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terça-feira, 21 de abril de 2020

O OCASO DA RAZÃO

 As redes sociais estão poluídas pelo  ódio produzido por um grupo que conspira contra a democracia 




Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


Uma coisa é certa. Há quem dialogue, há quem pondere e há quem duvide. Assim deve ser o raciocínio ante uma afirmação, além do ato de concordar, óbvio.

O problema ocorre quando a afirmação torna-se ostensiva e reiterada, e passa a conter invectivas que impedem o diálogo, inibem a ponderação e agridem qualquer discordância. Nessa hipótese, saímos da razão para entrar no mundo das certezas absolutas - recalcadas e repletas de intolerância.

Nesse mundo das sombras que reagem,  pensar é crime.


A luta, o poder e a metamorfose 

Foi contra esse mundo orwelliano, dominado pelo "ministério da verdade" lulopetista e submetido ao "duplipensar" da "novilíngua" dilmista, que resolvemos organizar os grupos nas redes sociais de intercomunicação. 

Esses grupos se tornaram focos de resistência à ditadura intelectual lulista, esquerdopata, que nos tolhia na mídia tradicional, nas academias e até mesmo nas páginas de perfis e redes sociais, abertas ao público.

Com essa mobilização crescemos e vencemos a imprensa mainstream, a mídia oficial do establishment, as organizações partidárias, a censura acadêmica e todo o sistema de repressão ao pensamento discordante, montado nos meios de comunicação convencionais.

Assim, e com base principalmente nessa articulação digital, descobrimos que não estávamos sós e isolados - na verdade eramos uma grande e até então silenciada maioria. 

Então elegemos um novo presidente, Jair Bolsonaro, sem vínculos com o que ali estava e sem qualquer base partidária;  lhe demos uma e renovamos os quadros nos executivos e legislativos estaduais.

Sabíamos que não deveríamos de forma alguma nos desmobilizar, pois a barragem de artilharia do inimigo iria voltar e se repetir em ondas. Afinal, o establishment não havia sido destruído, continuava vivo, entranhado no deep state e sustentado pelo globalismo financeiro.

A batalha, sabíamos, seria  ainda mais dura e renhida. 

Porém, não contávamos de forma alguma com a metamorfose que viria a ocorrer ás nossas costas, no seio do governo que elegemos e estávamos a  defender. 

O governo eleito por nós, passou a sofrer uma metamorfose, uma "síndrome de Janus", provocando uma cisão profunda na base partidária. Ele desenvolveu  um segundo rosto, sombrio e psicótico, a partir da sua cúpula.  


Há uma explicação: 

Elegemos verdadeiros liberais, bons cidadãos cosmopolitas, líderes conservadores e quadros soberanistas. Bravos lutadores pela liberdade, acostumados ao debate democrático e ao combate das ideias.  

Porém, também elegemos e empoderamos bajuladores, carreiristas, oportunistas, neonazistas e obscurantistas de toda ordem - gente tosca e interessada em reproduzir o mais rastaquera populismo de direita - como um espelho reflexo do populismo esquerdista que acabávamos de por a pique.   

A banda tosca logo se revelou, tornando mais fácil descartá-la ou manter sob observação crítica. Mas os demais... neonazistas e obscurantistas, entranharam-se nas mídias sociais e construíram pontes obscuras com o poder instalado, fazendo nelas transitar os vírus da intriga, da conspiração e da desconfiança, que contaminaram o chamado núcleo ideológico no entorno do presidente, que revelou baixa imunidade à pirâmide da arrogância instalada no poder.

Esse núcleo é um organismo adoecido pelo trauma da perseguição. Os agentes das sombras ali se instalaram - nas entranhas da pirâmide da arrogância e, de lá, trataram primeiro de direcionar suas baterias para destruir aliados que lhes pareciam imunes á bajulação incondicional e que não se deixavam levar pela balela da gestão movida a confrontos.  Estes logo foram apelidados de isentões, e traíras - sofrendo desgaste junto ao Presidente da República a ponto de serem defenestrados da convivência com o poder. 

Seguro da situação, o grupo passou a se dedicar a outras duas tarefas tenebrosas:
A- poluir e saturar as redes sociais com todo tipo de desinformação, indignidades e afirmações chulas... até que a ignorância nelas se instalasse como regra; e 
B- destruir qualquer crença possível nas instituições da República, desacreditar a política como um meio e a justiça como um fim, de forma  a sobrar apenas o menoscabo.
O objetivo estratégico dessa articulação digital obscura é, paradoxalmente claro e evidente: gerar o conforto da certeza na ignorância, montar as bases para um golpe de estado e instalar no país um regime totalitário, nos moldes do velho fascismo. 


Orwell e o  IV Reich

Parece haver uma articulação internacional, orientando populistas de direita liderados por Trump, na mesma direção. Um novo eixo, um IV Reich...

Por óbvio que a articulação, para ter algum sucesso, envolve um arco de ações e mobilizações muito maior  e complexo. Tem vinculação direta com o movimento Alt Right e a CPAC trumpista, norte-americana - que reúne nazistas de toda ordem e gente ensandecida pelo ódio racial, social, cultural e sexual. 

Mas, essa ação localizada nas redes sociais, na mídia digital,  já sofre avanços e recuos dissimulados, ao sabor da militância virtual que promove uma coreografia idiossincrática com as hostes do governo e sua base parlamentar, ao sabor do (ou contando com o) comportamento explosivo do próprio presidente. 

De fato, esse grupo faz a cabeça do presidente, estimula desentendimento entre auxiliares e  cultiva um ambiente de cinismo - tudo isso em meio a uma distribuição de insultos em escala robótica, inerente a gente desprovida de características humanas.

O interessante é que essa corja obscurantista estimula o ódio sistemático como ferramenta de exclusão e forma de doutrinação. 

É fácil observar o método pela vulgarização de termos chulos dirigidos aos "traidores" do dia, aos "vagabundos" da semana e aos "inimigos" do mês - tudo metralhado com munição digital fornecida à vontade pelos robôs cibernéticos e humanos, que distribuem as infâmias sem pestanejar - poluindo o ambiente virtual até não sobrar uma nesga de diálogo.

Seguem o padrão estabelecido por Dunning-Kruger, de que a ignorância em rebanho provoca no indivíduo uma sensação de segurança, levando-o a reagir a qualquer processo que o obrigue a raciocinar. 

A infâmia sistematizada tem sido de tal ordem, que as administrações de Youtube, Twitter, Facebook, LinkedIn,  Instagram e WhatsApp, sabidamente orientadas para uma visão globalista, legitimaram seus mecanismos de censura e trataram de construir meios de identificar e reprimir o tráfego do que é produzido pelas equipes dessa "seita" neonazista, tão irresponsável quanto determinada.

Esse fenômeno gerou três paradoxos: 
1- "justificou" o monitoramento e a censura no tráfego de informações em redes sociais - que todos nós combatíamos por justamente denunciarmos o direcionamento ideológico desta fiscalização;
2- incorporou totalmente o sistema canalha de blogs sujos e de destruição de reputações, que era mantido pela esquerda lulopetista - hoje bastante enfraquecida - e cujos malefícios justamente nos incentivaram a nos organizar em redes sociais, para buscar uma defesa moral face à poluição proselitista nas infovias; e 
3- conseguiu dar ares de legitimidade ao abjeto "inquérito 4781/2019, promovido com o inconfessável propósito de promover censura contra páginas jornalísticas que publicaram matérias que atingiam a figura de ministros da côrte e, hoje, transformado em cruzada contra geradores de fake news e propagandeadores do golpismo nas redes sociais.

Ou seja, dando um passo atrás, para ver todo o quadro, constatamos que o Ministério da Verdade orwelliano não caiu - apenas mudou de gerente. 

O duplipensar populista  metamorfoseou do "Lula Livre" para o "Mito", atraindo todo tipo de disfunção para a órbita do novo asteroide. 


O Capitão Cloroquina

Com toda a certeza, não foi para isso que nos mobilizamos e elegemos Jair Bolsonaro...

Mas o fenômeno obscurantista está chegando ao seu ponto crítico. Com a pandemia da Covid-19, e a crise de isolamento social, algumas características desse movimento infame foram ganhando moldes que fariam corar George Orwell.  Senão vejamos:

Como no romance "1984",  os obscurantistas - que formam o chamado "gabinete do ódio" bolsonarista, elegeram também a sua "eurásia" - reinventando a Guerra Fria / para fazer surgir no firmamento de seu horizonte estreito um comunismo virulento e comedor de criancinhas, responsável pela pandemia. 

O coronavírus logo foi apelidado de "vírus chinês" - não para que com isso se fosse buscar alguma responsabilização internacional, mas para aplicar o "duplipensar" - vinculando quem busca seguir os preceitos da Organização Mundial da Saúde, para combater a pandemia, ao "comunismo chinês", e taxar como "comunistas" as medidas de prevenção, adicionando que a quarentena era um expediente maléfico contra o governo bolsonaro. 

Então, veio a cereja do bolo: Bolsonaro havia encontrado a cura pela "cloroquina"... e os protocolos médicos que já afirmavam ser essa substância um dos elementos do coquetel de tratamento da doença, passaram a ser acusados de estimular "fake news" para obscurecer a iluminação do líder.  

Essa confusão mental bolsonarista  é tão útil como foram os petistas e seu "lula livre",  para estigmatizar qualquer um que ouse pensar diferente.  

A luta contra o coronavírus também serviu para reeditar a campanha da "revolta da vacina", que praticamente tirou a saúde de Oswaldo Cruz e vários outros sanitaristas do início do século XX. 

A novilíngua do gabinete do ódio vinculou a simples aceitação da pandemia com a supressão da liberdade das pessoas, gerando uma campanha de desobediência civil mortal, tal qual aquela iniciada no Rio de Janeiro contra a vacinação em massa para combater a Febre Amarela.   

Então, os resultados benéficos - como a redução do número de mortos, passam a ser computados como "vitória de Bolsonaro contra a mentira da pandemia"... enquanto os resultados ruins, como os picos da contaminação - foram e são taxados como mentiras fabricadas.  No meio dessa confusão mental e doentia, a reputação ilibada de médicos que são referência internacional passa a ser moída por memes e notícias falsas de fazer Pinóquio perder o nariz. 

Mas a campanha contra o "vírus chinês", necessita destruir de fato a economia, e assim, a campanha de ódio se volta contra a exportação de alimentos para a China e a importação de produtos da China - contra quem atua no ramo e quem administra no governo esse comércio (que é essencial ao país).  

Observamos, agora, nos estertores da pandemia, como em qualquer círculo do mal, a destruição de reputações promovida pelos obscurantistas voltar a corroer o próprio governo - como era no início.  

O alvo agora são os núcleos de excelência da Administração - pois o objetivo é que NADA FUNCIONE. 


O caos é o ideal

Assim, anotem: depois da saúde, os alvos serão a Agricultura, a Energia, a Economia e a Justiça...

Há um dado lamentável nisso tudo. O comportamento tíbio do presidente ajuda os obscurantistas, embora haja um esforço sobre humano do governo continuar a governar "apesar" do comportamento idiossincrático do mandatário.

Enquanto isso, de crise em crise, as redes sociais mergulham no lixo da difamação, da maledicência, da ironia, do patrulhamento e da intolerância.  Afinal, isso é parte da conspiração totalitária.

Terrível ironia. 

Passamos toda a campanha eleitoral e o primeiro ano de governo Bolsonaro, analisando positivamente a performance das mídias digitais contra o establishment, e apontando as redes sociais como novo mecanismo democrático. 

Hoje, clamamos para que sejam desinfetadas urgentemente, pois contaminadas pela pandemia do totalitarismo... em especial o bolsonarista.

Mas, isso não irá longe. Essa conspurcação suja os próprios conspiradores, que no caminho já se revelam. 

Assim, é questão de tempo. Retomaremos o rumo certo das reformas e dispensaremos na primeira fossa essa carga de gente odiosa que nos cerca digitalmente.

Esperamos que o governo trate de ser o primeiro a sofrer essa depuração, em nome da governabilidade.

Quanto às redes, aos poucos, os que pensam, se reorganizam e se protegem, e tornarão a determinar as mudanças que se façam necessárias.

É questão de tempo.






Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados.  Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API.  É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View". Foi integrante da equipe que elaborou o plano de transição da gestão ambiental para o governo Bolsonaro.



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