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domingo, 5 de março de 2017

ESPETÁCULO DE PIGMEUS, PLATEIA DE BABÕES

O cenário político brasileiro é poluído por  falsos silogismos, simbioses sinistras e dilemas fabricados.







Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Lula e Bolsonaro não são dois lados da mesma moeda - fundam-se em valores diversos. Porém o padrão monetário é o mesmo: o populismo. 

O primeiro submerge enlameado pela corrupção, o segundo emerge do baixo-clero dos parlamentares, descolando o rótulo de folclórico saudosista da ditadura militar. Embora Bolsonaro assuma um papel de expoente da nova direita conservadora brasileira - é dissimuladamente um populista.  

Ambos alimentam-se mutuamente, numa simbiose sinistra,  típica do gênese populista. Cercados de bajuladores, polarizam um debate político obtuso entre esquerda e direita, reduzindo a inteligência do processo a um conjunto pobre de argumentos medíocres e proselitismos inúteis. Desmoralizam os reais conservadores, liberais, sociais democratas, e inovadores;  destroem lideranças, instituições, planos e sonhos e, com isso, impedem a renovação do quadro político brasileiro. 

Bolsonaro e Lula tomam todo o cenário político atual com ataques mútuos e, assim, polarizam os processos de escolha. Sobrevivem  fabricando falsos dilemas.

Na verdade, analfabetismo político,  indigência moral e intolerância são manifestações simbióticas. 

Os polos representados pelos dois personagens recorrem a discursos permeados de pretextos justos, visando manter as próprias tiranias ideológicas. Por conta disso, gente sensata pode, num ou noutro momento compreender ou mesmo se identificar com parte do que dizem. Mas não ficam para ver o todo. O todo, no núcleo duro dessas tiranias... pode ser o nada.

Ambos os polos despontam nas pesquisas de opinião. Mas, pesquisas de opinião, neste mundo de "não verdades", "fatos alternativos" e "fake news",  são como sinais de trânsito trocados. Objetivam confundir os incautos.

É nessa perspectiva que oportunistas descompromissados, como Dória ou Ciro Gomes, personagens tíbios, como Alckmin ou Marina Silva, ou peças do museu dos "mauricinhos", como Luciano Huck e sua contraparte politizada - Rodrigo Maia e similares... emergem da obscuridade para compor o quadro das especulações numéricas e estatísticas. Marina Silva, por exemplo - é um poço obscuro de omissões repleto de senões - uma parasita da causa ambiental que sempre ganha espaço nesse cenário pobre de referências como mero elemento decorativo - serve de estímulo para apostas em azarões...

Esse quadro pode amanhã se compor com novos personagens, quadros  diversos... mas, no momento em que se prestarem a postar-se "no meio" da polarização simbiótica - servirão de pasto para o  gado populista. 

O teatrinho das dicotomias simbióticas envolve comunistas enlameados, fascistas no armário, ignorantes de toda sorte, intelectocidas, liberticidas  e ecochatos a serviço de interesses internacionais.  Um circo de pulgas com sucesso garantido nos becos escuros dos guetos ideológicos.

O elenco farsesco inclui também minorias barulhentas, indivíduos marginais, políticos corruptos, mídia comprada, identitários sem identidade,  intolerantes a toda prova e intelligentsia idiota.

A razão nos guia em meio a esse  turbilhão de tubarões. E nessa hora vislumbramos o quanto somos poucos...

De fato, há alguma razão em se combater duramente o período tucano-lulopetista, cujo modelo esgotou a nação. Nisso haveria sentido para a ascensão bolsonarista. No entanto, não se vislumbra, nesse campo postado á direita, ainda, qualquer proposta consistente, política e econômica. Sobram, porém, bravatas midiáticas.

Na outra ponta, o esquerdismo "resgatado" na defesa do líder enlameado, Lula, representa o recalque da corrupção encetada com fervor revolucionário. A hipocrisia enterra com pá de cal qualquer chance de correção ao se constatar ali a  negação sistemática dos fatos; o rancor movendo a novilíngua, o duplipensar totalitário, o eterno ministério da verdade orwelliano, cobrindo rastros da mais desprezível corrupção.

Vitimização como discurso e ódio rancoroso como mote de militância, constituem ameaça corrosiva a qualquer estabilidade republicana.

Seria folclórica a polarização, porém, se ela não representasse risco institucional. Mas representa; e pode se perpetuar até gerar uma ruptura.  Os horizontes parecem sombrios para o regime democrático, podem desembocar numa tempestade se não surgirem novas lideranças que vejam o todo, não apenas as partes. 

Mas há um risco maior,  e o núcleo deste risco  não está nos partidários radicais de cada ícone e, sim, em quem, de longe, aguarda que a nuvem advinda da confusão dissimule a manutenção do dreno, que suga todas as energias e recursos da Nação. 

Esse risco  é representado por  quem financia o meio, financia a bravata ecologista, financia os projetos que não saem do papel, acolhe os corruptos, perverte a justiça e protege  o dinheiro. Quem apoia a mesmice e os de sempre: o establishment.  

O establishment é a camada lamacenta que mistura "massa crítica" com os estamentos que comandam o país -  formada pelos  bancos, a grande mídia, o deep state, as corporações jusburocráticas e os especuladores.

O establishment costuma financiar a fauna que surge como "solução" para tudo continuar exatamente como está. Já o fez no passado - e com isso manipula resultados ao sabor das especulações de ocasião.

O patrocínio financeiro tem fundamento. Piratas rentistas ganham com a lavagem do dinheiro sujo do sangue, da corrupção e da miséria produzida pelos populismos de esquerda e de direita. Também ganham com os empréstimos-jumbo, necessários para a "reconstrução nacional" após a passagem desses flagelos pelos governos. 

Como dizia Millôr Fernandes, os bancos não perdem por esperar - aliás ganham, e com juros... 

Financiado pelos parasitas do dinheiro alheio, o teatro das polarizações fabricadas fragiliza a unidade nacional e polui o cenário político com silogismos de premissas falsas, simbioses sinistras e dilemas fabricados. O grande capital pretende ferver as bordas da panela politica para insuflar o velho e útil "centrão" - a eterna opção "viável", fermentado pelo dinheiro sujo do rentismo que massacra o povo brasileiro.

Na ponta da panela, formando o cabo, a podre jusburocracia, o recorte decomposto do "estado profundo", cuja certeza de permanência é tão firme quanto a alternância "dirigida" no poder dos mandatários eleitos.

Os dois polos  mobilizam o establishment e manipulam a falsa moeda da polarização esquerda-direita.

Mas se a cara da direita ascende moralmente,  sobre os escombros da carcomida "Nova República", a coroa da esquerda bóia na lama. Embora  embale as pesquisas, essa coroa não mais representa o Brasil.

O Brasil é maior, mais complexo, interessante e diverso. Não cabe  nesse espetáculo de pigmeus montado para uma plateia de babões.

O jogo do falso dilema, portanto, é como um nó górdio. Não deve ser desembaraçado e sim cortado ao meio,  pela espada da soberania.  

O tempo dirá. Ele não segue prazos processuais, populismos, ideologismos, nem calendário eleitoral. Ele apenas escreve a história, marcando a sucessão dos fatos.

A marcha dos acontecimentos dirá...







Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP) e jornalista. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, das Comissões de Política Criminal e de Infraestrutura da OAB/SP. É membro do Conselho da União Brasileira de Advocacia Ambiental, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.





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2 comentários:

  1. Ainda bem que isso foi escrito em 2017. Pois muita água correu por baixo da ponte de lá pra cá. A perseguição ao Presidente por todo esquema político e corrupto que assumiu o poder a partir de 1985. E Que continua diariamente tentando derrubar o Presidente Bolsonaro. Vai ser difícil fazer a limpeza ética no país. E do jeito que as coisas vão as FFAA terem que por Ordem na Casa. Infelizmente.

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  2. Texto incrivelmente atual ainda hoje, 06/07/2021.

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