Páginas

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

HORA DO SILÊNCIO NA REPÚBLICA DOS TWITTERS

Os falastrões que dedilham intrigas estão pondo em risco a estabilidade do governo Bolsonaro...






Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


O que parecia impensável, aconteceu.  Mal iniciado o governo,  já estamos assistindo a um festival de intrigas palacianas expressadas pelas mídias digitais e, obviamente, alardeadas pela imprensa. 

Intrigas palacianas são dignas das melhores e piores côrtes, com destaque para o período vaticano dos Bórgia. A diferença é que o veneno quinhentista de então, não era destilado pelo twitter.


A República pelo Twitter 

Uns demonstram justa revolta com outros que mentem. Há quem produza pós-verdades, quem se preocupe em censurar o que considera fake news... Há quem se imole na fogueira das vaidades, e quem acenda o fogo para "fritar" aliados e incinerar dissidentes.  

O clima de confrontação é desgastante, tira o foco do que realmente interessa e acaba por obnubilar os próprios feitos positivos de quem se pretende defendido pela confrontação militante. 

Fato é que estamos acompanhando a República pelo Twitter. 

Seja pelo Twitter, seja pelo Youtube, sabemos do melhor e do pior. Da lama impune de Brumadinho,  da morte inocente de meninos no vestiário do Flamengo, da transferência dos perigosos líderes do crime organizado para prisões federais, do fim das benesses antes oferecidas a apaniguados dos governos petistas, da determinação em ver votada a reforma da previdência ainda neste ano legislativo e das resistências impostas por gente mal intencionada contra o pacote da segurança pública de Moro.

Mas o mundo minúsculo das pequenas intrigas também segue pelas mesmas infovias e a todos atormenta. O atrito da vez, agora,  é o pugilato digital entre Carlos Bolsonaro e Gustavo Bebiano. 


A Figura Oculta

Desde antes da posse, o vereador carioca e filho do Presidente da República  vinha afirmando, nas redes sociais, que havia gente no núcleo do governo "que jogava bola nas costas", para inviabilizar o exercício da presidência do pai. Essas declarações provocaram mal estar, pois o atrito de Carlos com o vice-presidente Hamilton Mourão era explícito. 

Mas a "figura oculta" de Carlos não era Mourão. Tratava-se mesmo de Gustavo Bebiano, nomeado para dirigir a importante Secretaria da Presidência numa posição umbilicalmente ligada ao Chefe de Estado, peça chave no gabinete presidencial, incumbida  de total lealdade, respeito e sigilo sobre os atos do chefe. 

Desconfiado, o filho dileto do presidente fez suas diligências digitais e  imputou a Bebiano o vazamento de informações e  invenção de factoides para a imprensa comprometida com o establishment. Compreendeu ser Bebiano um "informante do gabinete" a serviço da  mídia, infiltrado no Núcleo de Poder. 

A gota d'água veio na última semana. Zeloso com a imagem do pai, Carlos revoltou-se ao perceber que Gustavo Bebiano buscava demonstrar na imprensa que tinha o aval de Jair Bolsonaro para por panos quentes no escândalo das candidaturas femininas "laranjas", promovidas em Pernambuco pelo PSL - o partido do governo que presidira nas últimas eleições.  Em verdade, Bebiano estaria no centro do bolsão de instabilidade no governo, coisa que negara afirmando manter contato com o Presidente. 

O problema havia sido exposto pelo Blog "O Antagonista", e respondido por Bebiano, que informara não ocorrer instabilidade alguma em função dos escândalos, tanto que já havia falado com o Presidente várias vezes sem qualquer problema.

"Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista”, escreveu Carlos Bolsonaro no seu twitter, abrindo uma crise palaciana de alto risco político. 

Carlos foi além. Avançou no celular do pai presidente e, de lá, retransmitiu pelo twitter a troca de mensagens do dirigente máximo do país com seu ministro. Expôs o governo, os governantes e as desinteligências destes, algo mais complexo que a própria rusga com Bebiano. 

Pano rápido. Restou no ar impressionante interferência filial no governo do pai. 


Amor demais também sufoca

Parafraseando Fernando Pessoa, amor demais, também sufoca. E esse exagero de amor filial, demonstrado num contínuo enfrentamento contra tudo e contra todos, pode sufocar a comunicação e a articulação do governo Bolsonaro.

A retorsão imediata parece ser a marca do núcleo duro do palácio do planalto - que abriga o filho vereador e vários jovens portadores da síndrome do dedo nervoso em ao que tudo indica responde pela comunicação nos meios digitais - incluso aí as contas pessoais de Bolsonaro. 

Portadores da síndrome dos dedos inquietos destroem o que vêem pela frente, e não observam os estragos que podem estar produzindo a médio e longo prazo, para o próprio líder que querem proteger. 

Ao hostilizar qualquer posicionamento crítico que ouse aparecer, o populista digital atinge a própria figura, e perde credibilidade. 

Esse comportamento desaforado foi padrão herdado da linha de frente virtual urdida na campanha eleitoral - muito baseada nas relações pessoais dos filhos do presidente e pouco articulada com a base partidária e parlamentar que suporta o próprio governo. 

A postura reativa constantemente protagonizada pelo núcleo de protetores do Presidente - filhos, gurus, amigos próximos instalados no palácio, nos parlamentos, nos ministérios e também entre seguidores distantes, conectados  nos grupos de discussão das redes sociais e em qualquer lugar onde se encontrem digitalmente articulados. 

Ocorre que essa movimentação em prol do "bateu-levou", "quem não está a favor, está contra", "mimimi? Reclame aqui...", "chora que dói menos"... e outros desaforos contra todos,  só prejudica a compreensão do que pretende fazer o governo. 

Objetivamente, o comportamento retorsivo atrapalha a própria ação da presidência da República; afasta aliados, intimida simpatizantes, desmotiva a crítica construtiva e estimula a surdez institucional.  

Aplicada como está sendo, a partir do núcleo de relações filiais do presidente, parece ser uma conduta estimulada oficialmente - daí estarmos todos inseridos  em uma espiral desestabilizadora de acirramento de ânimos.


Não poupam sequer o vice

O caso do Vice-Presidente, General Hamilton Mourão, é sintomático desse fenômeno.

Mourão de fato possui um entendimento absolutamente independente e politicamente posicionado, consentâneo com sua formação social e intelectual. Essa postura é passível ou não de discordância como qualquer outro posicionamento que se tenha na vida. 

Essa qualidade do Vice Presidente, infelizmente, atrai inimigos - atemoriza pós-doutores de teses rasas politicamente corretas e também atemoriza a nata rasa dos neo eruditos da chamada nova direita. 

á disse isso antes, em outro artigo elaborado antes das eleições¹. 

Parecem estar todos igualmente acomodados na  seara midiática da crítica óbvia à esquerda burra e pouco acostumados ao verdadeiro debate. 


A nata do politicamente correto - tal qual a da incorreção reacionária,  teme vivamente a possibilidade dos pensamentos divergentes sobreviverem à fábrica de rótulos implantada para esmagar o pluralismo e o pensamento crítico no Brasil.

Por óbvio, quem sofre com a polarização é a racionalidade -  em especial o pensamento conservador. 

Aí mora o paradoxo invencível: amor à postura e medo à inteligência de Hamilton Mourão.


Duas linhas de desagregação

Após "descerem o aço" no Vice-Presidente da República, os  áulicos intriguentos palacianos dirigem baterias contra os dirigentes do próprio partido que confere sustentabilidade ao governo: o PSL. 

Há duas correntes dentre os que disparam o fogo amigo. 

A primeira corrente é a dos que querem simplesmente proteger Jair Bolsonaro do que entendem ser "aproveitadores" postados no entorno do presidente. Nesta se inserem o filósofo Olavo de Carvalho e Carlos Bolsonaro, os quais, ressalte-se, têm a hombridade de agir publicamente. 

Se Carlos demonstra amor filial incondicional, Olavo de Carvalho constrói a retorsão dentro de um raciocínio monolítico, logicamente fundamentado. Utiliza sua inteligência privilegiada para gerar um desaforo com conteúdo por desconfiar que o partido "tem dono" e pode contaminar o presidente com irregularidades no uso do fundo partidário - tal qual revelado no episódio das candidaturas laranjas... 

Por um lado, há de se respeitar as ideias do filósofo - ainda que se discorde delas. Por outro, é preciso observar que a forma cáustica como articula Olavo de Carvalho, mais desagrega que une - e isso é um problema. 

A segunda corrente é dos que pretendem "dividir para governar". Esse grupo guarda um núcleo que teima em desarticular não só o PSL e seus dirigentes - a maior bancada partidária governista, como toda a base parlamentar. 

Promovem uma espécie de substituição paulatina de interlocução com o legislativo, seja para eventualmente formatar um novo partido ou alterar a hegemonia no bloco de apoio do parlamento. 

Há quem procure uma constante depuração de quadros, como é o caso do filho mais articulado de Bolsonaro - o Deputado Eduardo - eleito por São Paulo, cuja postura ideológica direitista é cristalina.  

No outro bloco, mais conservador que direitista, busca-se uma substituição de hegemonias. Neste pode estar inserido, segundo opositores, o Ministro- Chefe da Casa Civil, Ônix Lorenzoni, que parece sempre buscar articular nos bastidores. 


Rede de Intrigas

Toda essa trama de rupturas e depurações, está sendo urdida, no entanto,  cedo demais. 

O novo governo ainda está desembarcando na praia inimiga, tomada por hostes burocráticas dos governos anteriores. Não por outro motivo, é metralhado diuturnamente pelo establishment e sua artilharia de imprensa - sem que possua ainda capacidade de substituir quadros, repor efetivos perdidos ou mesmo consolidar um plano de ataque. 

Nesse sentido,  rachar a cúpula do comando do governo,  desfazer da base de apoio parlamentar e desagregar o núcleo do Poder  não parece ser boa estratégia de quem busca se estabilizar  na situação, ainda que  a depuração pretendida esteja coberta das melhores intenções. 

Nosso regime é democrático e antipopulista. 

O novo governo está empenhado em DESFAZER todo o malfeito que se abateu por duas décadas sobre o solo brasileiro.  

Não deveria, em tão pouco tempo,  sofrer com dissenções internas. 

As dissenções, no entanto, parecem ocorrer por conta da propensão natural do presidente da república seguir O QUE SENTE ao invés de racionalizar o comportamento de estadista -  conforme dita  a realpolitik intrínseca ao exercício do Poder. 

É preciso por um fim à rede de intrigas que está se instalando nas hostes palacianas, e alhures. 


Basta!

Filhos e seguidores fiéis não podem fazer uso da intimidade que gozam junto ao Presidente  para desfazer de aliados no exercício do Poder Público. 

Muito menos poderia o imbróglio criado com o PSL e Bebiano, expor o fato preocupante e pouco republicano, do amplo acesso dos filhos à comunicação pessoal do pai - Chefe do Poder Executivo brasileiro. Isso fere até mesmo a Segurança Nacional. 

Vale aqui o uso da filosofia militar: o comando é um exercício solitário. 

Ou o presidente põe um fim nisso e assume o comando, ou o seu plano de desfazer de uma vez o malfeito tucano-lulo-petista pode ir por água abaixo.

Intrigas só desagregam. Palavras são flechas que não voltam e podem ferir de morte alianças importantes. 

O problema do comportamento filial em relação ao pai, dos assessores palacianos e do próprio presidente, com relação à compulsão por antagonizar, não pode ser confundido com mero exercício de "liberdade de expressão", ou "afirmação ideológica". Na verdade, parece advir da mentalidade tipicamente carioca de exercer protagonismo a partir de factoides - um mind set denunciado (e praticado) pelo carioquíssimo Cesar Maia, pai do Deputado Rodrigo Maia (que parece ter herdado do pai conduta idêntica). Esse hábito é nocivo quando no exercício do Poder.

A gravíssima hesitação que parece ter tomado conta do chefe do executivo no caso Bebiano, ao consentir com a "fritura" de seu ministro por dias sem exonerá-lo de pronto - expôs uma fraqueza que será  explorada pela inteligência do establishment. 

Nunca é demais lembrar que o establishment detém o Deep State, que ao governo ainda se opõe... enquanto intenta de todas as formas cooptá-lo.  

Bate-bocas pelo twitter revelam fragilidade.  Assim, a inteligência, a prudência e a razão recomendam adotar o SILÊNCIO.


Enjoy the Silence

Não poderia deixar de inserir neste artigo, a letra de "Enjoy the Silence", uma música do Depeche Mode que me vem à mente toda vez que observo troca de farpas e ofensas patrocinadas por bolsonaristas e petistas, ou o tom de desprezo destilado nos pronunciamentos dos chamados "isentões". ²  

Enfim, necessário impor um silêncio republicano ao núcleo do governo e suas franjas barulhentas. 

Em homenagem ao glorioso estamento militar que permeia a formação do novo governo, também remeto os pacientes leitores á advertência histórica  atribuída ao grande General Paraquedista Polonês Sosobowski, quando soube do mirabolante plano de invasão da Alemanha a partir da Holanda, planejado por Montgomery na Segunda Grande Guerra. 

Sosobowski  foi protagonizado por Gene Hackman no histórico filme "Uma Ponte Longe Demais" - sobre a Operação Market Garden -  um desastre militar que integra o rol das arrogâncias que matam.  

O Gen. Sosobowski, ao perceber que o plano fora traçado sem observar a inteligência do inimigo, calou-se, provocando a curiosidade dos interlocutores. Instado a se manifestar ante seu ostensivo silêncio, declarou o General que "seres inteligentes formam uma minoria, que se sente mais confortável no silêncio"...³

Precisa dizer mais? 


Notas:

1- PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro - "General Mourão e a Crítica dos Ignorantes", in Blog The Eagle View, visto em 14/02/19, in https://www.theeagleview.com.br/2018/08/general-mourao-e-critica-dos-ignorantes.html 

2- Enjoy The Silence  é uma música do grupo Depeche Mode

3- A fala atribuída ao General Sosobowski se dá no contexto da apresentação do Plano de Montgomery - retratado no filme "Uma Ponte Longe Demais" - The Bridge Too Far:  in











Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB.  É  Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.








Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja membro do Blog!. Seus comentários e críticas são importantes. Diga quem é você e, se puder, registre seu e-mail. Termos ofensivos e agressões não serão admitidos. Obrigado.