Vitória de João Dória tem espectro nacional e está ligada a interesses irmanados, da sociedade e do grande capital
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| João Dória: a nova cara do velho grande capital... eleita democraticamente por uma sociedade cansada de discursos... |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Dória foi eleito prefeito de São Paulo. Afirmou que será um gestor. Negou ser político. Jurou permanecer à frente da administração sem interesse eleitoral algum e deixou claro que administrará a cidade como um CEO de empresa, não como um gerente da administração municipal.
Na maior cidade da América do Sul, portanto, a política morreu.
Na maior cidade da América do Sul, portanto, a política morreu.
A política foi jogada pela janela, defenestrada por uma horda enfurecida de empregados e serviçais de baixo escalão, prestadores de serviço, comerciantes, profissionais liberais, empresários , rentistas e cidadãos abastados - a fauna que forma a geleia social da metrópole.
Não foi uma eleição, foi uma demissão em massa de políticos que loteavam uma burocracia da qual se serviam como comensais gulosos na sala de jantar, com guardanapos no colo, babadores no peito e talheres na mão.
Foi uma rejeição ao próprio sistema de eleição. O número de pessoas que não votaram em nenhum candidato à prefeitura de São Paulo, superou o total de votos obtido pelo candidato vitorioso. João Dória, tucano de carteirinha, foi eleito no primeiro turno dividindo a pizza com a rejeição à política. Os votos em branco, nulos e as abstenções (eleitores que não compareceram à votação), somaram 3.096.304. Dória obteve um total de 3.085.187 votos.
Fora com a política?
Foi uma rejeição ao próprio sistema de eleição. O número de pessoas que não votaram em nenhum candidato à prefeitura de São Paulo, superou o total de votos obtido pelo candidato vitorioso. João Dória, tucano de carteirinha, foi eleito no primeiro turno dividindo a pizza com a rejeição à política. Os votos em branco, nulos e as abstenções (eleitores que não compareceram à votação), somaram 3.096.304. Dória obteve um total de 3.085.187 votos.
Fora com a política?
Paradoxalmente, se a política saiu, o establishment permaneceu dominando a economia da cidade. De fato, um poder econômico "repaginado" - resolvido a tomar pé da situação, arrombou a porta da frente da prefeitura paulistana, indicando à grande e decadente mídia que lhe presta serviços, o caminho da cozinha do Edifício Matarazzo. E ali ela está se instalando, esgueirando-se pela entrada dos fundos.
A política foi enxotada nas urnas por todos os moradores - empregados e empregadores, do centro à periferia. Porém, os grandes patrocinadores, permaneceram exatamente onde estavam... com Dória.
A política morreu enfraquecida pela corrupção e pela desmoralização, por conta dos ataques pessoais, baixos, voltados a interesses mesquinhos. Morreu com a irritação causada pelos discursos autoritários, racialistas, segregadores, duplamente preconceituosos, plenos de rancor social e sexistas. Definhou esmagada pelas demonstrações transviadas de performáticos determinados a agredir o cidadão de bem, afogada em meio a hordas de militantes periféricos, adeptos da bandidolatria, atropelada por "ciclofaixistas" raivosos, vestidos com malhas de teletubies.
A política desapareceu, também, nas brumas da insensibilidade do poste petista para com a população mais carente, cuja réstia de dignidade terminou esmagada pela mais soberba e ineficaz burocracia havida na história da cidade.
Após experimentar o desastre do pior alcaide de sua história, a sociedade paulistana elegeu prioridades - afastar o PT do governo foi uma delas. Para tanto uniu interesses com o demônio: o grande capital, que financiara tucanos e petistas.
Em São Paulo, portanto, mudaram os atores. Porém, os patrocinadores permanecem.
A política desapareceu, também, nas brumas da insensibilidade do poste petista para com a população mais carente, cuja réstia de dignidade terminou esmagada pela mais soberba e ineficaz burocracia havida na história da cidade.
Após experimentar o desastre do pior alcaide de sua história, a sociedade paulistana elegeu prioridades - afastar o PT do governo foi uma delas. Para tanto uniu interesses com o demônio: o grande capital, que financiara tucanos e petistas.
Em São Paulo, portanto, mudaram os atores. Porém, os patrocinadores permanecem.
A política substituída pelo marketing
A destruição foi implacável, mas com método. Atingiu lideranças novas, velhas, em ascensão e em decadência. Todos vitimados pela determinação do poder econômico em não permitir que, na morte da política, qualquer um com idéias próprias ascendesse ao executivo paulistano...
Somente os subservientes restaram, e por uma clara razão econômica.
Tudo transcorreu democraticamente. Ascendeu o mais previsível para o capital instalado na Cidade, e por vontade da sociedade.
Somente os subservientes restaram, e por uma clara razão econômica.
Tudo transcorreu democraticamente. Ascendeu o mais previsível para o capital instalado na Cidade, e por vontade da sociedade.
Contradição aparente: as urnas destituíram do poder um "poste" acadêmico, burocrático e medíocre, instituído nos piores moldes esquerdistas. No entanto, elegeram o que parece ser uma massinha de modelar apolítica, moldada pelo governador do estado.
O novo "gestor", no entanto, é um político com histórico carreirista na área de turismo e eventos, no próprio município e no governo federal, nos primórdios da Nova República. Detentor de uma ambição sem qualquer freio ou pudor, tratora quem lhe cruza o caminho no melhor estilo anarco-capitalista. Parece ser um espelho ideal da casta rentista - salva pelo gongo por conta do acaso estratégico e, portanto, a maior beneficiada pela transição - que lhe deu sobrevida. Como em uma destruição criativa na brincadeira de toquinhos, a política paulista se destrói... e se reconstrói pelas mesmas mãos invisíveis do mercado imobiliário e especulador.
No poço profundo do desastre econômico do governo Dilma, a política partidária foi absolutamente desprezada pelo poder econômico, o senhor dos rumos da sociedade paulistana. A ideia é substituí-la por uma nova política empresarial.
A mudança, por óbvio, não foi entendida e acompanhada a tempo pelos líderes partidários e candidatos oriundos da atividade parlamentar- e esse detalhe representou a morte deles.
O planejamento e a organização da campanha do vitorioso candidato do PSDB não seguiu qualquer preceito partidário. A grande vitória de João Dória se deve a um marketing profissional, competente, e a um gerenciamento de projeto traçado no mais puro molde empresarial.
Para os organizadores da campanha vitoriosa, a eleição se constituiu em um meticuloso projeto de marketing, com definição de cenário, escopo e prazo bem definidos, gerenciado por uma equipe de especialistas com experiência em gerenciamento de projetos a partir de metódica pesquisa qualitativa.
Esse sistema profissional substituiu um programa de governo que seria pensado pelo organismo partidário. O programa do candidato foi um produto clean, auferido a partir de pesquisas qualitativas de mercado, visando encaixar cada fala, cada vírgula, cada postura, nos padrões demandados por um público insatisfeito com o que já estava consumindo.
A escala digital ensaiada na campanha atropelou até mesmo quem tinha todos os cacoetes das redes de comunicação de rádio e televisão. Celso Russomanno, um consagrado e sério consumerista, e assim reconhecido pelo eleitorado, com grande audiência televisiva, não se apercebeu que estava disputando a liderança do processo eleitoral com um produto estruturado para o público consumidor "cansado" da política. Terminou esmagado pelo poderio econômico da campanha de marketing adversária e, também, pela máquina de difamação estruturada pela grande mídia do establishment, programada para denegri-lo sistematicamente.
Há uma revolução em marcha. Carreatas, comícios, passeios pelas áreas comerciais da cidade, slogans e palavras de ordem, configuraram técnica antiga que, embora constituam prática democrática que jamais deva ser descartada, de há muito perderam espaço para o big data, para as redes sociais, para o sistema de buscas manipulado pelo marketing digital.
Mas o pugilato explícito nas redes sociais ainda não se instalou desta vez. Ganhou o puro marketing, a proposta gerencial apolítica, o anti-debate, a ação anti-partidária e a miragem de um planejamento empresarial só existente em programas de reality show...
São Paulo poderá se tornar o grande laboratório da privatização da administração pública... ou regredir ao clientelismo chic da Velha República...
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| O jantar continuará o mesmo - só muda o cardápio... |
Sai a canalhice, permanecem os patrocinadores canalhas
João Dória teve méritos e, mais que ele, seu padrinho, o Governador Geraldo Alckmin.
No entanto, ambos os líderes enfrentarão o lado negro das mesmas forças que os ajudaram a ascender.
No entanto, ambos os líderes enfrentarão o lado negro das mesmas forças que os ajudaram a ascender.
Explico:
A política morreu na cidade por conta da canalhice, sinônimo da política brasileira contemporânea.
A canalhice tem patrocinador: a casta seleta de rentistas e seus satélites subalternos, que cartelizam a economia brasileira e concentram absurdamente as rendas nacionais. Gente que não perde por esperar - aliás ganha... juros estratosféricos auferidos por mês.
Os rentistas da nação sempre foram patrocinadores de candidaturas que pregam mudanças para nada mudar. Estão no topo da cadeia alimentar do establishment tupiniquim-mundialista.
A impressionante concentração de renda não deixa margem a dúvidas sobre o objetivo precípuo desta substituição periódica de camadas políticas por sobre a mesma canalhice sócio-econômica.
Consolidado o regime democrático, os rentistas se reorganizaram. Adaptaram suas práticas aos novos padrões globalizados e escolheram seus novos peões no tabuleiro da política nacional. Nesse tabuleiro instituíram a modernização do sistema econômico nacional. Promoveram a desestatização de grande parte da infraestrutura e consolidaram novos padrões de cidadania. Não porque quisessem, mas porque o cenário internacional exigiu. Para tanto, acertaram nova distribuição de benesses com os quadros no poder.
No quadro histórico das canalhices nacionais, a "privataria tucana" segmentou a distribuição das benesses rentistas na gestão da coisa pública em benefício da concentração de renda, enquanto a estatolatria petista transferiu grande parte das rendas nacionais para a corrupção, generalizando a bandidagem do pior tipo na administração pública.
De fato, com a Administração Pública feudalizada, os rentistas encheram as burras de dinheiro. Ganharam dinheiro com a corrupção nacional desenfreada, de uma forma e de outra. Porém, afundaram o país.
Com o PT, a burocracia canalha ascendeu ao Poder e esmagou a política. Os rentistas sentiram o peso desta burocracia... Porém, ficaram apavorados com a força da mobilização popular independente, ocorrida nas ruas das cidades brasileiras em 2013. Essa força popular se fez presente na campanha pelo impeachment em 2015 e no apoio ao combate à corrupção.
Sentiu o establishment, também, o golpe representado pelo desengajamento da população em relação às eleições, com o crescente aumento de abstenções, votos nulos e brancos. nas últimas eleições, incluso a que ora analisamos. O fato, mostrou uma redução drástica das paixões políticas na proporção inversa da radicalização emocional das hipocrisias ideológicas (incluso a apolítica).
Sentiu o establishment, também, o golpe representado pelo desengajamento da população em relação às eleições, com o crescente aumento de abstenções, votos nulos e brancos. nas últimas eleições, incluso a que ora analisamos. O fato, mostrou uma redução drástica das paixões políticas na proporção inversa da radicalização emocional das hipocrisias ideológicas (incluso a apolítica).
Surgiu a necessidade natural, portanto, de finalizar a política corrupta que serviu à casta econômica até então.
É nesse quadro que se pode entender a mobilização de bons estratos de profissionais de carreiras jurídicas de Estado visando iniciar o processo de higienização dos quadros políticos e sua renovação.
É nesse quadro que se pode entender a mobilização de bons estratos de profissionais de carreiras jurídicas de Estado visando iniciar o processo de higienização dos quadros políticos e sua renovação.
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| Plano privatista iniciado com o tucanato é restaurado, mas em moldes alckmistas |
Os novos instrumentos: a jusburocracia e os gestores despolitizados
A expansão teratológica das carreiras de estado permitiu a consolidação de profissões de jurídicas - ilhas de excelência que mantiveram elementos aparentemente imunes à deterioração moral da máquina pública. Eles formam a jusburocracia que está permitindo passar a limpo o Brasil.
As operações anti-corrupção, no entanto, ainda constituem exceções que confirmam a regra da corrupção dominante. Muito ainda deverá ser feito para que a limpeza vingue antes que o crime organizado contamine toda a máquina burocrática no Brasil.
Porém, nem tudo são rosas. As carreiras jurídicas de Estado formam também uma casta reativa, que constrói muralhas normativas e interpretativas quase intransponíveis, visando garantir privilégios e, também, um sistema de meta-controle administrativo que termina paralisando a base de investimentos nacionais.
Assim, o grande desafio da nova política patrocinada pelos velhos rentistas será, primeiro, limpar o cenário político e, depois, desmobilizar a casta jusburocrática, permitindo o fluxo oxigenado dos investimentos e da circulação de riquezas.
Para tanto, os rentistas estão investindo nas novas lideranças "apolíticas", tecnocrático-empresariais, privatistas, que deverão reestruturar a política, reduzindo o papel das burocracias e restaurando a iniciativa privada como suporte às atividades públicas.
Há, pode-se dizer, uma "retomada" do projeto privatista tucano, dos anos 90, porém em outros moldes. Essa a razão econômica da mudança, no que contam os líderes engajados e seus patrocinadores com o apoio democrático da sociedade paulistana - que precisa se livrar do que aí está com rapidez e, portanto, assumiu uma aliança consciente com o lado negro da economia.
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| Democracia reforçada pelo voto popular - porém monitorada de perto pelos bancos |
E assim segue a nave da República democrática
A democracia pressupõe regras estáveis que garantem o pluralismo e permitem acesso às estruturas de poder por meio do sufrágio universal, livre e periódico. A democracia depende da livre iniciativa, da geração meritocrática de riquezas, do povo consciente, bem informado e organizado, que exerça efetivo controle das instituições.
Esse controle necessita ser alimentado pela garantia de acesso livre à informação. Pela liberdade de imprensa e pelo acesso universalizado à mídia.
Explicado está, portanto, o porquê da preferência do governador Geraldo Alckmin, de substituir o trabalho de base das lideranças do partido, pela atividade empresarial dos socialites paulistanos. Desprezou quadros partidários que haviam se habilitado ao pleito para confiar no marketing eleitoral planejado, vip", de um candidato com nenhum histórico eleitoral.
O porquê do empresário e "entertainer corporativo" João Dória assumir o papel de candidato, correndo o risco de um desgaste pessoal, também está explicado. É mesmo possível traçar um paralelo entre a campanha tucana em São Paulo e a de Donald Trump, republicana, nos EUA.
Ambos encarnam a morte da política, e a substituição das lideranças ideológicas pelos yuppies de ontem, e os dandies de hoje. Porém, Trump é um negociador de peso. Dória, é um entertainer leve.
Se o tucanato ficou tempo demais no governo do estado de São Paulo e não compreendeu a dinâmica social da capital bandeirante, alguns setores do governo, ligados ao governador Geraldo Alckmin compreenderam a dinâmica do processo e, de fato, saíram vitoriosos.
Alckmin vislumbrou uma nova plataforma em sua trajetória rumo ao palácio do planalto. No entanto, aliou-se a um novo líder que parece vê-lo também como um grande trampolim. Geralmente, nessa perspectiva, criador e criatura têm hora marcada para travarem uma luta pelo mesmo espaço vital.
O mais grave é que ambos, não trazem consigo qualquer segunda liderança - não prepararam sucessores, seguem com vices que não estão à altura das tarefas que eventualmente deverão cumprir. Tenderão a deixar atrás de si terras arrasadas - para frustração dos paulistanos, dos paulistas e, também, dos próprios rentistas.
Enquanto isso, prevaleceu o desinteresse do cidadão pela política. Sua ausência, em um mundo de obrigações para com o voto, forma um forte e preocupante protesto contra tudo o que aí está. Haverá, doravante, um monitoramento bancário desse processo. A economia do grande capital não suportará mais solavancos... e nem a sociedade.
Alckmin vislumbrou uma nova plataforma em sua trajetória rumo ao palácio do planalto. No entanto, aliou-se a um novo líder que parece vê-lo também como um grande trampolim. Geralmente, nessa perspectiva, criador e criatura têm hora marcada para travarem uma luta pelo mesmo espaço vital.
O mais grave é que ambos, não trazem consigo qualquer segunda liderança - não prepararam sucessores, seguem com vices que não estão à altura das tarefas que eventualmente deverão cumprir. Tenderão a deixar atrás de si terras arrasadas - para frustração dos paulistanos, dos paulistas e, também, dos próprios rentistas.
Enquanto isso, prevaleceu o desinteresse do cidadão pela política. Sua ausência, em um mundo de obrigações para com o voto, forma um forte e preocupante protesto contra tudo o que aí está. Haverá, doravante, um monitoramento bancário desse processo. A economia do grande capital não suportará mais solavancos... e nem a sociedade.
O próximo alvo dessa reforma será a Presidência da República.
Vamos aguardar os próximos capítulos.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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