental" - o verdadeiro core business da taxonomia ESG, que corresponde à adoção de práticas ambientais e sociais na governança de uma organização.
O termo foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial. Na obra Who Cares Wins, os critérios de governança social e ambiental encontram-se totalmente relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As ODS foram estabelecidas pelo Pacto Global, que é uma iniciativa das Nações Unidas com várias outras entidades internacionais. 3
As ODS, por sua vez, envolvem 169 ações interligadas com o Protocolo de Paris sobre o Clima, o acordo de Biodiversidade, a equidade no trabalho, combate ao assédio, à discriminação, etc...
Esse cipoal de compromissos, porém, tornou a taxonomia ESG - que antes buscava abranger métodos para redução de riscos financeiros decorrentes do não cumprimento de normas éticas e mandatórias atribuídas às agendas, algo extremamente permeável à militância "woke".
Assim, quando o vírus woke atingiu a cultura corporativa, invadiu o contexto dos Programas de ESG, criando custos sociais invencíveis.
A onda multiplicou conflitos políticos no ambiente corporativo e acadêmico, ampliando sobremaneira a pressão midiática sobre o mercado e ameaçando o setor empresarial de sofrer ondas articuladas de "cancelamento" ou "lacração" (termos usuais do meio woke), por parte dos consumidores ativistas da causa.
Esse fenômeno representou uma profunda confusão entre a mensurável internalização de custos sócio-ambientais da atividade econômica, e a imensurável demanda de uma subcultura ideologicamente orientada para destruir o mérito, o pensamento crítico e o método científico.
Somado à onda Woke, recrudesceu nas últimas décadas a chamada "Pirâmide da Arrogância", um contexto de posturas sintomáticas, observadas nos excretores de regras, ditadores da opinião alheia, autocratas e iconoclastas militantes. "Ela está presente no massacre etnico-social, no analfabetismo racional, na injustiça cotidiana, na hipocrisia do "politicamente correto", na militância sem causa - posturas muitas vezes "premiadas" com o selo da mediocridade deslumbrada pelo próprio protagonismo".4
Assim, a ilusão mercadológica arrogante, de conquistar "simpatia" entre consumidores e clientes por meio da "lacração", revelou-se um desastre. Não à toa, na ressaca de toda essa onda, ocorre agora uma avalanche de desmontes de políticas de inclusão, diversidade, gênero, cotas e posturas "progressistas", no ambiente corporativo.
O desastre no campo político
A inibição corporativa ao fenômeno, estimulou a atitude agressiva dos "wokers" contra os que discordam do seu núcleo de pensamento. Termos estigmatizantes como, "linguagem neutra", "machismo tóxico", "dívida histórica", "lugar de fala", "etarismo", "capacitismo", "negacionismo", "gordofobia", "transfobia", inflacionaram a censura comportamental face ao "assédio". Ações batizadas com a pecha de "lacração", "cancelamento" e "combate à fake news", dissimularam atitudes de censura e constrangimento. Criou-se uma enciclopédia de rótulos, aplicados com método, para encerrar qualquer discussão face ao peso da ofensa.
Governos, empresas e imprensa, deixaram-se envolver pelo fenômeno, e o desastre do impacto gerou deseconomia e desagregação. A leviandade manchou e destruiu reputações, criou-se uma indústria de idenizações por "assédio" e "discriminações", que passaram a ser "intuídas", numa carga censória absolutamente nociva á liberdade de expressão e pensamento.
Todos, hoje, pagam muito caro o preço de se renderem à subcultura woke.
Um exemplo perverso é o paradoxo invencível do avanço da obscuridade radical muçulmana no seio do cosmopolitismo europeu - exercido barbaramente com o apoio das principais "vítimas" dessa cultura religiosa: militantes esquerdistas, ateus, ativistas climáticos, feministas e gays.
Em 2020, Trump apontou a necessidade de combater os chamados woke lefties ("esquerdistas despertos"), acusando-os de praticar uma espécie de "fascismo da extrema esquerda". A afirmação baseava-se no fato da "cultura do cancelamento" estar "expulsando as pessoas dos seus trabalhos, envergonhando dissidentes e exigindo a total submissão de qualquer pessoa que não esteja de acordo".
"É a própria definição de totalitarismo", acusava Trump.
Pois bem. Agora, eleito Presidente em 2024, Donald Trump encontrou os EUA praticamente esgarçado pela epidemia "woke".
A subcultura woke teve o único mérito de explicitar e expor o destrutivo "progressismo" americano - um mal que pôs em risco a vida de milhões de pessoas, como foi o caso da degradação operacional da Defesa Civil de Los Angeles no combate aos incêndios florestais 5, ou a ampliação escandalosa dos índices de disfunções psiquiátricas e suicídios, decorrentes de "transições de gênero" induzidas em crianças e adolescentes 6.
A Europa, hoje, também sofre com os resultados funestos do fenômeno. As frentes ditas globalistas, nos principais países do continente, sucumbiram ou estão prestes a sucumbir, ante uma avalanche de reações sociais contra a agressão promovida nas culturas nacionais, na moral religiosa, na estrutura familiar, na excessiva fiscalização monetária e ecológica, imposta pelas agendas entrelaçacas ao climatismo, ao politicamente correto, ao esquerdismo, etc...
Na américa latina - o preço foi pior ainda: o ativismo judicial e o "coitadismo" marginal, entregaram a estrutura de Estado a hordas de narcoterroristas e burocratas corruptos. Ou seja, o saldo da subcultura "woke" é o agravamento das desigualdades e o aprofundamento das diferenças que pretende equalizar. O fenômeno, de fato, empurra a sociedade para uma espiral desagregadora, e a governança para becos sem saída.
O ambiente político, portanto, retoma gradativamente o caminho do conservadorismo, e a adoção de ações nacionais, voltadas à limpeza dos canais de relação com a cidadania - até agora poluídos pelo proselitismo esquerdista, de extrema tolerância a comportamentos absolutamente intolerantes.
Esse caminho, por óbvio, segue à direita.
O fato é que, após ondas de "cancelamentos" de empresas, partidos e mídias "lacradoras", que se afundaram no prejuízo e na perda de credibilidade decorrentes do pântano woke, resta claro que "uma sociedade fragmentada é presa fácil do autoritarismo, da censura e do ódio institucionalizado" 7.
O Brasil na vanguarda do atraso
Preso nas garras da pior extração esquerdista de todos os tempos, o Brasil sofre um profundo esgarçamento social decorrente da militância ostensiva dos movimentos identitários.
Além da progressiva "criminalização de fobias", instituída por analogias inacreditáveis extraídas da cabeça da pior judicatura da história do Brasil, a governança nacional sofre também com uma administração medíocre e uma legislatura irresponsável.
Um bom exemplo é a recente Resolução nº 198 de fevereiro de 2024, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que determina que empresas forneçam informações "de membros agrupados por outros atributos de diversidade que o emissor entenda", incluindo, dentre obrigações, a inclusão de uma mulher no conselho de administração e um representante da comunidade LGBTQIA+ - por óbvio pretendendo que ocorra de "modo gradual e pela via do entendimento", o que, por si só, joga pela janela a meritocracia. A questão não é mais mérito e capacidade, é cota e "entendimento"...
O engraçado é que o Brasil ocupa a vanguarda... de um movimento que visivelmente regride em todo o mundo, incluso em nosso território. Do refluxo notório das "marchas LGBT" ao "cancelamento reverso" de personagens "lacradoras" no mundo das redes sociais e das manifestações artísticas, o fato é que a revisão está ocorrendo na Administração Pública de vários estados e municípios e, principalmente, nas grandes empresas, que constataram estar perdendo popularidade, a própria identidade e o seu "market-share", devido à adoção da retórica do "wokerismo".
O exemplo não só advém dos Estados Unidos, como da Europa, onde a Ministra da Cultura francesa, Rachida Dati, declarou recentemente que a cultura woke é uma "política de censura e, como tal, deve ser combatida e abandonada!" 8.
Conclusão
Diversidade de raça, religião, bem como a sexualidade hetero e homo, merecem respeito e garantias no espaço da democracia. Elas, de forma alguma se confundem com a transvaloração de valores sistemática, professada pela onda woke. Muito menos se atrelam a ideologias políticas. Devem, na verdade, voltar a serem tratadas como políticas públicas pragmáticas, sem confrontação.
Por outro lado, a ações de ESG - passado o fenômeno, precisam ser revisadas. Há um ceticismo crescente entre executivos e investidores com relação ao retorno dos investimentos em ESG. A burocracia nesse campo tornou-se extremamente enviesada. Leva a taxonomia a "não resultar" como esperado, expondo os flancos das corporações à especulação de uma militância nociva, confundida com steakholder.
No mais, é hora de voltarmos ao básico, recuperarmos o sonho da prosperidade e reduzirmos a ansiedade decorrente de rancores acumulados em ambientes que deveriam zelar pela produtividade em harmonia.
Notas:
1. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "O Mundo dos Idiotas Transviados", in Blog The Eagle View, in https://www.theeagleview.com.br/2017/10/o-mundo-dos-idiotas-transviados.htm
2. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "O Triunfo do Rancor", in Blog The Eagle View, in https://www.theeagleview.com.br/2018/09/o-triunfo-do-rancor.html
3. IFC - International Finance Corporation, "Who Cares Wins 2005 - Report", in https://www.ifc.org/en/insights-reports/2000/publications-report-whocareswins2005--wci--1319576590784
4. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "A Pirâmide da Arrogância - Tragédia do Brasil", in Blog The Eagle View, in https://www.theeagleview.com.br/2023/02/a-piramide-da-arrogancia-tragedia-do.html
5. In Gazeta do Povo - "Obsessão Woke e Negligência Contribuíram para os Incêndios na California", in https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/como-obsessao-woke-negligencia-contribuiram-para-fogo-alastrasse-california/
6. In Gazeta do Povo - "Transição de Gênero Não Traz Benefícios Prometidos", in https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/transicao-de-genero-nao-traz-os-beneficios-prometidos-para-a-saude-mental-diz-pesquisa/
7. Citado por PASTORE, José e SOLIMEO, Marcel - "A onda 'woke' dá sinas de fadiga", in "Migalhas" - https://www.migalhas.com.br/depeso/417010/a-onda-woke-da-sinas-de-fadiga
8. In Correio Braziliense - "Ministra Francesa da Cultura Critica 'Wokismo'", in https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2024/02/6798620-ministra-francesa-da-cultura-critica-wokismo-politica-de-censura.html
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista, consultor estratégico e ambiental. Fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é Diretor da AICA - Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, membro do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, membro do IBRACHINA Smart City Council e Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos do Think Tank Instituto Iniciativa DEX. Pinheiro Pedro preside a tradicional Associação Universidade da Água - UNIÁGUA, e é Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. Como jornalista é Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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