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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

GENERAL MOURÃO E A CRÍTICA DOS IGNORANTES

Pensar diferente atemoriza quem ignora o que existe além dos rótulos do politicamente correto e da incorreção reacionária


General Ex Hamilton Mourão



Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro

O General Mourão, em um evento ocorrido no dia 6 de agosto, na Câmara de Comércio de Caxias do Sul, afirmou termos todos nós, brasileiros, três heranças principais: a do "privilégio", trazida pelos ibéricos; da "indolência", que vem da cultura indígena; e da "malandragem", "oriunda do africano". 

"Então esse é o nosso caldinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e macunaímas", afirmou o  General Mourão, atribuindo essa característica psicossocial ao chamado "complexo de vira-lata". 

Pronto! Foi o que bastou para a militância imbecil sacar o rotulador, atribuindo pechas de preconceituoso, racista, etnofóbico... ao militar, tudo transmitido pelo teleprompter  da mídia amestrada, e lido pelos porta-vozes robóticos do establishment. 

De fato, a reação é sintomática da ignorância intrínseca à militância do politicamente correto. Isso porque os ressentidos protegem sua forma tosca de ver o mundo, rotulando tudo aquilo que não conhecem e que exige um raciocínio para além do rancor. 

Como não conseguem fazê-lo (raciocinar para além do rancor), temem tudo o que foge de sua minúscula compreensão. 

Não por outro motivo, esse rotuladores tornam-se escravos dos sufixos.  Sintomaticamente, utilizam "fobia" para atacar aquilo que está no inconsciente deles próprios ou recorrem ao "ismo", para praticar exatamente o que pretendem combater.  É a famosa "projeção psicológica", um mecanismo de defesa por meio do qual os incautos atribuem aos outros os próprios sentimentos, pensamentos, crenças ou até mesmo ações próprias que são para eles inaceitáveis. 

Imersos esses críticos da fala do general, na ignorância dos que se ressentem, dá para imaginar como reagiriam se deparassem com a leitura do seguinte trecho literário: 
"(...)Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
– Ai! que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro,  dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus."

Preconceituoso? Racista? Como classificariam hoje, os arautos da nova ética sem moralidade, a obra prima de Mário de Andrade - "Macunaíma"? 

Sérgio Buarque de Holanda descrevia o individualismo ibérico baseado na noção de a nobreza advir do ócio e do trabalho ser atribuição dos escravos. Apontava para a ideia de que a disciplina, no Brasil, sempre foi confundida com "obediência". Vem daí a noção da "malandragem" ser atribuída aos que se passavam por disciplinados fingindo obediência. 

Com certeza, o grande historiador e pai de Chico Buarque, será doravante descrito como alguém desconectado das verdadeiras "Raízes do Brasil" - e, com certeza, sua  obra estará prestes a ser jogada na fogueira dos rotuladores politicamente corretos. 

Gilberto Freyre então... nem pensar! 

"Casa Grande e Senzala" e sua descrição antropológica das gerações de seres deformados pelas doenças venéreas e pela subnutrição, da violenta e poligâmica vida social dos isolados senhores de engenho, suas mulheres, feitor e escravos... seria motivo de editorial clamando por alguma atitude censória  do ministério público da moralidade alheia... 

De fato, Mourão revelou, no seu discurso, um entendimento posicionado, fruto de estudo, análise, aplicação e conclusão, consentâneo com sua formação social e intelectual - passível ou não de discordância como qualquer outro posicionamento que se tenha na vida. 

Assim, o que abalou o vulgo imbecilizante, não foi o pensamento conservador do General. Foi Mourão ter revelado cultura,  erudição, elaboração abstrata, conhecimento crítico e cultural, capacidade de apreender os valores e contextualizá-los na história.  

Essa qualidade, revelada pelo militar, atemoriza toda a geração de pós-doutores de teses rasas, habilitados por gerações de "obedientes" à ideologia da preguiça mental, que contaminou a academia, a  análise política e a mídia no Brasil.

Não tenho dúvida que Mourão atemoriza, também, a nata rasa dos neo eruditos da chamada nova direita - igualmente acomodados na  seara midiática da crítica óbvia à esquerda burra e, portanto, pouco acostumados ao verdadeiro debate. 

A nata do politicamente correto, tal qual a da incorreção reacionária,  teme vivamente a possibilidade dos pensamentos divergentes sobreviverem à fábrica de rótulos. Afinal, dita fábrica foi implantada para esmagar o pluralismo e o pensamento crítico no Brasil -  em especial o conservador. 

Assim, nada tinha ou tem de errado no discurso do General Mourão. 

O erro está na mente dos que há muito não mais raciocinam, no Brasil. 







Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista   e  consultor  ambiental.  Sócio  diretor  do escritório Pinheiro Pedro Advogados.    Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional,  membro  do  Instituto  dos Advogados Brasileiros  –  IAB.  Vice-Presidente  da  Associação Paulista  de   Imprensa  -  API,  é  Editor - Chefe do Portal     Ambiente    Legal,    do    Mural    Eletrônico DAZIBAO e  responsável pelo blog The  Eagle  View.







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