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quinta-feira, 23 de abril de 2020

A SÍNDROME DE JANUS NO GOVERNO BOLSONARO

É necessário, o quanto antes, remover a face proselitista, que só atrapalha, para que a face da governabilidade possa vingar no rosto do governo





Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro


O Brasil é um país polifacetado, governado por uma gestão de duas faces: uma que governa, outra que gera crises. Possuímos um governo acometido pela "Síndrome de Janus". 

Janus é um deus romano protetor dos inícios e das escolhas, ele é representado por uma figura masculina cuja cabeça possui dois rostos, voltados para direções opostas, uma cabeça com duas faces: a que olha para o passado, a que vislumbra o futuro, a que observa os erros, a que enxerga os acertos, a que vislumbra o certo, a que mira o errado.

A Síndrome de Janus afeta a cúpula governamental e tem origem no presidente Bolsonaro - seu comportamento bipolar e sua visão dicotômica de mundo. Essa disfunção comportamental afeta a imagem do governo e do próprio Brasil no exterior. 

O comportamento dicotômico suga energias, distorce as ações do executivo, pode inviabilizar a governança e jogar a Nação em uma crise a médio prazo. 

As duas caras do governo Bolsonaro geram realidades paralelas, para gaudio dos idiotas populistas e alívio dos que trabalham de fato pelo Brasil. 

Em política, as paralelas em perspectiva saem do desenho e terminam colidindo de fato no horizonte. Algum desastre ocorrerá, se não houver a supressão do rosto falastrão e gerador de crises. 

É necessário o quanto antes remover a face proselitista do governo, para que a face da governabilidade, bem sucedida, possa de fato vingar como o rosto da governança. 

Sobre isso fui entrevistado pelo jornalista Arnaldo Risemberg para a Rádio Sputnik - Brasil. A Rádio Sputnik é mídia da agência russa internacional de notícias Rossyia Segodnya (Rússia Hoje) - antiga Voz de Moscou,  sediada na capital russa e direcionada ao Brasil. 




Infelizmente, a gravação já não está disponível.


Um fenômeno perigoso

Essa bipolaridade  é sentida internacionalmente. 

A cada dia que passa aumentam denúncias no exterior contra o governo do Presidente Jair Bolsonaro. Os ataques ao mandatário da Nação têm por fundamento suas falas e atitudes diante da pandemia da COVID-19, os desencontros e pronunciamentos vazios no controle do desmatamento, das queimadas e do gerenciamento ambiental no território brasileiro. Esses ataques transcendem os protestos de Ongs - abrangem grandes corporações financeiras e empresariais, conferências internacionais, ONU e até o tribunal internacional penal.

O namoro do proselitismo bolsonarista com o neofascismo internacional também não passa despercebido.

A avalanche de denuncias, no entanto, camufla o comportamento de "Duas caras", que gera as disfunções denunciadas -  a "Síndrome de Janus" que acomete o mandatário e seu governo.  

Há dois governos Bolsonaro.   

O primeiro de fato governa a economia, a agricultura, o abastecimento, as exportações e a infraestrutura do país - e governa bem. Está estruturado a partir de um gabinete da presidência que age colegiadamente, coordenado pelo Chefe da Casa Civil, composto dos ministros militares que ocupam as secretarias de governo, assuntos estratégicos, segurança institucional e o ministério da defesa. Esse gabinete conta ainda com o apoio do Vice-Presidente, General Mourão, que tem se ocupado também do território amazônico - vitimado pela ação desagregadora sobre a gestão ambiental encetada no Ministério do Meio Ambiente. 

Escalado pelo próprio presidente no início deste ano de 2020, esse gabinete faz a máquina do governo funcionar, gerencia os conflitos institucionais e toca as reformas necessárias à modernização do Estado e à manutenção da governabilidade.  Nesse mister, o núcleo conta com a ação firme das áreas de infraestrutura, saneamento, energia, agricultura e economia (ainda que divergências naturalmente ocorram). 

O segundo governo Bolsonaro é o rosto midiático do próprio presidente, e está enredado numa contínua campanha eleitoral. Promove ações de cunho proselitista, abusa das bravatas e pratica uma agressiva política de enfrentamento.  Todos os dias, esse rosto procura um inimigo para malhar como judas na Semana Santa, provoca agitações, estimula suas hostes a promoverem o confronto, arma campanhas de destruição sistemática de reputações e convive com todo tipo de atitude descrente e mesmo hostil ao regime democrático, à civilidade, à sustentabilidade ambiental e à saúde do brasileiro comum.  Esse segundo rosto, quando busca a "governança", o faz com descarado fisiologismo, usando como moeda de troca todas as promessas de campanha que legitimariam o governo.

Esse segundo rosto é estimulado por grupos de comunicadores de redes sociais que destroem os próprios aliados, na primeira discordância. Não somam, dividem e criam rancores.

Essa bipolaridade se reflete no comportamento grosseiro dos intolerantes e, ironicamente, estimula o acúmulo de denúncias de entidades e organismos internacionais, numa simbiose sinistra.   

As linhas de ataque ao governo,  também terminam se dividindo. 

De um lado, há questionamentos legítimos, advindos do profundo desconforto causado pelos atos e atitudes governamentais. Protestos em defesa de valores vulnerados pelo proselitismo muitas vezes inconsequente dos bolsonaristas, campanhas relacionadas á defesa da sustentabilidade do planeta, do combate às pandemias e do enfrentamento às mudanças climáticas. 

Porém, também há um evidente oportunismo globalista, que procura usar a crise de imagem do bolsonarismo para desacreditar e atacar a linha soberanista adotada pela governança desde o primeiro dia.  

Ciente dessa dualidade de intenções, o rosto proselitista do governo denuncia o oportunismo globalista, mas o faz como pretexto para lançar bravatas contra os demais, que se preocupam legitimamente com o rumo das coisas, e a reação gera ainda maior desconforto. A imagem do governo fica  mais comprometida e transmite ao mundo uma visão negativa, que obscurece o que se faz de bom e salutar - como  a redução sensível da corrupção, a ação estruturante e a busca das reformas.

A crise é agravada pela  impressionante falha na comunicação institucional do governo. Ela ocorre em função dessa síndrome, um festival de sinais trocados que reduz a credibilidade do governo junto à opinião pública e fideliza o gado populista.

Como no conto da Roupa do Rei. O rosto proselitista só tem olhos para o espelho que o bajula. Com isso, depura seu discurso para um público de iniciados, como numa seita. Essa depuração pode em um primeiro momento mobilizar bases em grande número. Porém, na ocasional sucessão de crises, a falha de comunicação deixará o mandatário literalmente nu. 


Exemplos sintomáticos

A face proselitista do Janus governamental,  parece querer esticar a corda até o rompimento com o maior parceiro comercial do Brasil, que é a China - e isso parece ter método. 

O resultado poderá ser surpreendentemente desestimulante para a economia. Os chineses buscarão alternativas às nossas exportações. 

Sérgio Moro, tornou-se o alvo fácil para as hostes bolsonaristas -  e isso poderá ter efeito deletério para operações como a Lava Jato, comprometendo o Brasil no combate á corrupção. 

Outros importantes ministros poderão sofrer o mesmo bullying covarde, estimulado pela face bravateira do mandatário, e os resultados poderão afetar programas importantes, localizados na face justa e responsável da governança. 

As ações proselitistas levadas a cabo pelo presidente e sua entourage geram insegurança.  Essa notória fraqueza - homiziada na bravata, faz o governo se afastar da tecnocracia, resvalando para o mais raso fisiologismo, em questão de meses. 

É hora, portanto, de se proceder a uma dura correção dessa disfunção. 

O rosto proselitista deve ser arrancado, para que o real possa governar, terminando, assim, com a síndrome de Janus. 

Que o governo siga adiante, sob o comando da governança - com a colaboração das instituições permanentes da República e dentro da mais transparente ordem democrática, com efetividade e eficácia. 

Com ou sem síndrome, o governo é maior que o dirigente de plantão e suas idiossincrasias,  o projeto que elegeu o governo é maior que este,  a República é maior que o governo e seu projeto, e a República representa o Brasil, cuja verve democrática é indissociável.




Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados.  Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API.  É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View". Integrou a equipe que elaborou o plano de transição da gestão ambiental para o governo Bolsonaro.





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Um comentário:

  1. Fernando, vc foi gentil demais em invocar Juno. Em verdade,deveria buscar na psiquiatria o termo que melhor identifica o governo de jb, que é a bipolaridade de ciclagem rápida. Bolsonaro nitidamente tem problemas psiquiátricos graves, além de ser um limítrofe intelectual. Isso para não irmos para o lado da psicopatia social.
    Não bastando uma PANDEMIA e todos os problemas que já temos, este infeliz não pàra de causar problemas. O Brasil meu caro, está à deriva. Vc vai ter que desembarcar desta roubada🤦

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