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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O "PRECONCEITO" DE WILLIAM WAACK, A IRONIA E A INDISCRIÇÃO POLITICAMENTE CORRETA

Quando a denúncia politicamente correta, revela incorreção maior que o fato denunciado


(foto-Reposti)




Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro



O jornalista Willian Waack, irritado com um buzinaço qualquer, resolveu fazer uma blague politicamente incorreta, cochichada ao interlocutor, antes de entrar no ar, no noticiário da Rede Globo de Televisão, em um noticiário gravado por ocasião das eleições nos EUA.

Nada ocorreria, a não ser o susto do interlocutor com a piada impertinente, se um canalha qualquer, atrás das câmaras, não tivesse gravado propositadamente a atitude do jornalista para, quem sabe, fazer uso em algum momento propício - que aliás surgiu agora.

A canalhice se revela pelo tempo e oportunidade da divulgação do que parece ser uma falta denunciável de imediato.

Antes de abordar a pilhéria racista inaudível e infeliz do jornalista, vale a pena anotar a atitude "big brother" da Rede de Televisão que, por falta do que fazer de positivo, agora trata de investir contra seus próprios profissionais.

De início, fica claro que a emissora foi aparelhada pelo que há de pior na esquerdinha nacional - aquela gente ordinária que se ocupa de destruir reputações - aliás, objeto de análises acuradas de vários jornalistas e autoridades atingidas por esse tipo de canalhice ideológica, aperfeiçoada no período lulopetista e, agora, disfarçada de "compliance".

Ao que tudo indica, a ética e a cordialidade na Rede Globo, escoaram pelo ralo. 

Sobrou a transparência imbecil dos maledicentes.

Sobrou o medo. Medo que deve afetar TODOS os profissionais que ali trabalham - que em tese podem ser flagrados, filmados e gravados fora do ar, até mesmo quando vão ao banheiro. Exclamação fora de contexto, nesse meio, pode virar crime. Pode destruir uma imagem construída em décadas de trabalho meritório.

Esse emergir da maledicência não é um fenômeno apenas nacional. Está hoje na essência da política norte americana, norte coreana, bolivariana, russa e até mesmo catalã. Os idiotas decididamente perderam a humildade - realizou-se o grande vaticínio de Nelson Rodrigues.

O problema é que essa idiotia destrói. Corrói lideranças, desestabiliza governos, causa danos e causa mortes. 

A idiotia, pela sua intrínseca contumélia, termina por degradar a justeza que lhe serve de pretexto. 

Pode resultar na perseguição leviana protagonizada por persecutores deslumbrados contra um reitor de universidade, até provocar-lhe o suicídio. Pode voltar-se contra quem mais fazia uso da arma da difamação, como o produtor de Hollywood que decretara a morte profissional de Mel Gibson - por "racismo" e, agora, amarga o opróbio por assédio sexual. Pode, por fim, provocar "spoiler" no personagem de "House of Cards", atingindo o ator protagonista, não o personagem...

Porém, o caso da Rede Globo revela algo próximo à ficção orweliana "1984", ou à distopia das redes sociais protagonizada por Ton Hanks, na obra cinematográfica "O Círculo". Nessas ficções, os poderosos penetram nas entranhas da intimidade das pessoas e as tornam reféns da SUA VERDADE.

O caso de Willian Waack serve de alerta a todos os que lidam com jornalismo, autoiludidos, ou não,  com o próprio protagonismo. 

FAUSTO, romance de Goethe, tornou-se uma parábola televisiva. O inferno pode estar na câmara indiscreta ligada ao lado, e o demônio pode ser uma pessoa jurídica.


piadinha infeliz, captada pela câmera, antes da gravação...


Quanto à piada racista - sobre o buzinaço ser uma manifestação atribuível a afrodescendentes... se observa no piadista aquela ironia típica de quem não perde a piada mas pode com ela perder o amigo. 

O susto do interlocutor, observado na gravação, dá o tom da surpresa pela atitude impensada do reporter piadista - susto que acometeu todos os fiéis espectadores do consagrado circunspecto e sempre sério jornalista. O velho caso da indiscrição que revela uma particularidade que diminui a imagem que se tem de determinado indivíduo.

A ironia da coisa está no preconceito racista protagonizado por quem ancestralmente, como judeu, sempre foi vitimizado por esse tipo de atitude...

Os judeus, no entanto, sempre combateram o sarcasmo em forma de piada, produzindo as melhores piadas sobre suas próprias idiossincrasias. Combateram o racismo mal humorado com a fina ironia do humor. Isso sempre foi a marca da inteligência judaica, aliás espalhada pela história da cultura ocidental e registrada até na bíblia...

Ademais, o humor se alimenta da incorreção. Ninguém gargalha da perfeição das coisas ou da correção moral dos outros, com exceção dos psicopatas.

O humor é politicamente incorreto. Não por outro motivo, ao cruzarmos com um prócer do politicamente correto ou militante da perfeição moral alheia...sempre enxergamos um infeliz.

Isso não justifica o racismo inserido no humor sarcástico, mas até mesmo nisso, há de se dar um desconto ao direito de rir...

Na verdade, diz o ensinamento cristão, todos nós guardamos nossas culpas. Todos pecamos...várias vezes, e rimos dos pecados alheios. 

Devemos evitar apedrejar outros, pelo que já praticamos. O fato do outro ser surpreendido no pecado, não nos autoriza esquecer dos nossos, não descobertos...

A infelicidade de Waack foi descobrir-se racista (ou descoberto), por conta de uma piada. Revelou-se no riso...

Porém (e sempre há um porém), antes que se erga a grita oportunista dos hipócritas que se alimentam do dissenso, importa esclarecer as armadilhas conceituais que envolvem o preconceito.

Há um verdadeiro samba do crioulo doido envolvendo todo esse debate sobre racismo. Um embolamento de generalidades e subjetividades que tornam até mesmo difícil implementar a lei.

O grande erro crasso, ocorrente nesse ambiente de ignorantes oficiais,  se resume no seguinte:

i - PRECONCEITO É SENTIMENTO;
ii- DISCRIMINAÇÃO É ATO;
iii- PRECONCEITO SÓ FERE A LEI QUANDO EXPRESSO EM ATO, PRATICADO CONTRA O DISCRIMINADO OU, EXPRESSO PUBLICAMENTE, INCITANDO OUTROS A PARTILHAREM DO SENTIMENTO.

Fora isso, atitude como a piadinha dita ao pé do ouvido...só depõe contra o sussurrador.

O resto...é oportunismo, inconveniência, indiscrição e especulação.







Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB.  É  Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.





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