Às vésperas da manifestação de 26 de maio, dou meu braço a torcer em relação à estratégia de convocar o povo à ruas, em apoio a Bolsonaro
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Povo é convocado por movimentos de apoio ao governo de Bolsonaro, para voltar ás ruas, contra o restolho do establishment que impede as reformas.
Em meio a crises ministeriais e embates com o Congresso Nacional, o governo Bolsonaro segue aprofundando mudanças mas, também, batendo a cabeça na parede que ele próprio construiu, na medida em que não resolveu ainda seu crônico problema de comunicação - seja interna, com sua própria base - seja com os cidadãos brasileiros.
Com dificuldades para passar os pacotes essenciais à governança, como é o caso da Medida Provisória que reformatou os ministérios e suas atribuições, o governo assiste parte de sua base política se articular para convocar manifestações de rua, em apoio à figura do presidente e seu projeto político. Já outra parte hesita em mobilizar o apoio, por entender por demais difusa a convocação.
Eu mesmo me posicionei contra a convocação da manifestação de 26 de maio, por entender precipitada e com pauta de enfrentamento institucional. Mas agora dou o braço a torcer. Explico:
As ruas deverão atacar dois pontos de estrangulamento das reformas pretendidas pelo governo.
O primeiro grande mote do movimento é desagravar a figura do presidente face ao establishment.
O establishment permanece entranhado no "deep state" - o Estado Profundo, de onde emite sinais trocados para não ser desalojado. É acobertado por uma jusburocracia invasiva e deletéria para a economia nacional - que gera conflitos ao invés de resolvê-los. Por obra do establishment, Estado e sociedade tornaram-se reféns de rentistas, globalistas, populistas, oportunistas, castas privilegiadas, corruptos, criminosos comuns e organizados, ativistas de toda ordem - inclusive judiciais, desagregadores e liberticidas culturais, que infestaram o cotidiano da Nação e formam hoje o conjunto de inimigos da República.
Essa parasitagem contaminou cientificamente os meios culturais, escolas e universidades. É inoculada no tecido social por minorias rancorosas; prega a desagregação, segrega e estimula o ódio. Destrói a secular miscigenação que forjou a generosidade de nosso caráter. e conspurca a comunhão nacional.
Desalojada da cúpula do executivo federal, essa massa disforme de interesses escusos busca hoje refúgio nos poderes remanescentes: parlamento e judiciário, articulando resistência por meio do chamado CENTRÃO - no Congresso Nacional e, no ativismo judicial inoculado no STF. É nessas figuras que as jornadas de apoio a Bolsonaro devem concentrar seus protestos.
O segundo mote é a manutenção, na sua integridade, dos pacotes de previdência, de combate à criminalidade e das medidas provisórias de reforma da estrutura do governo. Esses pacotes estão sofrendo obstrução e desfiguração por força da ação nefasta e fisiológica do chamado Centrão - grupo formado por partidos antes acostumados a práticas pouco republicanas, alinhados com a esquerda remanescente do período lulopetista, instalada no parlamento.
Se assim é, por que havia hesitação?
Fossem esses os únicos motes, não haveria hesitações - ainda que o risco da mobilização estivesse presente. Porém, há uma pauta embutida nas convocações, de blindar a vontade do presidente, sobrepondo este aos mecanismos constitucionais de controle.
Assim, havia algo nebuloso entre as pautas, que beirava o populismo.
Eu não enxergava, como não enxergo ainda, a proximidade do limite de ruptura institucional -motivador para esse tipo de manifestação. No entanto, com a proximidade das manifestações, as ratazanas do centrão, temerosas do movimento, recuaram nos últimos dias, desobstruindo a pauta de votação e permitindo a tramitação regular dos Projetos de Lei.
O discurso das presidências do Senado e Câmara também mudou - entre bicos e muxoxos dos agentes envolvidos.
Até mesmo os supremos togados resolveram por na ordem do dia votações polêmicas, buscando, no entanto, adotar certa discrição regimental (da qual jamais deveriam se afastar).
A ameaça à governabilidade, portanto, parece estar se esvanecendo.
Por conta dessa circunstância, e às vésperas da manifestação de 26 de maio, dou meu braço a torcer em relação à estratégia de convocar o povo à ruas.
Pelo que noto, as ratazanas compreenderam o recado, e o resultado, portanto, independente do sucesso das manifestações, já se produziu.
Resta agora, administrar o risco da mobilização...
VAMOS ÀS RUAS!

Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View. Participou da equipe de consultores encarregada de propor os parâmetros da gestão ambiental para o Governo Bolsonaro, no período de transição.
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