Prova do ENEM mistura alhos e bugalhos, elege gíria como "dialeto secreto dos gays e travestis" e provoca indignação nos héteros, homossexuais e afrodescendentes...

Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, é uma exigência do Sistema de Seleção Unificado e imprescindível para os estudantes que necessitam de bolsa de estudo ou financiamento estudantil, bolsa de estudo no exterior ou certificação para o ensino médio.
Por isso mesmo, o ENEM deveria ser um exame com caráter universal, abrangente e absolutamente técnico, sem conotação de cunho religioso ou ideológico.
No entanto, o ENEM parece servir de "filtro" para a seleção de militantes e ativistas, mais que um meio de qualificar mentes abertas ao desafio intelectual de contribuir para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil.
O ENEM tornou-se sede de experimentos ideologicamente vocacionados sob a capa do "politicamente correto", no qual se admitem distorções cognitivas como matéria curricular.
Uma questão destacada no último ENEM, é exemplo vivo dessa disfunção ideológica.
Trata-se da questão da prova, cujo enunciado informa: "conheça o dialeto secreto utilizado por gays e travestis".
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| A Questão do ENEM de novembro de 2018 - enunciado |
De cara, a generalização contida no enunciado por si só daria uma tese de mestrado sobre preconceito, discriminação e estigmatização. O enunciado diz muito mais a respeito de quem elaborou a questão... que sobre os grupos de "gays" e "travestis" nela misturados sem nenhum cuidado.
Desagradando a todo mundo
O termo "gay" não guarda relação com "travesti". Quem se traveste pode ser homossexual, mas as coincidências param aí. Há homossexuais em todas as categorias profissionais, condições sociais e religiosas - do esportista ao militar, do magistrado ao padre, do músico erudito ao pai de santo umbandista. Com exceção deste último, que deve conhecer dialetos africanos, os demais não estão afetos ao "dialeto secreto utilizado por gays e travestis" - informado no enunciado do ENEM.
Desagradando a todo mundo
O termo "gay" não guarda relação com "travesti". Quem se traveste pode ser homossexual, mas as coincidências param aí. Há homossexuais em todas as categorias profissionais, condições sociais e religiosas - do esportista ao militar, do magistrado ao padre, do músico erudito ao pai de santo umbandista. Com exceção deste último, que deve conhecer dialetos africanos, os demais não estão afetos ao "dialeto secreto utilizado por gays e travestis" - informado no enunciado do ENEM.
Gíria de travesti, por óbvio não é "ainda" uma disciplina escolar. No entanto, foi "didaticamente" apontada como "dialeto secreto" na prova do ENEM.
Ainda que pretextando desenvolver uma análise linguística de cunho sociológico, o conteúdo desenvolvido para o teste é eminentemente provocativo e nada didático.
Pelo visto a intenção foi confundir e contrariar convicções, mais do que estimular o examinando a compreender a função social dos dialetos. Ademais... gíria chula está longe de se tornar "dialeto"...
É de uma obviedade ululante que o "empréstimo" de termos sonoros do Iorubá visa, no caso, finalidades completamente disfuncionais do ponto de vista cultural.
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| Questão do ENEM - enunciado |
O uso do dialeto na GÍRIA do grupo citado apenas reforça o chulo - e no entanto essa sutileza que poderia servir para justificar uma questão de cunho analítico, foi de pronto superada para se adotar a SENTENÇA definitiva de que a forma de tratamento dos travestis é um dialeto "oficial" e "secreto" da comunidade gay. Ou seja, homossexuais confundidos com indivíduos travestidos e com comportamento peculiar, por sua vez misturados a afrodescendentes que se diluem também dentre os que falam o dialeto iorubá. Como se todos compartilhassem o mesmo gueto dos travestis efetivamente usuários das citadas gírias...
Mais curioso é a extensão do "dialeto secreto dos gays e travestis" aos afrodescendentes, como se raça fosse condição para desenvolver dialeto de gueto, no Brasil. Algo como imaginar Pelé ou o Ministro Joaquim Barbosa trocando confidências em "dialeto secreto" com "gays e travestis" por conta unicamente da sua melanina... Só mesmo na cabeça estreita, esdrúxula, segregacionista, dos rancorosos monopolizadores do "politicamente correto".
Mais curioso é a extensão do "dialeto secreto dos gays e travestis" aos afrodescendentes, como se raça fosse condição para desenvolver dialeto de gueto, no Brasil. Algo como imaginar Pelé ou o Ministro Joaquim Barbosa trocando confidências em "dialeto secreto" com "gays e travestis" por conta unicamente da sua melanina... Só mesmo na cabeça estreita, esdrúxula, segregacionista, dos rancorosos monopolizadores do "politicamente correto".
Vale dizer: em nome da ideologia de gênero, homossexualidade e raça misturam-se na mesma salada de grupos peculiares comportamentais, e tornam-se uma premissa para o silogismo pretendido na resposta da questão.
Desvio completo de finalidade
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| Questão do ENEM - alternativas (de se perguntar: "se era para isso, por que toda a história anterior?") |
Desvio completo de finalidade
Em um diálogo travado nas redes sociais, a respeito do fato, o professor Guilherme Purvin de Figueiredo me explicou que os textos analisados em sociolinguística são quase sempre colhidos de um universo linguístico peculiar, marginal. "É desses guetos que surgem variantes linguísticas que permitem o contraste com a chamada norma culta", explicou o mestre, a quem admiro desde os tempos de faculdade.
"Os estudos de sociolinguística surgiram nos EUA há seis décadas e seu grande nome foi William Labov, que estudou a comunicação verbal da comunidade negra. Na Argentina, por exemplo, o lunfardo (gíria dos malandros e prostitutas portenhos) constitui tema de estudos linguísticos pelos estudantes argentinos, mas isso não os torna cafetões ou prostitutas", completou o citado Professor.
A explicação está correta... para o propósito da disciplina. No entanto, a conceituação serviu justamente para explicitar o horroroso desvio de finalidade contido na questão do ENEM.
Ocorre que o enunciado aposto na prova escolar não se refere à uma "gíria marginal". Pelo contrário - informa literalmente que se trata do "dialeto secreto dos gays e travestis".
O enunciado revela uma gravíssima confusão cognitiva - como se uma característica da sexualidade humana biologicamente expressada por uma grande parcela da humanidade se confundisse com o comportamento específico adotado por um determinado grupo peculiar e marginal de indivíduos.
O enunciado revela uma gravíssima confusão cognitiva - como se uma característica da sexualidade humana biologicamente expressada por uma grande parcela da humanidade se confundisse com o comportamento específico adotado por um determinado grupo peculiar e marginal de indivíduos.
Isso sim, é fugir da sociolinguística para cair de cabeça no precipício obscuro das generalizações obtusas que marcam a ideologia de gênero.
Lamentável, preconceituoso e deprimente. "Esquerdopatia" delirante de quem usa o politicamente correto para rotular, estigmatizar e reforçar a própria incorreção.
Mais que um insulto a quem teve a "infelicidade" de ser bem educado ou possuir alguma convicção religiosa, seja hétero ou homossexual, a inclusão da "questão formulada", além de estigmatizar, escarnece de milhões de cidadãos que apenas pretendiam fazer uma prova, não virar cobaia de ideólogos de gênero.
Não há dúvida, o sistema implantado nos períodos tucano-lulo-petistas, tinha por meta a completa distorção da estrutura moral e o esgarçamento do tecido social que sustenta a Nação. Se não obteve um sucesso, conseguiu causar enormes estragos.
O fato do ENEM ter ocorrido logo após as eleições presidenciais - que deverão influir decisivamente neste campo da doutrinação escolar, é sintomático do conflito que se avizinha e do tamanho do trabalho que o governo federal terá para desalojar, uma a uma, todas as minhocas inoculadas nos currículos educacionais brasileiros...
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API, é Editor - Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.




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