Páginas

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O 2º ASSASSINATO DA SOLDADO JULIANE...

A imprensa com liberdade de emporcalhar e a necessidade de desconstruir a vítima Juliane por ela ser policial 




Por Sérgio Marques


Caso vc tenha o desprazer de ler a pseudomatéria da Folha de SP, cujo título é "Policial Juliane teve seus últimos momentos com bebida, PEGAÇÃO e dança"*, verá o nível de nosso "RIP" jornalismo brasileiro e, com certeza, ficará revoltado(a)...

Enquanto seu corpo físico "descansa eternamente" em um Cemitério do Grande ABC, uma “publicação” assassinou-a pela 2ª vez, acabando com a honra de uma cidadã- policial, brutalmente assassinada, expondo sua individualidade, reduzindo-a exclusivamente a um ser lascivo, com reflexo animal... O texto, um dos piores que já li, mas parece uma pornochanchada barata, com tom machista e altamente preconceituoso.

Quanto a Família da finada... insensibilidade total, pois não interessa, o importante para o hediondo escrito era apenas destruir a reputação de uma pessoa, que sofreu muito antes de ser executada. Talvez a sensualidade explícita e exagerada descrita na matéria fora turbinada na mente diabólica pelo fato da vítima ser policial militar... Quanto aos criminosos...ahhh, são os elementos neutros nesse conto de terror venusiano.

Após grave clamor contra o escrito o título foi "aliviado": "PM Juliane teve últimos momentos livres com bebida, beijos e dança". O termo "PEGAÇÃO", chulo, vulgar, e no caso, obsceno, não existente no Português culto (vide em Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa**, foi substituído pela palavra “BEIJO”, afinal, não PEGOU bem...



Comparação feita pelo site "caneta desesquerdizadora" sobre manchetes de assassinato de duas negras, pobres, homossexuais e defensoras da integridade e da vida... 

O próprio Ombudsman da Folha, uma espécie de “Reclame Aqui Virtual da Empresa”, ouviu um Editor do Jornal, que, não enxergando a gravidade do fato, tentando aliviar a horrível pauta, defendeu seu homólogo da desgraça, imperando o corporativismo, escondendo-se no princípio da “liberdade de imprensa”, usado como absoluto, sem ponderação ou contrariedade, totalitário. 

Assim se manifestou ao final a conclusão do Ombudsman: “Impressiona que, após tantas reações, o jornal não tenha admitido que - no mínimo- passava mensagem equivocada na construção jornalística ambígua, popularesca e sexualizada com que noticiou os atos da policial antes do crime. Ao se prender às suas intenções, a Folha pecou por arrogância e distanciamento dos leitores...." 

Será que a maioria das repórteres e das editoras permitiria que texto como esse fosse publicado? É provável que não. 

Pelo menos nessa história o Ombusdsman da Folha foi honesto. Aliás, vc assina a FOLHA DE SP? Bom refletir...

Notas: 


**vide em Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, disponível em: http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario)








Sérgio Marques é Major da Polícia Militar do Estado de São Paulo, bacharel em direito (UNIBAN), mestre em Ciências Policiais (APMBB) e pós-graduado em Política e Relações Internacionais (FESPSP), historiador militar.








.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja membro do Blog!. Seus comentários e críticas são importantes. Se possível diga quem é você e registre seu e-mail. Termos ofensivos e agressões não serão admitidos. Obrigado.