Páginas

terça-feira, 5 de abril de 2016

AFRICANAS NÃO MAIS CARREGAM ÁGUA, ROLAM…

Uma idéia simples, sem alterar a cultura e padrões locais, está multiplicando o abastecimento de água na África


Mulheres senegalesas transportam água por meio dos tambores rolantes (Roller Water Project)


Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


A roda, ao lado da descoberta da fricção para fazer o fogo, constitui a principal invenção na trajetória de desenvolvimento tecnológico do ser humano. Com ela, os povos primitivos conquistaram a mobilidade e puderam transportar cargas e pessoas. Isso revolucionou a economia.

A prova mais antiga do uso da roda data de cerca de 3500 a.C., e vem de um esboço em uma placa de argila encontrada na região da antiga Suméria, na Mesopotâmia (atual Iraque). Ali se encontra o conceito do eixo, ligado a um suporte, fixado no centro da roda.

Pois bem, passados 5.500 anos, eis que o conceito básico é revisitado, para permitir que a própria roda role… água.


O Transporte da Água como fator de exclusão social


Já tivemos a oportunidade de analisar, em outras matérias e artigos, que  a falta d’água nas regiões mais quentes e pobres do planeta é agravada pela ausência de mobilidade no abastecimento.

Nas regiões rurais, de difícil acesso a rios, fontes e lagos, a dessedentação  se traduz em andar até o rio,  fonte, cacimba ou açude mais próximo, encher algumas vasilhas e… carregar na cabeça, ombros ou no lombo do animal de carga.

Caminhões-tanque ou carroças, significam a alternativa econômica mais cara… o que dificulta ainda mais a vida da população miserável destes locais.

hippo water
mães africanas “rolando” água…
Essa circunstância acompanha o ser humano desde tempos imemoriais e, com todo o avanço tecnológico, persiste em  absolutamente todos os cantos do planeta, em especial onde a segregação social é mais aguda.

O transporte de água, que já é um sacrifício ao qual submetem-se populações inteiras, torna-se um fardo pesado demais principalmente para mulheres e crianças que se encarregam de suprir o abastecimento de suas casas.

Aliás, na cultura dos rincões de miséria no mundo, cumpre às mulheres e crianças o transporte das vasilhas de água para abastecimento doméstico.


A Roda de D’Água africana


Gente carregando latas e vasilhas, com custo, podem ser observadas em favelas urbanas, regiões conflagradas, no oridente médio, nas américas, na Ásia e na África…

Na África?

Não mais, em parte considerável do continente.

A África está assistindo a uma revolução na mobilidade do abastecimento de água, que está mudando o cenário do continente.

Observando a situação das mulheres e crianças, nas regiões africanas, dois engenheiros sul-africanos, Pettie Petzer e Johan Jonker, bolaram um jeito simples e prático para facilitar a tarefa nada simples, e nada prática, de transportar água, enfrentada por milhares de pessoas.

Eles criaram o Hippo Roller Water, um tipo de barril que rola sobre o chão conectado a um eixo. A invenção permite substituir os baldes e vasilhas no transporte da água, com grande vantagem.

Desenvolvido na década de 90, o projeto assumiu escala industrial recentemente.

Desde então, tem provocado grandes impactos sociais  na África do Sul e em 20 outros países.  De fato, já foram distribuídos aproximadamente 46 mil barris (dados coletados até setembro de 2015).

População de São Luís do Maranhão - carregando água...


O projeto,  muito simples, de baixo custo, permite armazenar 90 litros de água: volume praticamente impossível de ser transportado em um baldes na cabeça, ainda que utilizando toda uma família no transporte tradicional.  Armazenada a água no tambor rolante, seu deslocamento por ação mecânica do indivíduo é absolutamente simples e prático.

Ainda existem versões equipadas com um filtro, que tornam a água apropriada para o consumo.

Segundo dados apresentados pelos engenheiros que idealizaram o Hippo Roller Water, o sistema já  beneficiou até o momento 300 mil pessoas (considerando uma média de 7 pessoas por família africana).


O que falta para vir ao Brasil?


O projeto, atualmente,  é estruturado em um crowdfunding  (quando várias pessoas se identificam com um projeto e resolvem apoiá-lo financeiramente para que ele se realize). Doações podem ser feitas através do site Hippo Roller Water Project .

No entanto, o seu potencial é revolucionário, inclusive para o Brasil!

lata d’água na cabeça em Buriti Bravo – Sertão Nordestino (tal como há milênios…)


O setor público de abastecimento deveria se debruçar sobre a invenção africana e, então, importá-la, implementar adaptações e promover uma distribuição em áreas onde a falta de água leva milhares de pessoas a penar no transporte manual de água…

Projetos mirabolantes, que, convenhamos, só têm servido para turbinar corrupção e conflitos judiciais, não têm o condão de provocar tamanha revolução que o simples rolar da água em tambores, por quem não consegue armazenar em quantidade suficiente e, justamente, é condenado a transportar pequenos baldes por quilômetros, Brasil afora.

O volume de arrocho e servidão por conta da apropriação da água só não é pior que a política de favorecimento, exploração desmedida e lucro ilícito provocada pelo transporte público/particular de água em caminhões-tanque ou mesmo carroças, para serem VENDIDAS à população carente, impossibilitada de transportar por si só quantidade suficiente do recurso.

Uma distribuição de tambores rolantes, por si só, implicaria em uma enorme diferença.

Fica a ideia e a sugestão.

Com a palavra, o governo.


Fonte:

http://razoesparaacreditar.com/design/invencao-que-esta-ajudando-milhares-de-familias-transportarem-agua-na-africa-do-sul/


http://www.ambientelegal.com.br/africanas-nao-mais-carregam-agua-rolam/#sthash.w9z5uqvR.dpuf





Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.




.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja membro do Blog!. Seus comentários e críticas são importantes. Diga quem é você e, se puder, registre seu e-mail. Termos ofensivos e agressões não serão admitidos. Obrigado.