Um basta à mediocridade!
Lua em meio às trevas (foto de Rubens Rihl) |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Estou muito cansado de acessar as redes sociais e me ver inundado por barbaridades, mentiras, manipulações e insultos de uma pretensa "direita conservadora" que nada conserva, só destrói.
O comportamento é similar ao dos petistas e seus acólitos da "esquerda progressista", que só progrediam no proselitismo torpe, despejado nas redes (e pago com nosso dinheiro), via blogs sujos, no momento anterior ao que estamos passando.
A diferença está na tecnologia e na escala das "fazendas de robôs" e, também, no primarismo da maldade. As bravatas de agora são mais toscas, agressivas e insultuosas. A mentira e a manipulação, por sua vez, varia entre o cinismo e o escárnio, e é "repetida mil vezes até que se torne verdade" - tal como determinava Goebbels, o líder da propaganda nazista.
Essa carga é recebida, digerida e repetida sem qualquer censura crítica ou freio moral por uma massa de indivíduos engajados na banalidade do mal. Um fanatismo de seita religiosa, que não admite o uso da razão.
Não há, de fato, o mínimo de profundidade. O que há é um somatório de ideias simplistas e formulações toscas, destrutivas e plenas de adjetivos desairosos. Invectivas com pretexto vitimista ou com objetivo expresso de destruir o inimigo do momento ( e sempre há um), tornando-o vítima de agressão virtual.
A poluição de barbaridades faria Mark Twain corar por ver que há quem, sendo humano, não core de vergonha pelas bobagens que profere.
O paradoxal de tudo isso é que essas hordas prestam um desserviço ao próprio governo que dizem apoiar.
O paradoxal de tudo isso é que essas hordas prestam um desserviço ao próprio governo que dizem apoiar.
Convenhamos, o mundo é maior que a fossa de contumélia e insanidade que se tornou a política nacional. Devemos dar um basta à essa mediocridade, para nos dedicarmos ao mundo e não à fossa.
Antes que as trevas baixem, anotemos o seguinte: de forma alguma o Brasil irá para a fossa. E não irá porque sabemos do que a mobilização popular é capaz no Brasil - e a mobilização popular não se confunde com mobilização populista.
Ninguém irá abandonar o Estado à sanha governista das trevas de ocasião. Já vimos isso no passado, à direita e à esquerda.
Os cidadãos de bem fizeram uma aposta em 2018. Toleram a idiotice, até um certo nível, porque compreendem o que precisa ser feito para corrigir o passado.
Porém, o povo identifica o traidor com extrema sutileza - e as ondas eleitorais comprovam o fato. Elegemos nossos governantes e os trocamos quando eles menos esperam. Protestamos sempre que necessário.
Assim, por mais que a bajulação e "as massas" populistas o afirmem, a democracia permite ao povo corrigir os rumos, destituindo o autoiludido de plantão. E o povo brasileiro age sempre buscando o rumo do nosso destino, que será glorioso. Não há preguiça na história do povo brasileiro.
Já aprendemos que nada é definitivo.
Por isso devemos compreender o fenômeno atual. Perceber que a sandice da rede de apoiadores pode, eventualmente, corresponder às bravatas ditas pela liderança governamental; mas o Estado, a sociedade politicamente organizada, sempre foi maior que o governo.
Há um contexto de "síndrome de Janus" na gestão de Jair Bolsonaro. Remanesce uma face comprometida com a limpeza ética e gerencial do Estado - na qual milhões acreditaram nas eleições de 2018. Essa face, no entanto, está fenecendo; parece já ter cedido à mesmice populista instalada no rosto sardônico da outra face - que parece agora conduzir a governança ao sabor da perversão instalada nas redes sociais, falas e gestos do próprio presidente e dos denominados "bolsonaristas".
Esta síndrome pôs em risco todo o Projeto de Brasil que imaginávamos seria implementado pelo governo Bolsonaro. Afinal, apoiamos um projeto que é muito maior que a figura do presidente eleito.
Está claro que o projeto de fato nunca existiu - era uma ilusão. Sobrou o mais rastaquera populismo. De fato, essa disfunção precisa ser extirpado o quanto antes.
O mais escabroso dessa disfunção é que, por conta dessa dualidade, o excelente trabalho realizado pela face séria do governo, a da governabilidade, da Infraestrutura, Agricultura, Energia, Desenvolvimento Regional e Assuntos Estratégicos (que particularmente apoio), adotou agenda própria - não mais é suportada pelo governo e, sim, serve a ele de apanágio.
Esse pouco que remanesce, parece correr o risco de terminar enevoado na memória dos cidadãos - entorpecidos pelo quadro jeca pintado todo dia na tela dos dispositivos digitais pela "seita bolsonarista".
De fato, é um contraste que decepciona e entristece.
Populismo é mesmo a desgraça da política latino-americana.
Hora de dar um basta!
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View".
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