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quinta-feira, 25 de março de 2021

GESTOS E SINAIS FLERTAM COM O PERIGO

O nazismo é uma serpente que precisa ser extirpada no ninho. Não há espaço para flertes ou inocência


Assessor da presidência  Filipe Martins arranja a lapela de forma inusual.
Gesto inocente ou "dog whistle"?



Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


O governo Bolsonaro foi eleito para resgatar o país do jugo do establishment parasita, formado pelo lodo da corrupção, do fisiologismo, do rentismo, da parasitagem cultural e da burocracia. 

Esse lodaçal disfuncional  chamado establishment, não guarda qualquer compromisso com a Nação. Ele se mantém entranhado no "deep state" - o Estado Profundo, de onde emite sinais trocados à cidadania. Assim age, como reação ao risco crescente de ver-se desalojado da organização política da sociedade. 

Essa guerra contra um inimigo encastelado nas instituições públicas, na grande mídia, na academia e nas organizações multilaterais, já sabíamos que o governo Bolsonaro iria enfrentar em repetidas e duras batalhas.  O que não prevíamos era que o governo fosse ser duramente atingido de dentro para fora, pelo comportamento idiossincrático do líder e de vários de seus quadros assessores.  E a infiltração nazifascista parece ser um dos vários vetores desse Cavalo de Tróia. 

A infiltração nazista foi explicitada pelo pastiche gobbeliano protagonizado pelo Secretário da Cultura Ricardo  / Roberto Alvim, no início de 2020, quando transmitiu uma mensagem de vídeo sobre a "nova cultura" parafraseando Goebbels, com  cenário similar e fundo musical wagneriano - para ratificar a natureza do ato.


Alvim e Goebbels - semelhança ou coincidência? 



Disse  Alvim:

“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.

Não só na forma, como no conteúdo, o vídeo remete ao ministro da propaganda de Adolf Hitler. Afinal, disse Joseph Goebbels:

"A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".

Goebbels, quando disse a frase em 1933,  pretendia conferir uma "nova ordem germânica" ao caos da moribunda República de Weimar, "subjugada pelo bolchevismo". Alvim, pelo que disse na "'live" gravada anteriormente com o Presidente, pretendia resgatar a "cultura nacional", destruída pelo caos imposto  pelo "marxismo cultural". 

No exercício de um cargo público federal, o indigitado Alvim transmitiu uma mensagem NAZISTA - um dog whistle, na linguagem de inteligência - sinal cifrado dirigido à própria matilha. 

De fato, a matilha nazi  no entorno e no governo bolsonaro, já emitiu outros sinais.


Bolsonaro toma leite. Allan dos Santos: "entendedores entenderão". 



O episódio do copo de leite, tomado em live do presidente, aparentemente para prestigiar a produção de leite no Brasil, foi absolutamente "contextulazidado" pelo youtuber  bolsonarista Allan dos Santos, no seu  programa de rede digital chamado "Terça Livre", quando expressou que "entendedores entenderão", tomando também o seu copo de leite como numa saudação.  

Entendedores interpretaram o gesto como mais um dog whistle dirigido à matilha nazista.  Afinal, o celebrar com o leite foi apropriado culturalmente pela extrema direita, como um gesto de pureza racial.   
 

supremacistas brancos e o leite - "entendedores entenderão"...



A nova extrema direita norte americana, chamada de alt-right - direita alternativa, associa o consumo de leite a uma série de atributos positivos sobre a própria existência: por serem brancos e comerem carne (ou caça), formariam uma raça superior. 

Mas a série de sinais não parou aí.

Posteriormente, manifestantes bolsonaristas passaram a agitar a bandeira histórica da Ucrânia - negra e vermelha, também arrebatada como símbolo do movimento radical de direita ucraniano  Pravy Sektor (Right Sector, em inglês), que reúne movimentos ultra-nacionalistas ucranianos e que acabou se transformando em partido político.

Em 2014, Kiev, capital da Ucrânia,  em plena luta contra o governo pró-russo ali instalado, foi também vítima de manifestações dos Pravy Sektor. Banners dos partidários da “supremacia branca” e bandeiras dos confederados norte-americanos foram fixadas dentro da prefeitura de Kiev ocupada. Manifestantes içaram bandeiras da SS nazista e símbolos do poder branco sobre a estátua tombada de Lenin. Depois que o presidente pró-russo Yanukovich fugiu do palácio estatal de helicóptero, os manifestantes destruíram a estátua dos ucranianos que morreram lutando contra a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. 


Bolsonaristas "ulcranizando" sua manifestação




Saudações nazistas e o símbolo do Wolfsangel (um símbolo heráldico alemão) tornaram-se cada vez mais comuns na praça Maiden. Forças neo-nazi  chegaram a estabelecer “zonas autonômas” em torno de Kiev, até o  novo governo  tratar de pacificar o país, reprimindo os neonazistas.  No entanto, é em relação a eles que nazistas fora da Ucrânia se referem quando usam o termo "ucranizar" como "libertação do jugo comunista" (como se Putin e o governo russo ainda o fossem...).

Assim, não há espaço para qualquer interpretação inocente, em um campo claramente nazista. 

Os sinais de nazificação infelizmente progridem. 

Recentemente, organizações paramilitares, a pretexto de reunirem "reservistas", protagonizaram atos similares aos das Tropas de Assalto - SAs nazistas, inclusive gravando vídeos com clara ameaça a opositores e à "esquerda" brasileira (sendo que "esquerda", para esse tipo de ogro, é tudo que está á esquerda dele...). 


"Brigadas bolsonaristas" - SA de fanfarrões intimidando transeuntes...



Agora, o principal assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Filipe Martins, protagonizou o mais estranho "arranjo de lapela" durante uma vídeo-conferência no Senado Federal, em que o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, era questionado sobre a condução ideologizada da política internacional brasileira. 

Martins claramente acenou com a mão direita em forma de "OK", porém com a palma da mão oculta, ou seja, ao contrário da forma tradicional. Isso leva a duas interpretações: ou inadvertidamente fez um símbolo notoriamente obsceno para a cultura brasileira ou, pior, reproduziu outro dog whistle para as câmeras e redes sociais: reproduziu o odioso símbolo dos supremacistas brancos - o sinal "white power". 


O neonazista Brenton Tarrant, responsável pela morte de 51 pessoas na Nova Zelândia, faz o sinal da supremacia branca. Não há espaço para a ingenuidade



Por mais que se tente conferir alguma funcionalidade de estilo ao sinal, diversa do que ele representa cultural e ideologicamente, é patente que em um ambiente onde se deixam do lado de fora a inocência e a ingenuidade e nenhum gesto é gratuito - o ato protagonizado pelo assessor - por si só, merece reprimenda. 

Filipe pode até ter tentado mesmo acertar a lapela do terno, como afirma de forma acerba em resposta às insinuações. No entanto, como diria o youtuber Allan dos Santos: "entendedores entenderão". 

O ovo da serpente só pode ser observado quando posto contra a luz. Aí o monstro se revela. Os meios de comunicação, a mídia digital, a imprensa, escancaram gestos, fatos e remissões. Não há espaço para ingenuidade. 

Os fatos, o contexto e as circunstâncias, no mínimo, revelam que há serpentes do nazifascismo eclodindo nos ovos bolsonaristas, vários deles postos no ninho do governo Bolsonaro. 

O comportamento seria escandaloso em qualquer país. Mas é preocupante no caso brasileiro, pelo histórico de tentativas do extremismo de direita se instalar  em nosso Estado. A tentação nazi-fascista, somada à bajulação populista, irá nos levar ao conflito. É da natureza do nazifascismo provocar o caos e nutrí-lo com o ódio. 

Bolsonaro transformou-se em  líder populista quando deveria ter assumido como um anti-populista, para representar a vanguarda de luta pelo restabelecimento do conservadorismo liberal -  pelo restabelecimento da ordem pluralista. Foi eleito para combater o populismo e nisso teve o apoio firme da sociedade de bem e das forças armadas. Mas esse apoio se desvanece à medida em que o rumo do governo aponta para o populismo.

A infiltração nazista em governos no Brasil não é nova. Há registros datados desde antes da 2a. Guerra Mundial. Sobre isso apontei uma relação de fatos em outro artigo, onde comentava o  pastiche protagonizado pelo Secretário Alvim*, acima referido. No entanto, há tempos que as Forças Armadas brasileiras trataram de blindar seus quadros face a esse perigo.

Os militares de nossas forças de defesa nacional sabem do risco neonazista, seu significado geopolítico e a necessidade de matar qualquer iniciativa no nascedouro - destruir a serpente no ninho, de preferência ainda no ovo. 

O nazismo é uma serpente que precisa ser extirpada no ninho. Não há espaço para flertes ou inocência. Não se trata mais de "ala ideológica" ou "conservadores" atuando no governo. Pelos gestos e sinais, todos flertam com o perigo, Estamos diante de fascistas, de uma exrema direita que está abandonando a dissimulação. 

Se o sinal já estava amarelo no governo Bolsonaro. Agora parece estar disparando.  Ou o presidente extirpa o mal... ou será por ele extirpado.
 


Leia também:

* PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "O RISCO PARA O CONSERVADORISMO ESTÁ À DIREITA", in blog The Eagle View, in https://www.theeagleview.com.br/2020/01/o-risco-para-o-conservadorismo-tambem.html











Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados.  Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API.  É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View". 










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3 comentários:

  1. Lamentável as ilações firmadas sem qualquer nexo com realidade.
    Seu ódio está nublando sua inteligência que passei a admirar desde um processo na PM em que vc defendeu um Oficial que poderia perder a patente por indignidade.
    Realmente só o ódio pode fazer alguém usar a bile dessa forma.
    Lamentável.
    Benedito Donizeti Marques, seu ex-admirador
    PS: Admito que se mude de lado mas não se pode mudar os fatos da forma que vc fez neste artigo

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  2. Leia o artigo duas vezes e retire a venda. O que está expresso no artigo são os fatos, registrados, fotografados e afirmados.

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