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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

ANTES DAS TREVAS, UM DESABAFO...

Um basta à mediocridade! 


Lua em meio às trevas (foto de Rubens Rihl)



Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Estou muito cansado de acessar as redes sociais e me ver inundado por barbaridades, mentiras, manipulações e insultos de uma pretensa "direita conservadora" que nada conserva, só destrói. 

O comportamento é similar ao dos petistas e seus acólitos da "esquerda progressista", que só progrediam no proselitismo torpe, despejado nas redes (e pago com nosso dinheiro), via blogs sujos,  no momento anterior ao que estamos passando. 

A diferença está na tecnologia e na escala das "fazendas de robôs" e, também, no primarismo da maldade. As bravatas de agora são mais toscas, agressivas e insultuosas. A mentira e a manipulação, por sua vez,  varia entre o cinismo e o escárnio, e é "repetida mil vezes até que se torne verdade" - tal como determinava Goebbels, o líder da propaganda nazista. 

Essa carga é recebida, digerida e repetida sem qualquer censura crítica ou freio moral por uma massa de indivíduos engajados na banalidade do mal. Um fanatismo de seita religiosa, que não admite o uso da razão. 

Não há, de fato,  o mínimo de profundidade. O que há é um somatório de ideias simplistas e formulações toscas, destrutivas e plenas de adjetivos desairosos.  Invectivas com pretexto vitimista  ou com objetivo expresso de destruir o inimigo do momento ( e sempre há um), tornando-o vítima de agressão virtual. 

A poluição de barbaridades faria Mark Twain corar por ver que há quem, sendo humano,  não core de vergonha pelas bobagens que profere. 

O paradoxal de tudo isso é que essas hordas prestam um desserviço ao próprio governo que dizem apoiar. 

Convenhamos, o mundo é maior que a fossa de contumélia e insanidade que se tornou a política nacional.  Devemos dar um basta à essa mediocridade, para nos dedicarmos ao mundo e não à fossa.

Antes que as trevas baixem,  anotemos o seguinte: de forma alguma  o Brasil irá para a fossa. E não irá porque sabemos do que a mobilização popular é capaz no Brasil - e a mobilização popular não se confunde com mobilização populista. 

Ninguém irá abandonar o Estado à sanha governista das trevas de ocasião. Já vimos isso no passado, à direita e à esquerda.   

Os cidadãos de bem fizeram uma aposta em 2018. Toleram a idiotice, até um certo nível, porque compreendem o que precisa ser feito para corrigir o passado. 

Porém, o povo identifica o traidor com extrema sutileza - e as ondas eleitorais comprovam o fato. Elegemos nossos governantes e os trocamos quando eles menos esperam. Protestamos sempre que necessário. 

Assim, por mais que a bajulação e "as massas" populistas o afirmem, a democracia permite ao povo corrigir os rumos, destituindo o autoiludido de plantão. E o povo brasileiro age sempre buscando o rumo do nosso destino, que será glorioso. Não há preguiça na história do povo brasileiro. 

Já aprendemos que nada é definitivo. 

Por isso devemos compreender o fenômeno atual. Perceber que a sandice da rede de apoiadores pode, eventualmente, corresponder às bravatas ditas pela liderança governamental; mas o Estado, a sociedade politicamente organizada, sempre foi maior que o governo.

Há um contexto de "síndrome de Janus" na gestão de Jair Bolsonaro.  Remanesce uma face comprometida com a limpeza ética e gerencial do Estado - na qual milhões acreditaram nas eleições de 2018. Essa face, no entanto, está fenecendo; parece já ter cedido à mesmice populista instalada no rosto sardônico da outra face - que parece agora conduzir a governança ao sabor da perversão instalada nas redes sociais, falas e gestos do próprio presidente e dos denominados "bolsonaristas". 

Esta síndrome pôs em risco todo o Projeto de Brasil que imaginávamos seria implementado pelo governo Bolsonaro. Afinal, apoiamos um projeto que é muito maior que a figura do presidente eleito. 

Está claro que o projeto de fato nunca existiu - era uma ilusão. Sobrou o mais rastaquera populismo. De fato, essa disfunção precisa ser extirpado o quanto antes. 

O mais escabroso dessa disfunção é  que, por conta dessa dualidade, o excelente trabalho realizado pela face séria do governo, a da governabilidade, da Infraestrutura, Agricultura, Energia, Desenvolvimento Regional e Assuntos Estratégicos (que particularmente apoio),  adotou agenda própria - não mais é suportada pelo governo e, sim, serve a ele de apanágio.  

Esse pouco que remanesce, parece correr o risco de terminar enevoado na memória dos cidadãos -  entorpecidos pelo quadro jeca pintado todo dia na tela dos dispositivos digitais pela "seita bolsonarista".  

De fato, é um contraste que decepciona e entristece.  

Populismo é mesmo a desgraça da política latino-americana.

Hora de dar um basta! 


🤦🏻‍♂️🤦🏼‍♂️🤦🏽‍♀️


 

Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados.  Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API.  É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View". 








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