A "Diplomacia do Termostato" do Acordo de Paris não resolve o problema crucial da mudança do clima no planeta
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| Acordo-Termostato de Paris é uma ficção muito cara para um problema crucial |
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Com muito oba-oba a "Diplomacia do Termostato" é instituída pelo Acordo de Paris, na COP 21.
No já conhecido karaokê climático - em que chefes de estado se revezam na mesmice das frases feitas, o "Bolsa-Clima" do Acordo de Paris na COP 21 ainda não disse a que veio... e nem dirá.
No já conhecido karaokê climático - em que chefes de estado se revezam na mesmice das frases feitas, o "Bolsa-Clima" do Acordo de Paris na COP 21 ainda não disse a que veio... e nem dirá.
OBA-OBA CLIMÁTICO
“O Acordo de paris é um triunfo monumental para as pessoas e nosso planeta.” disse Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, ao final de uma conferência pontuada por oba-obas, delegações quilométricas, ações performáticas, antecipação do desfile de autoridades e transferência das decisões para o segundo escalão dos governos nacionais.
Ao fim e ao cabo, os pontos principais do acordo firmado na COP 21, no final de 2015, em Paris, incluem:
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| Manifestantes em Paris, na COP 21 |
1. Iniciar a redução de emissões de gases de efeito estufa tão cedo quanto possível e atingir o equilíbrio entre emissões e absorções na segunda metade deste século;
2. Manter o aumento da temperatura global “bem abaixo” de 2°C e perseguir esforços para limitá-lo em 1,5°C;
3. Revisar o progresso a cada 5 anos;
4. Alocar US$ 100 bilhões por ano em financiamentos para o clima em países em desenvolvimento, com o compromisso de maiores financiamentos no futuro.
Com todo o respeito à alegria de Ban Ki-moon, com exceção da promessa de cem bilhões de dólares anuais a partir de 2020 - uma espécie de "bolsa-clima" bilionária, o acordo é algo similar a apertar o termostato em direção a um ar condicionado ilusório e, com isso, pretender regular a temperatura atmosférica do planeta...
A base do acordo passa pela compreensão do Relatório Stern. Economista da Coroa Britânica e renomado globalista - defensor incondicional das medidas de mitigação antrópicas, as quais causam deseconomia imediata e à médio prazo... visando melhorias atmosféricas a longo prazo, absolutamente impossíveis de mensurar.
Assim, o aumento da temperatura média global da superfície do planeta resulta após décadas da emissão de gases pelas atividades humanas ( segundo estimativas, vinte anos no caso do metano e cinquenta anos no caso do gás carbônico e do óxido nitroso). Essa premissa, adotada como "consenso", demanda que a atual geração assuma os prejuízos agora, para mitigar os custos futuros.
O raciocínio assume que a deseconomia gerada será hipoteticamente menor que o custo dos danos futuros. Este silogismo maneja todo o tratado, para assumir a mitigação como prioridade econômica.
Assim, segundo esse raciocínio, se o custo de evitar emissões é um sacrifício "menor" no presente, que os danos futuros, seria justificável encetar desde já um custoso processo de "descarbonização" energética da economia, impondo uma agenda de redução de emissões e restrição progressiva de atividades econômicas "carbonizantes", bem como de proibição progressiva de extração de combustíveis fósseis - processo esse que seguiria uma agenda regulada por um termostato com variação média de dois graus no Planeta...
Tudo aponta, assim, para uma perda monumental de energia, tempo e dinheiro ou, pior: um novo sistema tributário globalizado que poderá punir países exportadores de commodities ou sedes de indústrias mecânicas, privilegiando China e Europa e desmontando o parque de montadoras dos Estados Unidos - hoje polos tecnológicos e de serviços financeiros digitalizados.
De fato, é cediço que a Europa teme, com toda a histeria eurocêntrica, depender dos combustíveis fósseis provindos da Rússia, Irã, Angola, Venezuela e Brasil - sucessores do veio saudita, prestes a esgotar-se nas próximas décadas. Isso porque a exploração nestes países "desequilibraria" o balanço energético e empoderaria as antigas "colônias", fora o grande "urso euro-asiático".
Assim, um avanço descarbonizado do sistema energético, manteria o poder de ditar as regras em mãos europeias e de globalistas norte-americanos, admitindo-sem o "desconforto" de dividir cenários com China, Coreia e Japão - potências desprovidas igualmente de petróleo.
Da mesma forma, a alteração de hábitos alimentares eliminaria a dependência das massas populares desses países "centrais", dos países fornecedores de proteína animal e vegetal em larga escala - leia-se: o Brasil...
A geopolítica, portanto, dita explícitamente o "consenso" científico de Paris.
Em meio a tudo isso, desafortunadamente, os esforços de previsão, prevenção, contingenciamento e mobilização da defesa civil e da engenharia... permanecem perigosamente em segundo plano.
DIPLOMACIA DO TERMOSTATO
Ao invés de assumir ações conjuntas de prevenção, adaptação e resiliência face aos fenômenos climáticos - e buscar incentivar a modernização dos parques industriais para reduzir emissões globais de Gases de Efeito Estufa - evitando deseconomias, as Nações Unidas decidiram regular a temperatura do planeta.
Para tanto, criaram um "ar condicionado de papel" - um termostato em forma de protocolo, visando a limitação da temperatura do planeta a níveis ideais de conforto humano.
A pergunta é: irá funcionar?
Deus, a Terra, o Sol, o Cosmos também assinaram o acordo de Paris? Não.
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| O icônico termostato Honeywell - no Museu Smithsoniano |
Tirante os interesses geopolíticos já aventados, é fato que o Acordo de Paris resume-se a um Termostato de Papel.
Esse "termostato" só não terá destino similar ao documento de Copenhagen, por conta do compromisso global de se passar um cheque de 100 bilhões de dólares, anualmente, aos países fragilizados pelo aquecimento global.
O aceno financeiro, porém, como toda dissimulação diplomática, pretende extrair compromissos duros... "com carência de cinco anos e sujeitos a compromissos voluntários dos países, metas e programas periodicamente revisados"... etc... etc... etc.
Só não foi um acordo "para inglês ver", por ter justamente uma forte participação britânica na sua confecção, embora o sotaque seja francês.
O acordo conta, confortavelmente, com as circunstâncias ocorrentes na economia global, que não passaram desapercebidas pelos líderes mundiais. Nesse ponto, a festa - incluso a auto ilusão de grandeza na participação brasileira, escondeu o puro oportunismo contido no consenso, senão vejamos:
EPPUR SI MUOVE
Diz a lenda que o gênio politalentoso italiano Galileu Galilei murmurou esta frase depois de ter sido obrigado a renegar, em 1633, diante da Inquisição, sua crença de que a Terra se movia em torno do Sol.
À época, o "consenso científico" era ditado pela igreja (que então concentrava os estudiosos), e a "heresia" de negar o consenso era punida com a fogueira. Galileu foi então acusado de ser "negacionista"...
Séculos depois, a postura inquisidora contra os "negacionistas" serve de anteparo à saravaida de questionamentos científicos corajosamente disparados contra o que parece ser um forte silogismo com premissas frágeis - de se poder "controlar" a temperatura do planeta com medidas unilaterais de mitigação humana - com profundos reflexos na performance da economia mundial... sem garantia nenhuma que o propósito vingará.
De fato, não devo ter sido o único a imitar o gesto de Galileu, diante do anúncio feérico do Acordo de Paris - pois o cosmos e a economia, de fato, já conspiravam para a redução de emissões e estabilização, pelo menos temporária, da temperatura do planeta.
A atividade solar, que chegou a assustar nos três últimos anos terráqueos - segundo vários estudos astronômicos, parece ter declinado. Ao que tudo indica, diz o "consenso científico", não deverá aumentar por pelo menos quarenta anos (isso... é o que imaginam alguns astrofísicos).
Isso significa que nossos invernos tornarão a ficar mais frios, e o gelo do Ártico estará se fechando novamente - nos próximos anos.
Porém, a começar da ressaca cíclica de 11 anos, se houver um novo evento explosivo solar, os eventos extremos de clima interferirão em todas as previsões e os esforços unilaterais de mitigação poderão agravar economias e prejudicar as necessárias e permanentes medidas de PREVENÇÃO, ADAPTAÇÃO e RESILIÊNCIA.
Em meu artigo sobre "Mudanças Climáticas de Biquini"* tive oportunidade de falar sobre a questão. Na verdade, a variabilidade cíclica do clima do planeta, em que pese a contribuição humana, segue parâmetros próprios que nenhum termostato humano conseguiria modular.
Esse fato não desobriga países de controlarem as emissões de poluentes, no interesse da saúde pública, dos próprios microclimas e ecossistemas.
Esse fato não desobriga países de controlarem as emissões de poluentes, no interesse da saúde pública, dos próprios microclimas e ecossistemas.
Por outro lado, as emissões globais antrópicas de dióxido de carbono, após crescerem vertiginosamente, parecem estar sofrendo uma leve redução. Pesquisadores ingleses dizem ser a primeira vez que isso pode ocorrer ao mesmo tempo em que a economia global cresce. Nesse sentido, a tecnologia e a transição para novas fontes são essenciais.
Mas o comportamento solar guarda um universo de descobertas ainda por ocorrerem no campo científico.
Por óbvio que os planetas reagem ao sol, aos ventos solares, à ionização e às emissões de gigantescas massas de plasma, e o fazem com erupções, gases e gelo.
A terra costuma entrar "em transe" nos períodos de explosão solar... e a comunidade científica se divide entre os que observam os efeitos eletromagnéticos e os que vêem transformações catastróficas desde as placas tectônicas até os fenômenos climáticos extremos.
No caso da Terra, o efeito estufa - se permite ocorrências desastrosas, também é o grande fator de sobrevivência planetária - embora já tenha ocorrido glaciação. E com o efeito estufa, se amplia a vida e o desempenho de nossas florestas e agricultura tropical.
Em verdade, efeitos-estufa já precederam glaciações no passado... e parece ser esse o caso agora.
Por sua vez, a tecnologia - por conta dos programas de controle de poluição atmosférica desenvolvidos há décadas, está reduzindo mais as emissões de poluentes que que as próprias obrigações decididas no protocolo do clima. Em verdade, o grande desafio permanece sendo o controle da poluição nos microclimas, o saneamento básico, a contaminação do solo e a perda da qualidade dos recursos hídricos.
"É A ECONOMIA, IDIOTA!"
"É A ECONOMIA, IDIOTA!"
De acordo com estudo publicado na revista Nature Climate Change e apresentado na COP21, em Paris, as emissões de dióxido de carbono, a partir da queima de combustíveis fósseis, são susceptíveis de terem caído 0,6% em 2015, embora tenham aumentado em torno do mesmo montante em 2014.
Segundo a Professora Corinne Le Quere, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), desde 2000 as emissões globais têm crescido - e o fazem anualmente na média de 2 a 3%. A desaceleração, no entanto, ocorreu enquanto a economia global crescia 3% em 2014 e 2015.
"Estamos esperando uma estagnação das emissões, possivelmente, e até mesmo um pouco de queda. A principal causa é que o uso de carvão diminuiu na China, por conta da reestruturação da sua economia, mas há também contribuição do crescimento muito rápido em energia renovável em todo o mundo, e esta é a parte mais interessante: Podemos realmente crescer com energia renovável suficiente para compensar o carvão? " - disse Corinne Le Quere à BBC News.
A questão levantada pela professora que liderou o estudo é relevante.
Sim, de fato a queda de emissões se deve à adoção de medidas severas de redução do uso do carvão na matriz energética da China, bem como ao crescimento do uso de energias renováveis em vários países.
Por óbvio que a tendência poderá estancar e reverter, na hipótese dos países emergentes retomarem o crescimento econômico - porém, o fato é que há mudanças sensíveis na tecnologia de produção e a crise de valorização de commodities, que está afetando vários países, está justamente vinculada a essa questão.
Há, de fato, uma revolução tecnológica monstruosa conduzindo a transformação da indústria. O destino de matérias primas e o fluxo de materiais nos processos de industrialização sofreu forte transformação, por fatores conexos os mais variados. Essa variação foi acelerada nos últimos 70 anos, objetivando reduzir peso de veículos, naves, aeronaves, máquinas, armas e demais equipamentos, permitindo o transporte, a montagem e o recambiamento.
A eletro intensividade permitiu a fabricação de materiais com menor perda, corrosões, entraves logísticos e impactos ambientais - agregados tradicionalmente aos produtos. Entretanto, com a progressiva internalização de custos socioambientais na atividade econômica, a busca por novos materiais e processos químicos de transformação passou a balizar os setores preocupados em reduzir custos de extração e impactos ambientais decorrentes da eletrointensividade.
Não por outro motivo, minérios ferrosos vêm sofrendo queda significativa na demanda - e o aço está sendo progressivamente substituído pelo carbono.
A eletro intensividade permitiu a fabricação de materiais com menor perda, corrosões, entraves logísticos e impactos ambientais - agregados tradicionalmente aos produtos. Entretanto, com a progressiva internalização de custos socioambientais na atividade econômica, a busca por novos materiais e processos químicos de transformação passou a balizar os setores preocupados em reduzir custos de extração e impactos ambientais decorrentes da eletrointensividade.
Não por outro motivo, minérios ferrosos vêm sofrendo queda significativa na demanda - e o aço está sendo progressivamente substituído pelo carbono.
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| Tabela apresenta a relação de uso e valor dos materiais no século XX |
Por conta disso, o petróleo passa a não mais interessar para uso como combustível e, sim, como matéria nobre na produção de fibra-carbono, dentre outros usos mais sofisticados.
Essa tendência poderá resultar, como de fato já está resultando, em enormes ganhos no controle de emissões de gases de efeito estufa - para muito além das medidas de controle de emissões. Ou seja, o ganho ambiental é pura externalidade.
Mas, a condução da política de transição energética é dependente da geopolítica mundial. Crises bélicas, pandemias e obstruções no fornecimento de insumos, vislumbradas em relatórios de inteligência prospectiva, podem inverter demandas e provocar incremento no uso dos combustíveis fósseis.
Como dizia a campanha de reeleição de Clinton, nos anos 90, "é a economia, idiota!".
ATENÇÃO Á GEOPOLÍTICA
Como dizia a campanha de reeleição de Clinton, nos anos 90, "é a economia, idiota!".
ATENÇÃO Á GEOPOLÍTICA
Por outro lado, há um esforço estratégico mundial para não mais alimentar "Estados Loucos" sustentados por petrodólares. O custo para as democracias e grandes economias é alto demais para compensar a tolerância a desmandos desumanos e rompantes terroristas.
A crise dos gasodutos russo-ucranianos, que afetou a Europa, também serviu de alerta e incentivo à busca de energias nativas produzidas de forma renovável ou mesmo atômica.
O discurso da descarbonização da economia é efetivo. Porém, a descarbonização da matriz energética só será viável se implicar na carbonização dos produtos industrializados.
Outro fator importante é a preocupação dos Estados Nacionais com seus hidrocarbonetos. Por mais que haja uma pressão globalizante pelo controle do uso, os interesses nacionais tendem a prevalecer e devem ser respeitados. O episódio do Equador, em denunciar e rescindir o acordo com a Alemanha de implementar um projeto de REDD+ na floresta existente na superfície de um enorme campo petrolífero, mostra a fragilidade da inserção no mercado de carbono, de mecanismos que afetam a soberania nacional e o planejamento econômico territorial.
Nos EUA, ainda que haja uma enorme ação política do governo OBAMA na direção de acolher as diretrizes do acordo do clima, a Câmara e o Senado não se dobram de forma alguma às mudanças de matrizes energéticas sem que ocorra alguma funcionalidade econômica nisso. É o nacionalismo falando mais alto que a globalização climática.
Assim, há na economia global um movimento gigantesco que em tudo combina com os esforços de controle de emissão de gases de efeito estufa - tal qual protagonizado pelas Nações Unidas - mas não nos moldes do que tem preconizado seus protocolos. Vale, no geral, apenas o que consta estrategicamente na Convenção Quadro de Mudanças Climáticas - CQMC, "sem apertar muito"...
Assim, a COP 21 parece ter performado um "karaokê climático perfeito", dublando uma melodia ditada pelo ritmo da economia, da astrofísica e da geofísica, exógenos a ela.
É tão real essa "dublagem" política executada pelos ditos "climáticos", que os instrumentos públicos de implementação do que seria uma política do clima, simplesmente desapareceram de cena no acordo de Paris.
É tão real essa "dublagem" política executada pelos ditos "climáticos", que os instrumentos públicos de implementação do que seria uma política do clima, simplesmente desapareceram de cena no acordo de Paris.
A Justiça Climática, por exemplo, reivindicada por ambientalistas internacionais, sumiu do mapa das questões tratadas na COP 21. A questão da inclusão social, ainda que mencionada en passant, restou "embutida" na "bolsa-clima" de Paris... et voilá.
Mas, atenção! A variável sombria, previsível para quando chegar a hora dos países desenvolvidos sacarem as canetas para assinar o cheque dos bilhões a serem transferidos, ficará por conta do risco da instituição de um regime tributário mundial - uma espécie de tributo climático a incidir sobre os produtos de exportação dos países obrigados a cumprir com suas metas de redução - que poderá reduzir a competitividade das commodities e concentrar enorme volume financeiro em favor justamente de quem deveria estar incumbido de fazer a transferência do aporte financeiro previsto pelo tratado.
LUVA PARA A INICIATIVA PRIVADA?
Como a confirmar o karaokê no ritmo dos interesses econômicos, a operosa Câmara de Comércio Internacional, que se fez presente nas negociações do clima, e cuja ICC Task Force on Green Economy tive a honra de integrar - apontou o resultado extremamente positivo, e em alguns elementos além das expectativas (por exemplo, abordagens cooperativas), para os negócios globais.
Alguns pontos-chave, do ponto de vista dos negócios privados, devem ser destacados:
- O Acordo de Paris é juridicamente vinculativo e universal, incluindo um quadro de transparência e de medição, relatório, medidas de verificação; nesse sentido as metas de redução de emissões (diferente do Protocolo de Quioto) são tratadas através de compromissos voluntários de 186 países e, não mais, por metas mandatórias por grupos de países;- O pico global das emissões de GEE na segunda metade deste século, traduzindo o alvo abaixo de 2°C abaixo, não só coincide como vai além do resultado pretendido pelo G7 - de "descarbonização da economia mundial ao longo do século XXI". Esta "tradução" é importante para as futuras decisões de investimento empresarial;- Os ajustes econômicos seguirão iNDCs (compromissos nacionais para a UNFCCC - ou de redução de emissões) e outros regulamentos nacionais - que serão paulatinamente adequados e absorvidos pela iniciativa privada;- Período de avaliação de 5 anos comporta as abordagens cooperativas e contabilidade de resultados de mitigação internacionalmente transferidos. Mecanismos para solicitações de desenvolvimento sustentável dos negócios foram tidas em conta e serão integrados ao esforço de estabilização do clima;- Embora os negócios e intervenientes não estatais não estejam diretamente referenciados no preâmbulo, a referência a "vários atores" pode ser interpretada como inclusão das atividades da iniciativa privada, de alguma forma. Negócios continuam incluídos nas decisões preambulares, cartas anteriores, e NAZCA;- A nova meta quantificada, coletiva, de um piso de US $ 100 bilhões por ano para os países em desenvolvimento, a partir de 2020,acordada em Paris, abordará atividades de interesse para a iniciativa privada nesses países, também.
Assim, do ponto de vista comercial, o Acordo de Paris foi "um bom negócio". O tratado não pesou a mão na atividade privada, preservou a transição gradual, já em curso, dos parques industriais ocidentais para os países do oriente e a adoção de sistemas produtivos tecnologicamente mais avançados nos países desenvolvidos.
Também choveu no molhado quanto à transição já em curso das matrizes energéticas para fontes mais limpas e abriu, com a "bolsa-clima" uma perspectiva interessante para o mercado de infraestrutura, banking e agronegócios sustentáveis.
Faltou, no entanto, mais uma vez, ter certeza que EUA e Rússia concordarão com a perda do que resta de seu parque industrial - empregos e poder de gestão nos processos de transformação... Nos EUA, isso independe da vontade dos presidentes, é maior que eles. Na Rússia, dependerá do que vislumbra Putin e Medvedev.
Também choveu no molhado quanto à transição já em curso das matrizes energéticas para fontes mais limpas e abriu, com a "bolsa-clima" uma perspectiva interessante para o mercado de infraestrutura, banking e agronegócios sustentáveis.
Faltou, no entanto, mais uma vez, ter certeza que EUA e Rússia concordarão com a perda do que resta de seu parque industrial - empregos e poder de gestão nos processos de transformação... Nos EUA, isso independe da vontade dos presidentes, é maior que eles. Na Rússia, dependerá do que vislumbra Putin e Medvedev.
Já a Europa sofrerá com a manutenção do seu próprio agronegócio - cujo engajamento na agenda 2030 poderá destruir o que resta de competitividade com o continente americano.
Índia e China também despontam como atores importantes, como também importantes se tornam suas emissões - ainda em grande parte proveniente do carvão.
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| Um quadro-explicativo do Acordo de Paris, apelidado de Acordo-Termostato, pelas razões óbvias nele contidas... |
BRINCANDO DE DEUS
O relatório do IPCC - Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, órgão que informa cientificamente a Conferência - é o "termômetro" do termostato diplomático plantado no Acordo de Paris.
As conclusões traduzidas no acordo climático partem da premissa desenvolvida pelo relatório do IPCC - um silogismo desenvolvido em duas fases:
A primeira, baseada em demonstrações factuais, afirma que o aquecimento global hoje experimentado é fato sem precedentes na história do planeta. A partir dessa constatação, sendo o ser humano o diferencial geológico constante no ineditismo das variações, conclui que as emissões de gases de efeito estufa (GEE), ocasionadas por ação humana, são a causa do fenômeno.
A segunda atesta o óbvio - que as alterações do clima já estão provocando impactos significativos no ambiente, como o aumento do nível do mar, acidez dos oceanos, redução da extensão e espessura do gelo nos polos. E o relatório usa o fato para incriminar a ação humana, sem dar chance às ponderações científicas discordantes. Verdadeiro efeito manada...
A primeira, baseada em demonstrações factuais, afirma que o aquecimento global hoje experimentado é fato sem precedentes na história do planeta. A partir dessa constatação, sendo o ser humano o diferencial geológico constante no ineditismo das variações, conclui que as emissões de gases de efeito estufa (GEE), ocasionadas por ação humana, são a causa do fenômeno.
A segunda atesta o óbvio - que as alterações do clima já estão provocando impactos significativos no ambiente, como o aumento do nível do mar, acidez dos oceanos, redução da extensão e espessura do gelo nos polos. E o relatório usa o fato para incriminar a ação humana, sem dar chance às ponderações científicas discordantes. Verdadeiro efeito manada...
Assim, tais alterações, segundo o relatório, se refletem no ambiente humano, causando perdas econômicas de magnitude, redução da produtividade agrícola e danos à infraestrutura, ocasionados por extremos de chuva e seca.
O IPCC alerta, então, que esses impactos irão se agravar se a temperatura média do planeta aumentar nas próximas décadas, "caso não tenhamos sucesso em reduzir drasticamente as emissões de GEE".
Verdades materiais que suplantam o silogismo forçado. A verdade é que essa distorção pretensiosa levou à conclusão quixotesca do Acordo de Paris: que o próprio ser humano pode deter, refrear ou mitigar, de forma efetiva e unilateral, o processo de alterações climáticas que hoje ocorre em larguíssima escala no planeta e, também, segue ciclos e processos próprios - como aliás reconhece o preambulo do próprio Tratado Quadro.
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| Vaidade humana também contribui para a tragédia do clima... |
Imodesto na sua essência, o Relatório do IPCC, que já apelidei de "Biquíni", abriga a impressionante vaidade de seus membros, reproduzida pelos agentes políticos encarregados de fechar um acordo - qualquer um que fosse, na COP 21 de Paris.
Fizeram-no a qualquer custo, na base do termômetro, do ventilador e do ar condicionado de papel, sobre a superfície do planeta.
Construiu-se um consenso de mea culpa... lotado de meias culpas, que conduz os esforços globais para mitigações comprometedoras da economia, obstaculizadoras do desenvolvimento dos países em transição e... capazes de cristalizar o eurocentrismo e a hegemonia asiática.
O QUE IMPORTA É PROTEGER A POPULAÇÃO
O QUE IMPORTA É PROTEGER A POPULAÇÃO
Por conta disso, o "primo pobre" das mudanças climáticas - aquele que realmente importa, mais uma vez apareceu apenas como aceno de alarme no horizonte: as medidas estruturantes de adaptação, de defesa civil e de reestruturação dos padrões de permissão para a agricultura - para proteger preventivamente as populações e garantir a produção de alimentos nos tempos difíceis que virão.
Não que isso não esteja ali. Está no bojo do apoio de 100 Bi, da Bolsa-Clima aos países mais fragilizados e emergentes. Porém, ainda não se tornou o urgente alvo da articulação internacional no bojo da Convenção do Clima da ONU.
A questão é que no bojo do jactancioso relatório, salta aos olhos o esforço mental, inconfessável, misto de vaidade intelectual e ativismo biocêntrico, de conferir ao Homem um protagonismo de proporções tiranossáuricas, como se pudesse o ser humano traçar uma nova era geológica no planeta. **
Não poderia ser pior que isso. O Acordo de Paris confere ao ser humano a capacidade de acionar um sistema de "ar condicionado" sobre nosso planeta...
Não se tenha dúvida. Isso irá relegar para um outro tardio momento, aquilo que DEVEMOS fazer: reduzir de fato nossas próprias emissões.
O Acordo está priorizando uma fantasia ideológica. A possibilidade de, conforme o humor dos governantes a sul e a norte do planeta, esse acordo vir a ser desmoralizado, é enorme. Ao contrário do ovo de Colombo, o termostato de papel... não para em pé.
Não se tenha dúvida. Isso irá relegar para um outro tardio momento, aquilo que DEVEMOS fazer: reduzir de fato nossas próprias emissões.
O Acordo está priorizando uma fantasia ideológica. A possibilidade de, conforme o humor dos governantes a sul e a norte do planeta, esse acordo vir a ser desmoralizado, é enorme. Ao contrário do ovo de Colombo, o termostato de papel... não para em pé.
Notas:
*- PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, "MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE BIQUÍNI - O maior inimigo do IPCC - Painel Intergovernamental Para Mudanças Climáticas é a soberba ...e a tentação de se tornar 'fashion' ", in Blog "The Eagle View", visto em 12Dez2015, in http://www.theeagleview.com.br/2014/04/mudancas-climaticas-de-biquini.html
**- PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, "PERÍODO ANTROPOCENO ? SERIAM OS HUMANOS DEUSES OU DINOSSAUROS? - Por mais que possamos impactar a geomorfologia do planeta, ainda somos fruto das circunstâncias geológicas e climáticas e, não, protagonistas determinantes", in Blog "TheEagleView", visto em 12Dez.2015, in https://www.theeagleview.com.br/2013/02/periodo-antropoceno-seriam-os-humanos.html
**- PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, "PERÍODO ANTROPOCENO ? SERIAM OS HUMANOS DEUSES OU DINOSSAUROS? - Por mais que possamos impactar a geomorfologia do planeta, ainda somos fruto das circunstâncias geológicas e climáticas e, não, protagonistas determinantes", in Blog "TheEagleView", visto em 12Dez.2015, in https://www.theeagleview.com.br/2013/02/periodo-antropoceno-seriam-os-humanos.html
Referências:
1- http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/entenda-a-cop-21-e-as-disputas-em-jogo-5188.html
2- http://www.bbc.com/news/science-environment-35029962
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados e Diretor da AICA - Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.
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Com a saída dos EUA, do Acordo de Paris, inicia-se uma leva de abandonos por parte de players importantes, como é o caso dos principais Bancos, o Federal Reserve e de outros países importantes, como a Argentina. De fato, o artigo, escrito há quase dez anos, está mais atual que nunca.
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